Entre dados sintéticos e humanos: o novo campo de batalha da atenção
Trata-se de equilibrar precisão com propósito, performance com ética, escala com significado
Estive no AI Brasil Experience, vivenciando dias intensos de debates e aprendizados sobre o futuro da inteligência artificial (IA) aplicada à comunicação, ao marketing e à gestão. Foram mais de cem horas de conteúdo, seis arenas temáticas e dezenas de especialistas discutindo os rumos dessa transformação que já redefine a forma como marcas, consumidores e tecnologias se relacionam.
Saí de lá com uma certeza: o futuro da comunicação e do marketing será definido pela convivência entre dados sintéticos e dados humanos.
Durante o evento, um dos temas mais provocativos veio da arena “IA em Gestão e Operação”, com a apresentação do Gartner Hype Cycle for Artificial Intelligence 2024–2025. O gráfico mostrava a jornada típica das tecnologias emergentes — do pico de expectativas infladas ao platô de produtividade. Nesse ciclo, o destaque estava no avanço da IA generativa, dos agentes autônomos e dos dados sintéticos, agora se aproximando de uma fase de maturidade. Mas a mensagem central era clara: a adoção real ainda engatinha. Segundo dados compartilhados no evento, 80% das empresas investigam ou testam soluções de IA, mas apenas 5% conseguem escalar seus pilotos para produção. Um abismo entre entusiasmo e execução.
Essa lacuna explica por que muitas iniciativas em comunicação ainda ficam restritas a experimentos isolados. Falta estrutura, processos e cultura para transformar provas de conceito em resultados consistentes. É o que a McKinsey também reforçou em seu AI Report 2025, apresentado na arena “IA em Marketing e Vendas”: a reformulação dos fluxos de trabalho é o maior impacto da IA generativa nas organizações. Em outras palavras, não basta adotar tecnologia: é preciso redesenhar a operação.
E, junto a isso, surgem as perguntas que todos nós enfrentamos: por onde começar? O que automatizar? Como engajar e treinar as equipes? Como medir o ROI?
Esses questionamentos ganham peso num momento em que o ritmo da evolução tecnológica acelera. O recado é que a IA não vai apenas evoluir: ela vai evoluir com autonomia. E isso exige de nós, profissionais da indústria da comunicação, um novo tipo de protagonismo, aquele que une visão estratégica, pensamento crítico e sensibilidade humana.
Se os algoritmos já aprendem sozinhos, nosso papel é dar propósito à automação. O que realmente diferencia uma marca não é a capacidade de processar dados, mas a de transformar informação em compreensão e compreensão em conexão.
A IA pode prever comportamento, mas só a empatia gera confiança. Pode identificar padrões, mas só a narrativa humana dá sentido.
Por isso, a discussão sobre dados sintéticos e dados humanos vai muito além da tecnologia. Trata-se de equilibrar precisão com propósito, performance com ética, escala com significado. A comunicação que emerge dessa nova era será híbrida, tão analítica quanto sensível, tão automatizada quanto humana.
Para quem lidera comunicação ou marketing, a lição é direta: invista em inteligência de dados, sim – mas não esqueça da inteligência humana.
No fim das contas, a marca que traduzir números em empatia, contexto e presença real não apenas ganhará atenção. Ela conquistará relevância.