Evolução da agenda ESG: da mitigação à regeneração
Luciana Nicola, do Itaú, Eliane dos Santos, da Natura, e Daniela Mignani, do CEBDS, comentaram sobre como essa agenda tem evoluído em meio as discussões corporativas

Luciana Nicola, do Itaú, Eliane dos Santos, da Natura, e Daniela Mignani, do CEBDS (Crédito: Edu Lopes/Máquina da Foto)
A agenda ESG no Brasil tem caminhado de um lugar de mitigação de efeitos da crise climática para ações de preservação e regeneração. “Saímos de uma era de dano para uma era de gerar impacto positivo, mas precisamos dar novos saltos”, alertou a gerente de linguagem e cultura para sustentabilidade Latam da Natura, Eliane dos Santos.
Regeneração, inclusive, é o foco da visão de futuro da Natura para 2050, lançada em julho deste ano. A atuação direta no bioma amazônico, a gestão de resíduos e a redução de emissões de carbono, com a meta de zera as emissões líquidas próprias até 2030, fazem parte dessa estratégia. “Regeneração é o próximo salto e precisamos começar a caminhar, dar novos saltos para, de fato, construir uma nova forma de operar negócios”, frisou a executiva.
Outra empresa que atualizou suas metas da ESG recentemente é o Itaú. O banco, que, em 2021, tinha estabelecido uma meta de conceder R$ 400 bilhões para projetos sustentáveis até 2025, atualizou esse objetivo no final do ano passado, quando anunciou que pretende chegar a R$ 1 trilhão até 2030.
Ao revistar sua estratégia de ESG, Luciana Nicola, diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Itaú Unibanco, revelou que o banco definiu três grandes pilares de atuação: transição climática, financiamento sustentável com meta de R$ 1 trilhão na década, e desenvolvimento e diversidade focado no aspecto social e de empreendedorismo.
Assim como Eliane, para Luciana, a regeneração é o caminho. Um exemplo de iniciativa do banco voltada a esse objetivo é o programa Reverte, implementado em 2021, em parceria com a Syngenta, cuja missão é recuperar áreas degradadas e transformar em áreas agricultáveis.
Estágios diferentes de maturidade
Como diretora-executiva corporativa do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) – que atualmente representa 120 grandes empresas brasileiras de 22 setores diferentes – Daniela Mignani destacou as companhias brasileiras estão em estágios de maturidade muito distintos quando se trata do tema ESG. No entanto, para a executiva o que as unem é a intencionalidade de cumprir essa jornada. “Tem uma troca muito grande entre todas as empresas”, frisou.
Essa intencionalidade, inclusive, pode ser impulsionada a partir de 10 de novembro, com a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém do Pará.
Assim como aconteceu em 1992, na Rio 92, o evento pode ser a chance de colocar o Brasil novamente na vitrine global como líder em soluções climáticas, na visão de Daniela, demonstrando não apenas ideias, mas soluções implantadas e mensuradas pelo setor corporativo.
“A COP30 é uma grande oportunidade de começarmos a mostrar para todo mundo que o clima e a natureza impacta todo mundo”, complementou Luciana. A executiva, inclusive, frisou que a comunicação sobre esse impacto ainda é falha no Brasil. “Hoje, não temos o consumidor muito consciente nessa agenda, porque comunicamos mal o impacto disso”, reforçou.

Itaú fala sobre agenda climática em campanha
Neste sentido, visando reforçar sua comunicação sobre sua agenda climática, o Itaú estreou recentemente, durante o Jornal Nacional, a campanha “Todos a Bordo”, criada pela Africa, que acompanha Tamara Klink em sua expedição pela Passagem Noroeste, no Ártico, que só foi possível por conta das mudanças climáticas, por ser um trecho que teve total descongelamento.
Eliane também destacou que há, sim, uma maior consciência do consumidor em relação às questões climáticas, mas que isso ainda não se traduz em driver de compra. “O processo de educação para agenda climática é contínuo também para esse consumidor”, argumentou a gerente, ressaltando que coerência e consistência transformam a diferenciação em driver de compra.
Além disso, as especialistas concordam que a discussão sobre a agenda ESG deve perpassar diversos setores tanto internos quanto externos às organizações. Daniela, inclusive, pontuou a importância de trazer os CFOs, ou seja, os diretores financeiros, e os CMOS, diretores de marketing, para a conversa. “Hoje, precisamos mobilizar os CFOs, porque uma das grandes travas na agenda é o financiamento climático”, complementou.