Globo aposta na coletividade para tracionar agenda ambiental
Maurício Gonzalez, diretor do Centro de Serviços Compartilhados da Globo, detalha desafios e metas ambientais da emissora e explica esforços em coletivizar a agenda interna e externamente
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Giovana Oréfice
22 de maio de 2025 - 6h01
No final de abril, a Globo apresentou o Relatório ESG referente ao ano de 2024 – o quarto desde que lançou a Jornada ESG, em 2022, e aderiu ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste ano, a emissora realizou uma revisão dos 30 temas materiais relatadas em reportes anteriores a fim de tornar a materialidade mais estratégica e alinhada com as boas práticas do mercado, conforme apontado no documento.
O resultado foi uma repriorização e reorganização em 15 temas materiais distribuídos nos seis compromissos: impacto social do conteúdo; diversidade e inclusão; desenvolvimento e bem-estar dos colaboradores; biodiversidade e consciência ambiental; governança transparente e responsável; e educação como vetor de transformação do país, respectivamente.
Maurício Gonzalez, diretor do Centro de Serviços Compartilhados da Globo: “Essa agenda não pode ser de um dono e de uma área” (Crédito: Divulgação)
Maurício Gonzalez, diretor do Centro de Serviços Compartilhados da Globo, está à frente do compromisso de número 4, o da biodiversidade e consciência ambiental, e, em entrevista ao Meio & Mensagem, reforçou a crença da companhia em estimular a coletividade em prol da sustentabilidade.
Uma das metas da Globo é de ser uma empresa Aterro Zero até 2030, atingida em 14,6% no ano passado. Entre as ações está o Programa de Embaixadores da Economia Circular, iniciativa interna em que 250 colaboradores buscam maneiras de reaproveitar materiais nas operações da emissora. A Globo é uma signatária do Movimento Conexão Circular do Pacto Global da ONU no Brasil.
Demais iniciativas relacionadas ao ESG de forma geral incluem o Programa Parceiros de Excelência, que reconhece fornecedores que atingem a nota máxima nos indicadores desenvolvidos pela empresa. Em uma jornada de médio prazo, aponta o executivo, esse será um pré requisito de contratação da Globo, que já vem apostando em trabalhos de aculturamento e alinhamento voltado para a temática junto aos stakeholders.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Gonzalez comenta os desafios e metas ambientais da companhia, além de detalhar os esforços em potencializar a agenda por meio do esforço coletivo entre todas as partes envolvidas.
“Fizemos uma reavaliação muito mais voltada para uma reflexão interna. Quando fizemos o trabalho da construção da nossa matriz de materialidade, envolvemos efetivamente os acionistas, anunciantes, público interno, e essa matriz, como sendo a primeira que a gente construiu, acabou sendo muito detalhada. A partir dessa jornada, entendemos que seria importante fazer uma revisão e uma consolidação dos temas efetivamente mais relevantes. Foi uma discussão interna, não fizemos uma escuta ao mercado, etc. Isso provavelmente vai acontecer em um curto prazo. Essa matriz de materialidade é o que nos guia do ponto de vista de priorização, trabalho interno, relacionamento com mercado. Entre a matriz anterior e a atual, na verdade, fizemos alguns reposicionamentos de consolidação de temas. Não teve uma mudança de direcionamento, foi uma definição de focos em cima de uma matriz já existente”.
“Tomamos essa decisão no início da organização da agenda ESG na Globo. O compromisso da Globo com esses temas é um compromisso histórico, mas resolvemos fazer uma organização do tema até para poder melhor enumerar e reportar as nossas iniciativas, compromissos e metas. Tomamos uma decisão de não ter uma estrutura específica de diretoria de ESG ou qualquer coisa do tipo. Por quê? Na nossa reflexão, acreditamos muito no poder do coletivo. Na medida em que temos essa organização descentralizada, passamos a ter uma possibilidade de ter muito mais força no que se refere às ações e aos objetivos a partir dos grupos. Além de eu ser o líder do compromisso 4, o ambiental, é na minha estrutura que fazemos a governança do programa ESG, cuidando da questão dos indicadores e metas. Isso é muito interessante, porque cada vez mais observamos ao longo dessa jornada que o movimento se propaga e vai ganhando mais força internamente. Esse é um dos principais desafios. Essa agenda não pode ser de um dono e de uma área. Essa é nossa crença. Pelo tipo de empresa que a Globo é e naquilo em que acreditamos, entendemos que isso tem que ser realmente uma um exercício coletivo”.
“Considerando as emissões de 2024, já atingimos 23% de redução. E temos uma meta intermediária de 15% para 2026. Mas temos um desafio ainda a percorrer. Sem dúvida alguma, o escopo 3 é um grande desafio. A Globo é uma empresa que viaja, esse é um dos principais ofensores. Temos trabalhado muito em uma consciência interna, incentivamos muito fortemente as reuniões online para evitar o deslocamento. Lógico que há situações em que o presencial é importante. No escopo 2, por exemplo, na questão de energia, estamos praticamente zerados, porque temos quase 100% da nossa energia já de fontes renováveis. No escopo 1 das emissões diretas, também temos buscado reduções importantes no que diz respeito aos gases de refrigeração. O escopo 3 é um desafio da indústria como um todo, pois depende de outros fatores e muito do nível de produção da empresa. Mas, voltando para a questão da consciência do coletivo, na medida em que temos essa consciência madura, as iniciativas que temos para mitigar a questão das emissões entram em um processo de rede. Não depende só da minha decisão ou da minha avaliação como liderança, é um processo gigante de diversas frentes paralelas acontecendo ao mesmo tempo”.
Como as empresas estão medindo práticas ESG?
“Quando temos o Guia de Produções Verdes sendo propagado nos estúdios da Globo, só funciona se for um compromisso coletivo. Na nossa concepção, essa é a melhor forma de atuar. Esse é um processo de repetição constante. Até agora, essa tem se mostrado a melhor forma de fazer para que essa agenda realmente se torne cada vez mais relevante internamente e, logicamente, também externamente”.
“A princípio, o Guia de Produções Verdes foi concebido por um consumo interno das nossas produções. E cada vez mais temos que propagar isso para fora. No ano passado, fizemos pelo menos dois workshops, com clientes e agências de publicidade, mostrando o que é o Guia e compartilhando as práticas que entendemos que tornam uma uma produção sustentável. É claro que existem características muito específicas, mas outras são muito comuns. No ano passado, no entretenimento da Globo, todas as produções passaram por essa cartilha”.
“O exemplo da ação de Renascer com O Boticário é muito bom. Juntou propósito da marca com objetivo da Globo e uma oportunidade de mercado. Trabalhamos o tempo todo buscando esse tipo de iniciativa. Temos que respeitar o ponto de vista do objetivo comercial do nosso anunciante, mas temos procurado incluir na agenda discussões nesse sentido. Propomos algumas iniciativas ao mercado e as empresas têm diferentes maturidades em relação ao tema, mas vemos, cada vez mais, que elas estão buscando estar aderentes a esse tipo de agenda, desde empresas de telefonia celular, do varejo de uma maneira geral e as que anunciam, por exemplo, no BBB”.
“São fatores de engajamento e do nosso propósito. Não é à toa que o nosso compromisso #1 da agenda estratégica da Globo se refere ao impacto social do nosso conteúdo nas diversas frentes– da diversidade, da parte de transparência e da consciência ambiental. E isso se dá de diversas formas. Quando colocamos a dinâmica da coleta seletiva em um programa como o Big Brother, como sendo algo que gera reconhecimento, recompensa e penalização dentro do jogo, sabemos o quanto isso alcança o público consumidor e o quanto isso gera de consciência. São milhões de pessoas assistindo. Incluir isso dentro do programa é fundamental do ponto de vista dessa consciência. Temos participado em uma parceria muito interessante com a turma toda do entretenimento, de quadros no ‘É de Casa’, do ‘Mais Você’, em que mostramos situações do dia a dia, como o que é a energia renovável, as possibilidades de ter energia solar na sua residência, mostrando a Globo também com nossa planta de energia solar, como é que a gente utiliza melhor a água. Partimos dos nossos exemplos internos nesses programas de variedade e entendemos que conseguimos alcançar esse público”.
“O setor de mídia tem esse compromisso com o conteúdo. Mais que uma tendência, é uma realidade, e ele tem que assumir essa responsabilidade. Quando definimos os nossos compromissos, o impacto do conteúdo não só da Globo, mas, sim, do setor de mídia como um todo. Isso cada vez mais tem que fazer parte dessa agenda. Do nosso lado ambiental, temos muito foco em zerar efetivamente os resíduos e queremos, cada vez, mais propagar para os nossos parceiros, fornecedores e anunciantes. A conscientização ambiental, tanto do ponto de vista interno e externo, é o segredo das coisas acontecendo. Porque a tecnologia, de alguma maneira, acontece a partir do momento em que há a motivação do consumidor e da sociedade, ela vem a reboque disso. Trabalhamos muito na comunicação interna e externa, nas inserções que fazemos na nossa campanha sobre ESG, temos feito inserções repetidas na grade da Globo”.
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