Opinião

Edição colaborativa

No Ciclope Berlin 2025, Paul Rogers apresenta método colaborativo que desafia a autoria tradicional

Fernanda Geraldini

Chief business officer (CBO) da Landscape 10 de outubro de 2025 - 22h00

Um dos painéis mais curiosos do Ciclope Berlin, foi “The Swarm: Redefining Editorial Collaboration”, com o editor Paul Rogers.

Ele apresentou seu método de edição colaborativa usado na PARALLAX, sua produtora, que é chamado de Swarm Editing. The Swarm é um processo no qual múltiplos profissionais trabalham simultaneamente no mesmo projeto, trocando perspectivas e críticas entre si para refinar o corte e explorar caminhos narrativos inesperados.

Rogers começou compartilhando sua vida pessoal, destacando sua origem no Alabama e suas raízes artísticas familiares (fotografia, pintura).

Contou que começou a editar ainda no colégio, acumulou experiências, e por volta dos 30 anos mudou-se para Los Angeles, para recomeçar do zero.

Hoje ele lidera a PARALLAX, onde o método é praticado por um time de profissionais que operam em cooperação constante.

Ele reforça que o Swarm exige uma mentalidade aberta, o controle de ego e a aceitação de que um toque vindo de outro profissional pode tornar o projeto muito melhor.

Nem sempre o caminho que você vai seguir é o melhor. A visão de outra pessoa, fresca, inesperada, pode contribuir de forma positiva e relevante. Não estar envolvido em todo processo, dá uma perspetiva de frescor.

Mas como tudo, há vantagens e potenciais desafios. Quanto mais cérebros, mais inventividade. Ou seja, quanto mais pontos de vista, mais criatividade e mais habilidades complementares, mais chances de uma visão melhorada emergir.

O método apresenta um refinamento contínuo. O trabalho não é de um editor isolado, mas de um coletivo que faz ajustes mútuos. A melhoria qualitativa está no resultado final. Na sua apresentação, Rogers trouxe vídeos com depoimentos de diversos profissionais do time – o que faz todo sentido com a filosofia apresentada. Segundo os participantes, é possível que o corte colaborativo supere versões individuais.

Um dos destaques foi o olhar sensível e humano. Rogers reforçou que nem todos no processo precisam saber editar tecnicamente; a sensibilidade é uma habilidade importante.

O Swarm tem a “cultura de apoio”. Saber que junto com você estão colaboradores confiáveis torna o trabalho menos solitário e assustador.

Ouvindo a palestra, eu só ficava imaginando a aplicabilidade. Então fiz uma lista dos desafios e das limitações.

Esse modelo exige uma organização rigorosa para evitar conflitos de visão, múltiplas versões, dispersão criativa, material humano e capital financeiro.

Não acredito que pode ser sempre aplicável. Como fazer com prazos apertados ou equipes pequenas? O tempo e os recursos necessários podem tornar-se um entrave na entrega.

Há risco de diluição da voz autoral individual, especialmente se o controle de ego for frágil. Nosso mercado é artístico e o ego existe, assim como o orgulho de ter sua visão no material final.

Projetei também a possibilidade de projetos menores ou com equipes acostumadas a workflows tradicionais. Imagino que haja bastante resistência e até atrito.

É inegável que o modelo robusto inspira — mas gera uma questão legítima: será que The Swarm pode funcionar nos fluxos de estúdios, produtoras, agências ou times pequenos, com prazos curtos e orçamentos enxutos? É incrível, mas seria viável para nosso mercado?

O painel apresentou uma visão ousada de edição colaborativa, cujo impacto pode ser transformador. Não estamos diante de um modelo universal, mas de uma metodologia inspiradora que provoca o mercado a repensar os paradigmas — da autoria solitária ao coletivo criativo.

No dia a dia, a adoção plena desse método exige alinhamento, maturidade cultural e ajustes reais ao workflow. Mas mesmo que não seja aplicável 100% em todos os projetos, suas premissas — abertura, pluralidade de vozes, refinamento contínuo — podem servir como farol para elevar a forma como fazemos edição e colaboração criativa.