Empresas precisam vender transparência e confiança!
Mais do que comercializar produtos, esses atributos são fatores que podem combater a crise de confiança
Vivemos uma crise de confiança. O excesso de anúncios invasivos, promessas exageradas e discursos vazios saturou o público, que hoje se mostra mais atento, crítico e exigente. Esse cenário pressiona marcas a repensarem como se comunicam: não basta mais vender promessas, é preciso sustentar cada mensagem com fatos claros e atitudes coerentes.
O Índice de Confiança Social 2025, da Ipsos, mostra que as empresas brasileiras alcançaram apenas 57 pontos numa escala de 0 a 100, um dos níveis mais baixos entre as instituições avaliadas. Isso é um sinal claro de que o público quer mais do que slogans, ele quer transparência, explicações detalhadas e compromisso real entre discurso e prática.
Essa desconfiança também se estende ao uso dos dados pessoais. O relatório State of Digital Trust 2025, da Usercentrics, mostra que 46% dos consumidores aceitam cookies com menos frequência do que há três anos e 42% dizem ler os banners de consentimento “sempre” ou “frequentemente” — um indicativo claro de que as pessoas estão mais cautelosas e conscientes sobre como suas informações são coletadas e usadas. Ainda assim, apenas 23% afirmam entender plenamente como seus dados são processados, compartilhados ou monetizados.
Neste contexto, o público segue exposto à avalanche de publicidade, mas a confiança talvez não tenha acompanhado esse volume. E quando o discurso não é sustentado por práticas claras e éticas, colocamos muitas coisas em jogo.
Ao mesmo tempo, o consumidor nunca teve tanto poder para investigar e fiscalizar. Redes sociais, influenciadores independentes e plataformas de avaliação transformaram qualquer pessoa em um potencial porta-voz. Um rótulo que omite informações, um ingrediente de origem duvidosa, uma promessa impossível: tudo isso pode virar matéria, trend ou hashtag em questão de horas.
Não basta apenas cumprir o mínimo exigido pelos órgãos reguladores. Combater a desinformação e práticas enganosas, como o greenwashing, é essencial para reconstruir a confiança. Uma pesquisa recente da Market Analysis Brasil com o Instituto Akatu mostra que 6 em cada 10 consumidores brasileiros não confiam nas alegações ambientais dos produtos que compram.
Marcas responsáveis entendem que transparência e informação correta são pilares para construir confiança. Isso passa por detalhes que vão além de slogans de campanha: rótulos claros, rastreabilidade de cadeia produtiva, explicações honestas sobre impactos e ingredientes, divulgação de relatórios de sustentabilidade e programas de escuta ativa, tudo isso demonstra compromisso real com quem compra.
Mais do que vender produtos, empresas precisam vender confiança, e confiança se constrói com fatos.
O paradoxo é evidente: enquanto estratégias miram likes e curtidas em influenciadores de milhões, o que ainda faz diferença para a maioria das pessoas é ouvir quem conhecem, vivenciar experiências reais e sentir coerência entre o que uma marca diz e o que ela faz. Marcas que apostam em iniciativas educativas, visitas abertas ou dados verificáveis conseguem transformar a desconfiança em engajamento genuíno.
A boa notícia é que esse movimento pode ser positivo para todos. Para o consumidor, que faz escolhas mais conscientes. Para a marca, que constrói reputação e fidelidade de forma genuína. E para o mercado como um todo, que se afasta de práticas enganosas e ganha relevância diante de um público cada vez mais exigente.
No fim das contas, a crise da publicidade não é apenas um problema de criativos e agências, é um alerta para toda a cadeia. O consumidor quer ser impactado pela verdade. Quer participar, quer entender, quer decidir. E as marcas que souberem ouvir e responder com transparência sairão na frente na sustentabilidade do seu negócio.