Legal design como motor de inovação
Como o Direito centrado no ser humano impulsiona experiência, ESG e reputação de marca
Você sabia que Helsinque foi eleita a capital do design em 2012?
E foi nessa cidade incrível que exala inovação, onde ocorreu o Legal Design Summit 2025, o principal evento global sobre o assunto. A edição deste ano trouxe uma visão cada vez mais clara: o Direito, quando pensado a partir das pessoas, deixa de ser apenas um instrumento de conformidade e se transforma em motor de inovação, experiência do usuário e valor estratégico para empresas.
A premissa: centralidade no ser humano
O primeiro dia de evento, sob o tema do Direito centrado no ser humano na Tecnologia e Governança, reuniu pesquisadores, advogados e profissionais de inovação para discutir como o legal design pode tornar processos, políticas e documentos jurídicos mais claros, acessíveis e conectados às necessidades reais de usuários e dos consumidores.
Nesse contexto, ficou evidente que a centralidade do usuário na comunicação jurídica impacta diretamente a experiência do consumidor e a percepção da marca. Documentos claros, contratos compreensíveis e interfaces jurídicas intuitivas não apenas reduzem fricção e erros, mas também fortalecem confiança, transparência e engajamento. Para marcas, isso significa transformar interações legais em pontos de contato positivos, em que o consumidor percebe a empresa como confiável e atenta com sua experiência.
De acordo com relatório do World Commerce & Contracting de 2024, 30% da força de trabalho das empresas, excluindo as áreas jurídicas, possuem interações com contratos e, desse universo de colaboradores, mais de 90% afirmam que os contratos são difíceis ou impossíveis de entender. Agora, se os próprios times internos das empresas possuem dificuldade na compreensão dos seus contratos, o que dirá os consumidores?
O primeiro dia reforçou insights cruciais para restabelecer a centralidade no ser humano na jornada jurídica: a importância da colaboração multidisciplinar entre advogados, designers e profissionais de tecnologia; a necessidade de iterar e prototipar soluções a partir de evidências reais envolvendo experiências de consumo e uso de serviços; necessidade de haver equilíbrio e harmonia entre precisão jurídica e usabilidade.
Transformação social e ambiental
No dia seguinte, as apresentações focaram na perspectiva de sustentabilidade e demonstraram que o legal design vai além da experiência do usuário e se torna uma ferramenta essencial para impacto ambiental e social.
Empresas precisam revisitar seus contratos tornando-os mais claros e inclusivos para transformar promessas em resultados concretos, promovendo sustentabilidade nas cadeias de suprimentos e reforçando a responsabilidade corporativa, mediante métodos criativos como, por exemplo, a adoção de contratos no formato de história em quadrinhos.
Outro aspecto presente na fala de muitos palestrantes foi o papel da Inteligência Artificial aplicada ao legal design como ferramenta que facilita o acesso à justiça e conecta cidadãos a processos colaborativos, como o caso da IA-LucIA, assistente virtual que ajuda cidadãos mexicanos a entender mais facilmente o ecossistema judicial no México.
Sob a perspectiva de marketing, esses aprendizados são estratégicos. A adoção de legal design não apenas pode se revelar como uma ferramenta essencial para democratizar o acesso à justiça, mas também facilitar a compreensão de documentos corporativos extensos e complexos como os Relatórios de Sustentabilidade.
Em tempos que o consumidor busca propósito e conexão com os valores das marcas, para além de qualidade e preço, nota-se uma forte tendência de as companhias buscarem estratégias mais estruturadas de comunicação dos seus pilares de ESG.
Se antes os Relatórios de Sustentabilidade ocupavam um link escondido em algum cantinho do site das empresas a partir do qual se apresentava interminável pergaminho com letras miúdas, hoje são comuns seções específicas nas páginas online das marcas especialmente dedicadas para dar visibilidade aos consumidores de suas iniciativas de transformação social e ambiental, incluindo relatórios visuais e com navegação intuitiva do usuário.
Experiências legais bem desenhadas tornam-se, assim, canais de comunicação que aumentam percepção de valor, fidelidade e reputação da marca.
O Legal Design Summit 2025 reforçou que o encantamento do consumidor e a construção de reputação não se limitam a campanhas publicitárias ou produtos bem projetados: passam por todos os pontos de contato da marca, inclusive os jurídicos.
Empresas que se comprometem com direitos humanos, sustentabilidade e design centrado no usuário constroem produtos e serviços mais justos, fortalecem confiança e reputação, promovem inovação sustentável e criam vantagem competitiva real.
Legal design, portanto, é um diferencial estratégico que conecta negócios, sociedade e marca de forma significativa.