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Opinião

O lugar de mulher

Estimular as meninas, desde cedo, a manterem seus próprios interesses, mesmo que sejam em áreas majoritariamente ocupadas por homens, pode significar mais desenvolvimento da economia e do mercado


21 de março de 2024 - 6h00

Há alguns anos vivemos um importante momento de ressignificação do papel da mulher na sociedade, especialmente no ambiente corporativo. Ocupando uma série de espaços antes dominados por homens, atuando em muitas atividades antes tidas como masculinas, nós mulheres estamos finalmente galgando posições. No entanto, ainda há um longo caminho a trilhar até chegar à almejada paridade de gênero.

O estudo Panorama Mulheres 2023 (feito pelo Talenses Group em parceria com o Insper), que mapeou a participação feminina na alta liderança das empresas, mostrou um contínuo progresso, mas ainda lento. Desde 2017, primeiro ano da pesquisa, a porcentagem de mulheres na presidência das empresas, por exemplo, subiu de 8 para 17%. Já nos Conselhos de Administração, a evolução da presença feminina foi um pouco mais visível: de 10% em 2017 para 21% em 2023.

São várias as causas que ainda desaceleram as mudanças, a começar pelas questões culturais e a própria formação educacional e familiar básica das mulheres, que não as incentivam desde pequenas a ocuparem determinados espaços. Um exemplo disso é que o avanço da participação feminina é muito mais vagaroso nas áreas de tecnologia e operações, por exemplo.

A consultora e executiva Margareth Goldenberg, do movimento Mulher 360, salienta esse problema. “Não adianta falar que tem 40% de mulheres na empresa e depois vermos que a maioria está em comunicação, jurídico, financeiro, RH. E, quando ascendem à liderança, vão ser diretoras de RH, de marketing, jurídico”. De fato, a ascensão das mulheres, por enquanto, está concentrada nas áreas de suporte à gestão, como confirma o estudo Women in the Workplace, feito pela consultoria McKinsey em 2023.

Como sociedade, entendo que precisamos seguir estimulando as meninas, desde cedo, a manterem seus próprios interesses, mesmo que sejam em áreas majoritariamente ocupadas por homens. É preciso encorajar e não fazer o contrário. E esse estímulo pode significar também mais desenvolvimento da economia e do mercado.

Explico: em um estudo de 2020, a McKinsey já mostrava que diversidade de gênero na liderança pode levar uma empresa a ter uma performance financeira 45% superior. Afinal de contas, companhias com equipes plurais têm mais condições de estarem antenadas com os desejos de seus clientes/consumidores e menos chances de escorregões que custam reputações. As empresas de ponta já estão conscientes disso há alguns anos e vêm adotando práticas que apoiam a Diversidade.

Em nossa empresa, estimulamos a contratação, retenção e desenvolvimento das mulheres. Elas representam mais de 65% do nosso quadro de colaboradores, sendo que mais de 50% estão na liderança. Além disso, quase metade das nossas colaboradoras são mães e por isso temos diversas iniciativas para atender às suas necessidades.

As licenças maternidade e paternidades estendidas (para filhos biológicos ou adotados) e a possibilidade de realização de home office durante todo o primeiro ano da criança, além de sala de lactação no escritório e do serviço de suporte emocional, são algumas delas. Afinal, ser mãe não é um empecilho para o desenvolvimento profissional e as empresas que reconhecem isso já estão muito à frente no mercado.

No entanto, é preciso ir além da criação de iniciativas. O diálogo permanente, em que se constrói e reforça a cultura da inclusão, precisa acontecer para garantir a retenção dessas pessoas. Foi com esse objetivo que criamos, em 2020, o grupo QualiPlural, que proporciona um espaço para a discussão focado nas pautas de gênero, étnico-racial, LGBTQIAPN+ e PCDs, inspirando as equipes e trazendo resultados muito positivos. A cultura da diversidade chegou para ficar e o apoio da alta liderança tem sido fundamental nesse processo.

Dessa semeadura o fruto que se colhe é o ganho de produtividade e de inovação – e o papel das mulheres em posições estratégicas gera um círculo virtuoso de oportunidades para todos. Se uma empresa almeja um futuro sustentável, especialmente diante do olhar das novas gerações, cada vez mais politizadas e exigentes, deve entender que sua liderança precisa ser diversa. E para inspirar as meninas, precisamos repetir como um mantra: o lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive no comando de grandes, médias e pequenas empresas.

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