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Opinião

Filhos da mãe

Quando mulheres fortes, batalhadoras com seus espaços profissionais devidamente ocupados tornam-se também padrões e modelos, elas não só geram impactos transformadores e profundos como exemplificam com seus exemplos seu poder de influência


17 de março de 2020 - 11h54

(Crédito: Nadezda Grapes/ iStock)

Acaba de ser lançado nos mercados da África do Sul, Canadá e Estados Unidos o livro A Woman Makes a Plan: Advice for a Lifetime of Adventure, Beauty, and Success (Uma mulher faz um plano: conselhos para uma vida inteira de aventura, beleza e sucesso, em tradução livre), publicado pela Viking/Penguin. Até aí, poderia se tratar de mais um livro com dicas e toques de empoderamento feminino. No entanto, o sobrenome da autora chama a atenção: Maye Musk.

Do alto de seus 71 anos, a elegante e bela Maye compartilha na obra suas memórias e as transforma em ideias sobre tudo. Começou sua carreira de modelo aos 15 anos e dirige seu próprio negócio de nutrição há mais de quatro décadas em oito cidades e três países. Aos 31, se viu solteira e sem dinheiro após uma conturbada separação com direito a 11 anos de litígios judiciais pela guarda dos três filhos. Um de seus conselhos no livro é justamente o de criar filhos igualmente ambiciosos mesmo sem a presença de um pai. O que parece ter dado certo, pois um de seus filhos, Elon Musk, dispensa apresentações.

Maye também conta no livro como lidou com questões de sobrepeso e acabou se tornando a primeira modelo plus size da África do Sul. Uma boa parte da obra discorre, ainda, sobre como superou o envelhecimento na efêmera indústria da moda a ponto de estabelecer uma carreira longeva como nutricionista. Atualmente, além de palestrante requisitada, é conselheira ativa de associações de nutricionistas nos três países onde tem negócios, África do Sul, Canadá e Estados Unidos.

Também responde como embaixadora de duas ongs, ambas norte-americanas, que ajudou a criar e se encaixam em suas duas carreiras: Big Green, que constrói hortas e jardins em escolas carentes; e Dress for Success, uma organização global sem fins lucrativos que ajuda mulheres a alcançar a independência econômica, fornecendo uma rede de apoio e programas de desenvolvimento pessoal e profissional, além de roupas de trabalho.

Em entrevista à rede CNBC, Maye declarou que manter atitude positiva e saudável diante da vida é fundamental para enfrentar os obstáculos. E admitiu que a parte que teve mais dificuldade de escrever no livro foi sobre seu casamento abusivo. “Foram nove anos da minha vida e, depois, 11 anos de processos judiciais em que (o ex-marido Errol Musk) me processou pela custódia das crianças. Minha mãe sempre ia comigo ao tribunal. Eu não podia pagar um advogado.”

A série O Código Bill Gates, em cartaz na Netflix, mostra um lado bastante positivo do fundador da Microsoft focando na sua obsessão pela leitura e nos seus projetos como filantropo na Fundação Bill & Melinda Gates. Uma personagem, no entanto, salta aos olhos do telespectador: Mary Maxwell Gates.

Mary conquistou uma posição de poder no mundo dos negócios que poucas mulheres conseguiram obter em seu tempo. Foi nomeada diretora da Universidade de Washington, em 1975. Nesse ano, ela se tornou a primeira mulher a servir como diretora do First Interstate Bank e a primeira mulher a servir como presidente do United Way, uma das mais tradicionais instituições de filantropia norte-americana. Ela também foi a primeira mulher no conselho de administração do First Interstate Bank of Washington. Em diversos momentos da série, Bill lembra da importância da mãe durante sua adolescência quando, como um típico nerd introspectivo, ela o incentivava a ter vida social.

Mary atuou no conselho da IBM onde se aproximou do então CEO da companhia IBM, John Opel, o que lhe garantiu um relacionamento com o homem que daria ao filho sua primeira chance de sucesso.

Na série dirigida por Davis Guggenheim — o mesmo diretor de Uma Verdade Inconveniente (2006), sobre o político ambientalista Al Gore —, Mary é retratada como uma das mulheres, assim como Melinda, símbolos da conexão de Bill Gates com o mundo real. Isso aparece tanto por ter ido a festas, obrigado por ela a socializar, quanto pelo contato com a natureza e um olhar mais próximo à família. Quase no fim do documentário, surge uma frase da mãe de Bill Gates, dita durante uma palestra motivacional, que ajuda a entender a saga do filho em busca das soluções para os problemas do mundo: “Quando temos essas expectativas (de sucesso) para nós, é mais provável que façamos jus a elas. Afinal, não é o que se recebe ou mesmo o que se dá, é o que você se torna que realmente importa.”

Essas mães tão poderosas exerceram influências incalculáveis na construção de inúmeras camadas na psique de seus respectivos filhos. E muitas outras anônimas, neste exato momento, estão na sua batalha silenciosa e invisível fazendo o mesmo nos quatro cantos deste planeta.

Escrevi este artigo no Dia Internacional da Mulher, uma data que nunca me deixou confortável pela sua simples necessidade de existir. Sempre acreditei que a construção de uma sociedade mais equânime na questão de gênero passa por mudança de modelos. Ao longo dos tempos, o machismo tornou- se estrutural em nossa sociedade e, em muitos casos, com a participação ativa — e, por vezes, inconsciente — das próprias mulheres, especialmente ao se tornarem mães e reproduzirem padrões de comportamento estereotipados.

Quando mulheres fortes, batalhadoras com seus espaços profissionais devidamente ocupados tornam-se também padrões e modelos, elas não só geram impactos transformadores e profundos como exemplificam com seus exemplos seu poder de influência. Maye Musk e Mary Maxwell Gates foram fundamentais para pavimentar a estrutura sócio-educativa que culminou no sucesso de seus filhos. Neste mês internacional das mulheres, que possamos nos inspirar em mulheres assim e torná-las, cada vez mais, protagonistas em um mundo no qual a revolução pelo equilíbrio entre gêneros torna-se uma trajetória com muitos níveis de complexidade.

*Crédito da foto no topo: Nazarkru/ iStock

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