É hora de “viração”
Que o Brasil acredite no Rio Grande, de todas as formas; que o veja com compaixão, mas também como o estado de um povo que não se entrega e cuja economia precisa continuar a girar
Que o Brasil acredite no Rio Grande, de todas as formas; que o veja com compaixão, mas também como o estado de um povo que não se entrega e cuja economia precisa continuar a girar
Eu sou uma otimista. Mas tem sido difícil cultivar o otimismo nas últimas semanas para quem é gaúcho e mora em Porto Alegre. Nosso estado vive uma grave crise ambiental, com milhares de desabrigados, cidades e bairros submersos pela água e pela lama e, infelizmente, mais de 150 vidas perdidas.
Meu trabalho como diretora-executiva de marketing da maior empresa de comunicação do Rio Grande do Sul me coloca no centro das notícias. Impossível não acompanhar tudo que está acontecendo estarrecida. Impossível não fazer perguntas sobre o futuro, sobre como a sociedade e o poder público irão tirar o Rio Grande do Sul dessa crise e se uma tragédia como esta voltará a acontecer. Temo, especialmente, pelo futuro da minha filha de 12 anos. Que mundo, que país, que estado e que cidade vamos deixar para ela? E, mais do que tudo, que humanidade?
Ao mesmo tempo em que me emociono com a onda de solidariedade que uniu o País de ponta a ponta, me indigno com os saques nas residências atingidas pelas cheias, com a politização do drama humano, os ataques a jornalistas, as “fake news”. E sobretudo me preocupo com os milhares de gaúchos que precisam recomeçar do zero.
Sábado, 18 de maio. Fui ao mais tradicional shopping da cidade. A vida continua, temos de seguir. Uma menina de 12 anos cresce de um inverno para outro e precisa de uma nova jaqueta para o frio.
Para chegar lá, cruzo a cidade.
A marca da água está nas paredes, nos estacionamentos subterrâneos ainda submersos. Está no olhar dos porto-alegrenses que lavam a lama de suas casas, suas lojas, restaurantes, salões de beleza.
No shopping, vejo cenas da vida como ela costumava ser para todos.
Estava cheio, como de costume. Embora lojas de algumas grifes globais estivessem fechadas, a maioria dos lojistas atendia seus clientes, alguns ainda colocando em dia o presente do Dia das Mães, outros tomando um café. Alguns, como eu, comprando roupas de frio.
Há um Rio Grande Sul que precisa ser reconstruído. E um Rio Grande do Sul que teve a sorte de se manter intocado pela água e que precisa continuar consumindo, produzindo, circulando para podermos, juntos, superar este momento.
Quando a economia gira, o estado fica mais forte e todos têm mais capacidade para ajudar o outro. Lembro da moça que desenha sobrancelhas no salão de beleza que frequento me falando com pesar sobre as clientes que desmarcaram por receio de serem hostilizadas ao aparecerem “arrumadas” no trabalho em plena crise. Da preocupação da depiladora sobre como vai vencer as contas do mês de maio com o faturamento 70% menor. Lembro também dos milhares de gaúchos em abrigos, que perderam tudo e que não podem, também, perder seu sustento e seus empregos para recuperar sua dignidade.
Hoje é domingo. Um dia cinza, gelado. Do meu WhatsApp vem a inspiração para escrever este texto. Das iniciativas de apoio às empresas gaúchas, ao comércio e à indústria do meu estado. Dos comerciantes do Vale do Taquari, que venceram a lama e já estão, de novo, colocando seus negócios para funcionar. Das muitas campanhas para consumir produtos gaúchos.
O RS precisa de ajuda, sim, mas precisa também de confiança.
Eu sou otimista. Mesmo nos dias cinzas, eu espero pelo sol. E espero que o Brasil acredite no Rio Grande, de todas as formas. Que nos olhe com compaixão porque atravessamos, sim, uma crise sem precedentes. Mas que nos enxergue também como um povo forte, aguerrido e bravo, que não se entrega. Que as empresas invistam no nosso estado. Que os turistas voltem. Que os governos cumpram suas promessas.
Seguimos. A vida continua. E tem que continuar.
Porque o sol sempre volta a brilhar. Como diz a canção Vento Negro, clássico do cancioneiro gaúcho:
“Com a vida e o tempo, a trilha, o sol
Um vento forte se erguerá
Arrastando o que houver no chão
Vento negro campo afora, vai correr
Quem vai embora tem que saber
É viração”.
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