Internet: da monocultura ao nicho
Até então, as principais plataformas sociais online foram feitas para distribuir conteúdo com base nas nossas conexões e organizações que seguimos; agora, acompanhamos a mudança para uma curadoria diferente
Até então, as principais plataformas sociais online foram feitas para distribuir conteúdo com base nas nossas conexões e organizações que seguimos; agora, acompanhamos a mudança para uma curadoria diferente
22 de setembro de 2022 - 14h00
(Créditos: Shutterstock)
Estamos vivendo a transição para uma nova era da internet. Por muitos intitulada como Web3, este novo momento vai além das tecnologias que ganham popularidade e aplicações, como a blockchain, NFTs, criptoativos, etc. Este novo momento está sendo marcado por novos comportamentos, uma nova semântica e modelo operacional.
O crescimento e popularidade do TikTok nos aponta a direção para onde a internet está indo. Até então, as principais plataformas sociais da Internet foram desenvolvidas para distribuir conteúdo com base nas nossas conexões sociais e organizações que escolhemos seguir. Agora, acompanhamos a mudança para uma curadoria com base em interesse e gostos — informações psicográficas. A página For You, do TikTok, é a principal materialização desta mudança: um ambiente 100% curado por algoritmos que te entregam conteúdos personalizados com base nos seus interesses. Conteúdo sempre relevante, com frequência de Creators que você nunca ouviu falar.
O sucesso deste modelo criou um novo padrão, já copiado por outras plataformas como o Instagram, e que tem gerado revolta entre celebridades e figuras que construíram seu alcance e poder de distribuição com base no modelo antigo (alô, Kardashians). Seus modelos de influência estão postos em cheque com os novos algoritmos baseados em interesses e gostos. A influência deixa de ser sobre números e audiência, e passa a ser sobre conteúdo relevante de sucesso, distribuído por um algoritmo baseado em interesse. É por isso que descobrimos tantos novos Creators semanalmente no TikTok, e grandes nomes iniciam um movimento para o Instagram voltar a suas origens. Visivelmente um conflito de interesse.
Estamos migrando de uma monocultura da internet para uma internet nichada. O conceito de nicho não é novo, foi popularizado por Chris Anderson em outubro de 2004 num artigo publicado na Wired, mas ganha ainda mais força nos dias de hoje, quando um tema é motor das novas plataformas e seus algoritmos. Quando somamos este contexto a comportamentos emergentes dos consumidores que procuram por relações verdadeiras com seus pares, somar, criar e ser um agente dentro do seu grupo, temos o cenário perfeito para o surgimento de comunidades — grupos que se unem a partir de um ponto de interesse em comum, que interagem entre si livremente, auto-organizáveis e que compartilham de valores e princípios semelhantes.
As comunidades que participamos dizem muito sobre nós. São nelas que podemos encontrar influência, segurança, reconhecimento, propósito e até mesmo sinalizar status. O próprio conceito de fama, antes atrelado a pessoas e organizações reconhecidas pelas massas, hoje pode ser interpretado num nível de comunidade — motivo pelo qual os microinfluenciadores, que normalmente atuam dentro de um nicho e uma comunidade específica, ganham força e passam a contemplar cada vez mais o share de investimento em campanhas publicitárias.
Já é possível encontrar marcas aproveitando comunidades já existentes ao redor de seus territórios, como no Reddit. Lá, elas são capazes de conversas lado a lado com consumidores interessados em seus temas, criar awareness, co-criar, pesquisas e conhecer essas comunidades. Outras já aproveitam comunidades online para lançar colaborações, gerar awareness, criar momentum e desenvolver e fortalecer as comunidades criando experiências, conectando e co-criando com agentes relevantes inseridos nelas. Encontramos, também, marcas com um território claro e bem definido aproximam-se de seus consumidores mais engajados através de NFTs, culminando num novo mecanismo de relacionamento e troca com essa comunidade que passa a viver uma experiência única e exclusiva com a marca. Por fim, novas plataformas já começam a surgir para construir a infraestrutura que vai suportar esta nova internet nichada e repleta de comunidades nichadas, como a Geneva.
Compartilhe
Veja também
E se o Cannes Lions premiasse as melhores parcerias do ano?
Num mundo em que a criatividade virou moeda valiosa, colaborações bem construídas se tornaram a força motriz da inovação
Os cases gringos mais memoráveis de Cannes 2025
Iniciativas como The Final Copy of Ilon Specht, vencedor do Grand Prix de film, são exemplos de consistência das marcas e reconhecimento a quem faz parte da história delas