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A espontaneidade na pós-Covid-19

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Opinião

A espontaneidade na pós-Covid-19

São momentos que não temos no dia a dia do trabalho a distância; a ligação no Teams e a mensagem de WhatsApp não conseguem capturar essa dinâmica


14 de julho de 2020 - 13h15

(Crédito: Gartner)

Três meses se passaram desde que tomamos a medida emergencial de trabalhar coletivamente de casa para preservar a nossa saúde e a de nossos times. Ainda que em meio a tantas angústias, podemos dizer que são inúmeros os aprendizados e as surpresas positivas em relação a essa experiência. Percebemos que não é  fundamental estar no mesmo espaço físico para os projetos acontecerem e que comunicação aberta e transparente da liderança sênior resulta em times engajados e produtivos. Aprendemos a fazer reuniões mais focadas e pontuais. Ficamos felizes com a conexão criada com a família e transferimos o tempo de deslocamento casa-escritório-casa para cuidados pessoais e outras atividades.

Hoje, vemos muitas empresas aderindo ao teletrabalho como modalidade principal, reavaliando espaços físicos e estudando os impactos financeiros desse novo modelo. São movimentos importantes, que vão repercutir no mercado e que podem trazer benefícios para todos os envolvidos. Afinal, ter menos custos fixos é um fator importante em um momento de tantos desafios econômicos. E ainda mais importante é o bem estar e o equilíbrio de nossos funcionários, que ganharam flexibilidade e tempo para suas necessidades pessoais, muitas vezes antes negligenciadas.

Mas é importante pensar também sobre aquilo que perdemos com o trabalho a distância. O que nos faz falta quando estamos cada um em um canto? É a partir dessa reflexão que poderemos estabelecer processos e práticas compensatórias ou que minimizem essas faltas. Uma das coisas sobre as quais tenho ouvido muita gente falar nesse sentido (e confesso que estou quebrando a cabeça para achar soluções para este dilema) é a espontaneidade.

Reações de momento que criam cumplicidade, ajudam a encontrar caminhos, geram ideias e trazem leveza ao dia a dia. Aquele instante em que temos um insight, a ideia que pode ser boa para um projeto e dividimos com o colega ao lado, capturando nas reações dele se é algo em que devemos investir ou não. Ou até a indignação com os rumos de algum assunto que compartilhamos com quem trabalha na bancada da frente para saber se estamos exagerando. A conversa de corredor que resolve um assunto enroscado ou gera um novo case de sucesso…

São momentos que não temos no dia a dia do trabalho a distância. A ligação no Teams e a mensagem de WhatsApp não conseguem capturar essa dinâmica. Mesmo se pensarmos em um retorno aos escritórios em tempos de distanciamento social, a naturalidade será cerceada. Alguns protocolos, em especial em locais com corredores estreitos, determinam sentido único de circulação. Para falar com o colega que está duas mesas atrás da sua pode ser preciso dar toda a volta no escritório. Iremos pensar duas vezes antes de ir até ele e, no caminho, lá se foi a nossa espontaneidade.

Outro ponto importante são as condições para se trabalhar em casa. A grande maioria não tem um espaço dedicado a isso. Foram feitas adaptações, mas sabemos que a mesa da cozinha ou da sala não têm a altura adequada ao trabalho no computador. E isso até que pode ser mais fácil de se resolver. Fica um pouco mais difícil, porém, quando pensamos no próprio espaço físico disponível nas casas para criar esses ambientes. Sempre penso nisso quando vejo pessoas cada dia em um lugar diferente nas vídeochamadas e tenho quase certeza que já teve gente sentada no chão durante a reunião.

Por isso, talvez, a possibilidade de trabalhar de casa funcione para uns em tempo integral, para outros em determinados momentos e para alguns seja sempre muito desafiadora. Agora é hora de ponderar cuidadosamente sobre essas diferentes realidades para que possamos nos ajustar em relação ao futuro do trabalho, que chegou até nós de solavanco. As possibilidades são infinitas. O mais importante, no entanto, não muda. Continua a ser as pessoas.

*Crédito da foto no topo: iStock

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