LGBTQIAPN+ no mundo corporativo: liderar com orgulho

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Opinião

LGBTQIAPN+ no mundo corporativo: liderar com orgulho

Embora conter nosso verdadeiro eu possa às vezes ajudar a resolver problemas no curto prazo, isso pode limitar a confiança gerada e, por extensão, nossa capacidade de liderar


23 de junho de 2023 - 6h00

Diversidade

(Crédito: Andrey Popov/ Shutterstock)

Tendo nascido em um país – a Itália – onde a palavra “tradição” define boa parte da cultura, fui acostumado a ser low profile com relação ao fato de pertencer à comunidade LGBTQIAPN+. Meu coming out veio relativamente tarde, aos 24 anos de idade e, mesmo depois, tentei desassociar minha vida pessoal de minha vida profissional, mantendo uma postura de autopreservação.

Felizmente hoje em dia me encontro em um momento muito diferente: desde que ultrapassei o marco dos 40 anos, aprendi a me importar menos com o que as pessoas pensam sobre minha vida particular. É verdade que quando você fica mais velho existe um componente de desinteresse em relação ao julgamento alheio!

Porém, devo dizer que há também um componente de orgulho.

Orgulho. Essa palavra andou crescendo comigo ao longo de minha carreira e ganhou ainda mais força quando me tornei diretor e sócio de uma das maiores consultorias de branding do mundo. Assim que isso aconteceu, vários membros da comunidade LGBTQIAPN+ que trabalham conosco vieram me dar parabéns, e a frase que mais me marcou foi: “Essa sua promoção é um símbolo muito importante para todos nós!”. Lá estava eu, que até meus 40+ tentei esconder minha vida pessoal no ambiente de trabalho como se fosse uma vergonha, agora me tornando um símbolo de representatividade para algumas pessoas da empresa.

E quando penso em branding, creio que uma espécie de “mágica” tenha me acontecido: simplificando muito, nosso trabalho é transformar a vida das pessoas por meio das marcas e do conjunto de momentos relevantes e significativos que proporcionam. Certamente algo parecido aconteceu com meu branding pessoal.

Nessa jornada de descoberta percebi que muitas pessoas que pertencem à comunidade LGBTQIAPN+ já sentiram ou sentem ainda a necessidade de mudar ou esconder algum aspecto de si mesmas, para se encaixar ou progredir no trabalho e na vida. Mais frequentemente do que pensamos, os membros da comunidade LGBTQIAPN+ não se sentem confiantes o suficiente para enfrentar certas situações e muitos se fazem perguntas como: “Serei escolhido para trabalhar no projeto se eu for abertamente gay?”, “Devo aderir a um padrão específico para ter uma carreira de sucesso no meu setor?”, “E se a empresa preferir selecionar uma ‘pessoa heterossexual’ para este trabalho?”, “Como me comporto se tiver que lidar com um colega/cliente/parceiro homofóbico?”.

Os membros da comunidade LGBTQIAPN+ vivem ainda desafios diários. Por exemplo, já pararam para pensar que dizer às pessoas que você é gay leva-as direto para sua vida privada? Instantaneamente dá às pessoas uma visão bastante gráfica de sua vida sexual. É desconfortável pensar nisso, não é mesmo? Em 2023 existem ainda países como o Irã, a Arábia Saudita e a Nigéria onde a homossexualidade é punida com a pena de morte. Como viajar a lazer ou até mesmo a trabalho para esses lugares sentindo-se seguro? Eu mesmo já experimentei diversas vezes a sensação de desconforto quando estava vivendo uma carreira internacional como expatriado. E se a empresa me oferecer uma super oportunidade em um desses países, como deveria agir?

Também é fato que hoje muitos membros da comunidade LGBTQIAPN+ ainda têm receio de declarar a própria diversidade. Isso significa esconder o verdadeiro eu e ter que fingir ser, mesmo que esporádica ou parcialmente, outra pessoa. Acredito que se você não for capaz de ser quem você realmente é em qualquer aspecto da vida – portanto também no trabalho – direta ou indiretamente terá dificuldades em construir relacionamentos autênticos com colegas e clientes. Muito interessante nesse sentido é a teoria do Trust Triangle, que descobri lendo um artigo da Harvard Business Review, “Begin with Trust”, de Frances X. Frei e Anne Morriss. Segundo essa teoria, a confiança tem três motivadores: autenticidade, lógica e empatia. Quando a confiança é perdida, isso quase sempre pode ser atribuído ao colapso de um dos três motivadores. Se pensamos nas pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, a questão da autenticidade é central. Em nossa experiência, embora conter nosso verdadeiro eu possa às vezes ajudar a resolver problemas no curto prazo, isso pode limitar a confiança gerada e, por extensão, nossa capacidade de liderar.

Fazer parte da comunidade LGBTQIAPN+ é uma jornada. Tem sido para mim, que precisei de certa forma exorcizar a vergonha de ser diferente que me acompanhou a vida toda, mas também para todos que trabalham em qualquer companhia e que têm dúvidas sobre serem eles mesmo de vez em quando. No final, sempre acreditei que uma das forças da cultura de uma empresa deve ser a autenticidade das pessoas que trabalham em seu ecossistema. E mais do que nunca penso que é preciso valorizar o poder do indivíduo e da diversidade.

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