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Opinião

Educação e soft power

Disciplina, eficiência e tecnologia foram os cartões de visita da Coreia do Sul para o mundo. Agora é a vez da cultura e das marcas


23 de julho de 2018 - 9h27

Japchea é um prato típico da Coreia do Sul (Crédito: sierravalleygirl/Flickr)

A divulgação de um estudo relacionado à mais relevante avaliação internacional de educação básica mostrou peculiaridade curiosa e preocupante no desempenho registrado por alunos brasileiros. De acordo com pesquisa liderada pelo professor Naercio Menezes Filho, ligado à USP e ao Insper, o fato de o Brasil ocupar sempre as últimas posições nos rankings das mais diversas categorias no Pisa (Programme for International Student Assessment) está relacionado não somente à capacidade dos estudantes de abordar corretamente as questões propostas, mas também a uma variável comportamental.

O estudo indicou uma queda significativa na performance dos brasileiros ao longo da realização do exame, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mais: seis em cada dez estudantes do País nem sequer chegam à última pergunta da primeira parte da prova.

Se a deficiência no aprendizado em termos práticos dos estudantes brasileiros já era um fator reconhecidamente a ser trabalhado para o desenvolvimento social e econômico, o novo estudo aponta que é preciso averiguar também nossa resiliência quando nos vemos confrontados com grandes desafios e o compromisso de dar conta das responsabilidades assumidas até o fim de um processo. E aqui entra a comparação com um país sempre lembrado quando o assunto é transformação pela educação.

Historicamente, a vida nunca foi exatamente fácil para os sul-coreanos. Situados entre as duas grandes potências do continente asiático, Japão e China, ostentavam um dos piores indicadores econômicos dentre todas as nações do mundo quando a trégua na guerra que dividiu em dois o antigo território foi acertada, em 1953. Quatro décadas depois, nos anos 1990, o investimento não apenas financeiro, mas também humano na educação básica começou a ganhar o mundo. Empresas como Hyundai, Samsung e LG tornaram-se grandes players globais de seus setores.

Três décadas a mais, e a Coreia do Sul ensaia uma nova cruzada internacional, agora sobre outras bases.

Se o caminho rumo ao posto de potência econômica mundial foi pavimentado à custa de muito trabalho, produtividade, disciplina e tecnologia, com o objetivo de impulsionar o crescimento de um país que precisava gerar recursos em um ritmo acelerado para superar o seu gap de renda, a geração atual de empreendedores sul-coreanos investe em exportar experiências e estilo de vida. Os valores do pali pali (algo como “rápido, rápido”, em tradução livre, uma expressão popular para a demanda da sociedade coreana por eficiência) continuam presentes, mas já apresentam interfaces mais relaxadas, o que tem resultado em uma combinação bem-sucedida de soft power e dinamismo, elevando o país no tabuleiro global de influência cultural.

Os melhores exemplos são a tomada das paradas musicais em todos os cantos do planeta pelo k-pop e a profusão da culinária coreana mundo afora. Não vai parar por aí. A demanda por cosméticos e moda do exigente público interno propiciou o surgimento, nesses segmentos, de marcas e lojas que já se preparam para uma expansão internacional e fomentarão a próxima onda de bons negócios originais da Coreia do Sul.

Esse ciclo virtuoso de sofisticação da economia e melhoria na qualidade de vida mostra o quanto deveria ser prioridade máxima para nossos candidatos à Presidência um planejamento consistente para a educação. Não se trata somente de dar acesso por meio de financiamentos e subsídios. Essa é, obviamente, uma parte fundamental do processo, condição sine qua non para uma sociedade mais justa e diversa em termos de oportunidades. O case sul-coreano e o desempenho atual dos alunos brasileiros mostram que quando se trata de educar é preciso olhar também para a porta de saída.

 

*Crédito da imagem no topo: Chris Ryan/iStock

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