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Opinião

Junho dourado

Mês mais nervoso da publicidade começa com apostas nos cases favoritos a conquistarem Leões em Cannes e aquecimento nos debates que cercam o festival, como a questão de equidade e inclusão, ainda longe do ideal


4 de junho de 2024 - 14h00

No calendário anual de cores, usado para reforçar o engajamento em campanhas de prevenção e conscientização sobre saúde, junho é o mês do vermelho, para incentivar a doação de sangue, e do laranja, como alerta para importância do diagnóstico precoce de anemia e leucemia. Pela conscientização ambiental, aproveitando que no dia 5 comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, é também o mês verde. Para o mercado publicitário, junho é um mês marcante, que poderia ser representado pelo dourado, para simbolizar a mobilização pela disputa pelos Leões do Cannes Lions — ou, quem sabe, por outras cores que retratassem o nervosismo que se instala em muitos anunciantes, agências e produtoras — especialmente os que depositam muitas expectativas na principal premiação global da atividade.

A ansiedade é maior entre os profissionais atuantes em empresas que dependem da reputação criativa para justificar posicionamentos públicos, gerar novos negócios e, até mesmo, receber bônus ou aumentar suas cotas na divisão global de verbas destinadas a investimentos em criatividade e inovação. A angústia aumenta nos que já chegaram ao topo, somam histórico de muitos prêmios e, exatamente por isso, sentem a cobrança por se manterem entre os mais premiados — se conquistar um Leão é difícil, mais ainda é repetir o feito várias vezes, em edições seguidas do festival.

Na semana passada, durante o evento Blue Connections, aberto apenas a assinantes, Meio & Mensagem promoveu uma exibição de dez cases brasileiros inscritos no Cannes Lions 2024 selecionados pelas dez agências brasileiras mais premiadas no festival nos últimos três anos — todas elas voltam a Cannes em 2024 na esperança de preservar ou ampliar a caça aos Leões. Esse ranking, que leva em consideração a pontuação gerada pelos troféus conquistados de 2021 a 2023, período após o hiato causado pelo cancelamento da edição de 2020, é liderado pela Africa Creative, seguida por VML, AKQA, Gut, AlmapBBDO, David, FCB, Ogilvy, Wieden + Kennedy e Soko. Os presentes puderam escolher seus cases preferidos e apontaram o filme “Tormenta”, da AlmapBBDO para O Boticário, como melhor entre os exibidos, com 34% dos votos. Em segundo lugar, com 21%, ficou “The Dove Code”, campanha global criada pela Soko para Dove, da Unilever. O pódio se completou com um empate tríplice, de cases com 10% dos votos cada: “Brahma Phone”, da Africa Creative para Brahma, da Ambev; “Placa Gandula”, da Gut para Mercado Livre; e “Calvo Drive-Thru”, da David para Burger King.

A exibição prévia de cases favoritos aos Leões de Cannes foi o pontapé inicial na extensa curadoria de conteúdo que Meio & Mensagem fará. Nesta edição, iniciamos a série de reportagens semanais que, até julho, debaterão temas suscitados pela atenção dada pelo mercado ao evento e analisar tendências surgidas nas premiações e seminários sediados no Palais des Festivals, na semana de 17 a 21 deste mês. Antecipando alguns dos cases que devem ganhar os holofotes no tapete vermelho que enviaram listas de campanhas internacionais. O franco favorito é “WoMen’s Football”, da Marcel Paris para a operadora Orange, que usou deepfake para colocar rostos de jogadores homens sobre os de atletas mulheres em grandes lances da Copa do Mundo de 2023 — a intenção era a de surpreender os espectadores quando revelado que o que estavam assistindo era futebol feminino e não masculino. O case chega a Cannes chancelado por quatro Grand Prix no Clio Awards, o Best of Show do One Show e um dos quatro Black Pencil do D&AD — no caso desses dois últimos festivais, esses são os prêmios principais.

Paralelamente à expectativa pelos Leões, se aquecem debates sobre temas que cercam o festival, como a questão de equidade e inclusão, ainda longe do ideal. A correção de rota em curso tenta deixar o Cannes Lions, ambiente tradicional de privilégio, menos excludente para grupos minorizados, como os de pessoas pretas, da comunidade LGBTQIA+, com deficiência e de periferias. Esse é um dos pontos que, se não receber a atenção devida, podem tirar o brilho do junho dourado.

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