As armadilhas do “favelawashing”
A estratégia que afasta marcas do verdadeiro engajamento com o mercado periférico
A estratégia que afasta marcas do verdadeiro engajamento com o mercado periférico
Nos últimos anos, a comunicação e a publicidade voltadas para as favelas ganharam destaque e importância, abrindo espaço para diálogos necessários sobre as práticas e impactos dessas ações. Se queremos que essas iniciativas realmente beneficiem as comunidades, elas precisam ser autênticas, transparentes e construídas com uma compreensão genuína das realidades locais.
Cada vez mais empresas e organizações têm usado a imagem das favelas em suas campanhas, atraídas pela autenticidade e pela força cultural desses territórios. Mas uma prática preocupante está surgindo: o favelawashing — quando marcas utilizam a imagem da favela para passar uma ideia de inclusão, sem um compromisso real com as comunidades que representam. A estética periférica vira um adereço para valorizar a marca, sem criar uma troca verdadeira nem trazer retorno concreto para a comunidade.
O favelawashing vai além da exploração superficial; ele compromete a confiança e pode gerar impactos negativos a longo prazo. As comunidades percebem quando estão sendo usadas para que empresas simulem engajamento social, e essa prática só afasta a marca do público que ela pretende conquistar, gerando desconfiança.
Para que a comunicação com as favelas traga resultados duradouros e contribua para o desenvolvimento local, é essencial criar relações de troca verdadeiras e de propósito. Isso começa com um compromisso sincero: ouvir as comunidades, entender suas necessidades, ajustar as ações ao contexto e contribuir de forma efetiva para o bem-estar e o crescimento local. Quando as iniciativas têm objetivos claros e se baseiam em uma troca justa, o impacto positivo é sentido em todas as áreas.
Para as marcas, a credibilidade e a confiança conquistadas com esse compromisso aumentam seu valor e conexão com o público. Para as comunidades, os benefícios são profundos, fortalecendo o ecossistema local com capacitação, geração de renda e desenvolvimento. Esse tipo de relação exige responsabilidade e alinhamento, que resultam em benefícios que vão muito além de uma campanha de marketing.
As favelas e periferias são centros de criatividade, inovação e resiliência, com comunidades que transformam adversidades em oportunidades. Valorizar esses atributos fortalece a comunidade e enriquece o tecido social, trazendo novas perspectivas para o mercado e promovendo a diversidade.
Produtores periféricos — empreendedores, artistas, criadores de conteúdo e líderes comunitários — têm uma visão única sobre os desafios e possibilidades que enfrentam, o que pode resultar em soluções inovadoras e culturalmente relevantes.
Investir nesses talentos, apoiando suas iniciativas, é estratégico para marcas que buscam um diferencial competitivo. A cultura periférica tem uma força transformadora, oferecendo insights que ressoam com o público. Apostar nesses talentos é investir em um mercado que valoriza a autenticidade, promovendo um futuro mais inclusivo e próspero.
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