Opinião

Liderança em tempos ambíguos

Coragem e visão são conceitos indissociáveis para quem aponta novos caminhos em um mundo em constante mudança

Gabriela Onofre

CEO do Publicis Groupe Brasil 30 de setembro de 2025 - 6h00

Sempre exaltamos a transformação do nosso mercado e o quanto esse movimento exige profissionais que não tenham medo das mudanças. Mais do que isso: pessoas que saibam indicar caminhos diante dessas mudanças, que tenham coragem de desbravar o novo. Nós todos conhecemos exemplos de líderes que tiveram a coragem de subverter o status quo, superaram resistências e, depois, colheram os frutos de se adiantar ao que os outros não conseguiam enxergar. Ou não queriam enxergar.

O que nem sempre falamos é sobre a nossa vulnerabilidade diante do novo – do que é desconhecido. Porque inovar não é só exercer um olhar diferente sobre determinado ponto. É sobre ter coragem de modificar realidades, o que significa sair de zonas de conforto e assumir riscos. É agir onde muitos ficam paralisados.

Participei recentemente de um podcast para lideranças internas sobre como devemos guiar áreas e organizações em tempos de ambiguidade, e me vi diante de diversas reflexões em torno do tema. Em um mundo cada vez mais global, como a cultura local se torna um diferencial competitivo? De que forma preservamos nossos princípios corporativos, as crenças que nos fazem ser quem somos e, ao mesmo, tempo nos mantermos em constante evolução? Como tomamos decisões estratégicas trabalhando em contextos que mudam o tempo todo?

Para mim, o ponto inicial é sobre a relação indissociável entre dois conceitos-chave: coragem e visão. Porque visão sem coragem é somente sonho. Coragem sem visão é salto no escuro. Ou seja, antes de uma tomada de decisão, o líder precisa ler o macro, analisar diferentes possibilidades e opiniões. Toda vez que escolhemos mudar, estamos assumindo um risco. Mas quando esse movimento é feito de forma consciente e estratégica, as chances de sucesso aumentam significativamente. Vale sempre lembrar: ser ágil é totalmente diferente de ser impulsivo.

A partir do momento em que desenvolvemos uma perspectiva mais ampla dos nossos desafios diários, conseguimos transitar com desenvoltura por tensões e ambiguidades. E é aí que percebemos que nem tudo o que parece contraditório é irreconciliável. Aqui evoco o pensamento Both/And que a Hyper Island propaga e que nos desafia a abraçar paradoxos, desenvolvendo escolhas além da óbvia (a binária) para os problemas. As respostas não são necessariamente isso “ou” aquilo. Elas podem ser isso “e” aquilo.

Um exemplo simples: dados não matam a criatividade — eles a impulsionam. Criatividade e performance podem caminhar juntas. Agilidade e consistência não são inimigas. O papel do líder é exatamente o de manter esse equilíbrio dinâmico e saber que erros e ajustes de rota fazem parte do processo.

Mas a verdade é que, quanto mais avanço na minha trajetória profissional, mais aprendo que o grande diferencial de quem assume um papel de liderança é saber identificar as pessoas certas para os lugares certos. É se cercar de profissionais que simplifiquem a complexidade, abracem ambiguidades e somem a pluralidade de suas experiências, conhecimentos e olhares a uma visão comum para o crescimento de toda a organização.