O ano começa com bombas simbólicas e reais
Destruição de ícones da identidade brasileira, vandalizados por extremistas, não foi apenas chocante e criminosa, mas o ápice de uma comunicação grosseira e violenta
Destruição de ícones da identidade brasileira, vandalizados por extremistas, não foi apenas chocante e criminosa, mas o ápice de uma comunicação grosseira e violenta
A posse do novo Presidente da República e a tentativa de golpe de apoiadores do seu antecessor são verdadeiras bombas semióticas na expressão de Wilson Vieira Ferreira em meio a uma guerra híbrida, que mescla táticas convencionais e digitais para desestabilizar o status quo.
A depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal por uma horda de golpistas é a antítese perfeita da caminhada de Lula subindo a rampa do Planalto, na cerimônia de posse, ladeado por pessoas que simbolicamente representavam nosso povo.
Uma cena exalta a tentativa de aniquilar instituições democráticas, em prol de um regime autoritário. A outra valoriza a democracia pela conciliação de diferentes forças institucionais. Uma, trouxe explosões de fúria e violência contra o patrimônio cultural e político. A outra, explodiu simbolicamente diante de nossos olhos inspirando humanidade nos corações e mentes.
A destruição de ícones da identidade brasileira obras de Di Cavalcanti, Victor Brecheret, entre outras, vandalizadas por extremistas não foi apenas chocante e criminosa, mas o ápice de uma comunicação ora grosseira e violenta, ora insidiosa, exercida à exaustão e reverberada pelas redes sociais, nos últimos quatro anos.
Bolsonaro com a boca suja de farinha e o cabelo ao estilo “desarrumado fake”, o inacreditável pronunciamento de Roberto Alvim, ex-Secretário de Cultura, “inspirando-se” em Joseph Goebbels, o gesto “casualmente” supremacista de um assessor do Planalto durante sessão do Senado. Foram muitas as imagens, falas e ações de incivilidade explícita, sempre incentivadas pela crença distorcida (e bastante difundida) de que ser livre é fazer o que se quer.
A cerimônia de posse de Lula, no polo oposto da barbárie, expressa genuinamente o sentido de liberdade. A entrega da faixa presidencial subverteu a tradição e surpreendeu o mundo. Um menino negro da periferia, um cacique defensor da Amazônia, um influenciador com deficiência física, uma catadora de recicláveis, entre outros representantes da diversidade do povo brasileiro, estrelaram a posse do novo mandatário. Não faltou lugar nem para a causa animal, presente na figura da cadelinha Resistência. Lá estava a ideia de que ser livre significa transcender as limitações impostas pela realidade e construir espaços onde todxs caibam e convivam com dignidade.
O raciocínio vale tanto para a cerimônia de entrega da faixa, quanto para a noite de 9 de janeiro, quando caminharam unidos sobre a Praça dos Três Poderes, os líderes máximos do Executivo, Legislativo e Judiciário, além de governadores e ministros. São simbologias que apontam para um verdadeiro e inclusivo regime democrático, e não para a brutalidade e a exclusão.
Se os anos Bolsonaro primaram pela vulgaridade vendida como autenticidade, o início do governo Lula 3 traz a promessa da sensibilidade como caminho para a superação de nossas dores enquanto nação. Se o bolsonarismo celebrou a liberdade de sermos truculentos, descuidados, preconceituosos, violentos e arrogantes, o ritual da posse de Lula enalteceu a liberdade de sermos melhores e maiores do que já fomos.
Esse é o significado de ordem e progresso. Sem entrar no mérito se a nova gestão terá sucesso ou fracasso, há uma semiótica em sua linguagem, renovadora, que traz a possibilidade de ruptura com o universo simbólico oferecido pela extrema-direita tupiniquim, tão afeito a confrontos e bizarrices com altíssimo potencial de viralização, mas também de deseducação cívica, política, cultural e pessoal. Os publicitários bem sabem que palavras, gestos, imagens e narrativas importam e muito! Que nós, profissionais do setor, sigamos fazendo a nossa parte ao zelar por uma comunicação mais empática, inclusiva, pacificadora e responsável em 2023+.
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