Comida para corpo e mente
Busca pelo bem-estar dá espaço para as marcas de alimentos se posicionarem com soluções para acalmar, dar energia, conforto e qualidade de sono
Busca pelo bem-estar dá espaço para as marcas de alimentos se posicionarem com soluções para acalmar, dar energia, conforto e qualidade de sono
Com 43% dos brasileiros preocupados com o nível de estresse da família e, destes, 53% colocando a saúde mental como prioridade em sua vida, de acordo com pesquisa da Mintel, olhar para o alimento como meio para atingir uma boa saúde física e mental é uma estratégia que tem fundamentos científicos e pode ser uma ótima oportunidade para as marcas.
Se você assistiu ao filme Sem Limites (2011), dirigido por Neil Burger, já deve ter pensado que seria ótima a pílula ingerida por Bradley Cooper. Apenas uma e o milagre acontece: utilizaríamos 100% da nossa capacidade cerebral. Aprenderíamos outras línguas, teríamos ideias geniais e faríamos contas mirabolantes com os pés nas cotas. Seria de grande ajuda, especialmente no cenário atual.
E que cenário. Segundo uma pesquisa da UFRJ, as incertezas que a pandemia nos trouxe fizeram os casos de depressão dobrarem no Brasil. As ocorrências de ansiedade e estresse também aumentaram em 80%. Esses dados e fatos trouxeram à tona uma tendência disfarçada à busca de foco, concentração, bom humor e energia. Tendência esta que também se relaciona com a indulgência e o prazer por momentos de conforto com a comida: falo dos nootrópicos (ingredientes para a saúde mental) e dos conceitos comfort food, mindful eating e o “comer intuitivo” (comportamentos para a saúde emocional).
Em primeiro lugar, é preciso entender a diferença entre essas duas tendências em saúde. Enquanto a primeira representa o aspecto fisiológico, como o uso de ingredientes que nos trazem mais energia, humor, calma e/ou qualidade de sono, a outra diz respeito à nossa relação com a comida. Sabe aquele alimento que você adora porque te proporciona um momento prazeroso na rotina exaustiva ou por que te traz uma memória afetiva? É sobre isso que estou falando. Alimentos que proporcionam experiências, desde a embalagem até o ritual de prepará-lo e, enfim, consumi-lo.
Mas isso não é tudo. Além de serem mais valorizadas pelos consumidores, as marcas com propósito claro estão indo além: a comida passa a se relacionar com rituais de meditação, por exemplo, ou até mesmo com exercícios físicos e musicoterapia.
Um bom case disso é o da Mondelēz. Há alguns anos, o conglomerado trabalha o conceito de mindful snacking e até desenvolveu um site para falar sobre o assunto, com conteúdo simples e científico para educar as pessoas a favor de um consumo mais consciente. A barra de chocolate com matcha e espirulina, da americana Vosges Haut-Chocolat, é outro exemplo de mindful snacking.
Tanto os ingredientes para a saúde mental como para a saúde emocional foram explorados no relatório QTrends 2021, da Equilibrium Latam, recém-lançado. Nele, dentre as 16 tendências exploradas, falamos sobre os benefícios mais desejados pelo consumidor em 2021: calma, bem-estar, foco. Dormir bem, por exemplo, é sinônimo de energia no dia seguinte — e diversas categorias já estão trazendo este benefício. Cito alguns exemplos abaixo:
Temos a Dream Water, a “água de cabeceira” à base de ácido gama-aminobutírico (GABA), 5 Hidroxitriptofano (5-HTP) e melatonina. Temos também o suplemento noturno Beauty Sleep, da Sanavita: já traz no nome o sonho de consumo do sono da beleza. Associa triptofano, magnésio e vitamina B6.
Quer calma e relaxamento? Existem os shots for/me, pensados para cada situação. A versão para acalmar leva em sua composição ingredientes como suco concentrado de maracujá, água de coco e aromas naturais de capim limão e camomila. Já a Greenpeople lançou o suplemento CALMA, uma formulação para contribuir no combate ao estresse. São cápsulas veganas que contêm aminoácido, L-Triptofano associado ao DHA Vegetal e magnésio.
Outra tendência que introduzimos no QTrends é a cozinhaterapia — o despertar do consumidor para cozinhar mais em casa e se aventurar escolhendo receitas, comprando ingredientes específicos em sabor ou benefício. O uso da prática de cozinhar passou a ser uma terapia para passar o tempo.
Como podemos ver, a conexão com a comida foi intensificada na pandemia. Ela se tornou uma fonte ainda maior de prazer e de lazer. Isolados, buscamos socializar ao redor da mesa. Aprendemos e reaprendemos a cozinhar. Estamos prestando mais atenção no que comemos, valorizando a saúde, mas numa necessidade ainda maior de conforto emocional ao comer.
Não à toa, o relatório da Mintel nos diz que os consumidores estarão mais atentos à comida e também ao comer saudável a partir de novos conceitos (que já citei acima), como o mindful eating (tema que escrevi um livro com a Editora Abril há dois anos) e o “comer intuitivo” (criado por Evelyn Tribole, uma pesquisadora americana que eu trouxe ao Brasil duas vezes).
As pessoas têm trocado a tirania das dietas por alimentos que trazem benefícios nutricionais, inclusive, focados em saúde mental. Elas querem viver bem, com mais conforto e mais equilíbrio.
Sim, ainda persistem conceitos como low carb, plant-based, probióticos, free from, clean label, naturalidade… Eles continuam fortes, mas agora estão acompanhados do boom da imunidade e da saúde mental. Só que não às custas de culpa, sacrifício e sofrimento.
O consumidor quer ver esses conceitos em produtos que o façam sentir de bem com a vida — de forma prática, que se encaixe no home office atribulado. Seja em um snack no meio de um trabalho intenso ou uma bebida antes do seu ritual de meditação noturno.
Essa nova preocupação sobre a natureza holística do bem-estar gera oportunidades de mensagens para as marcas. É só uma questão de determinar onde cada uma se encaixa na narrativa.
Compartilhe
Veja também