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Opinião

O próximo passo do home office

Deixamos de ser limitados aos perfis de uma região específica e os colaboradores podem ter qualidade de vida superior fora dos grandes centros urbanos, em regiões com custo de vida menor


28 de abril de 2021 - 15h00

Quando a gente pensa no desafio de trabalhar remotamente, garantir prazo, garantir qualidade para nossos clientes e garantir o bem-estar dos nossos colaboradores, bem, todos passamos por um grande processo de aprendizado no último ano onde nossas operações precisaram mudar bastante, quase que da noite para o dia. Adivinha o que aconteceu? Nós conseguimos. Mas pensando bem, quando lembramos cada projeto maluco, campanhas mirabolantes ou jobs que antes de ir para rua pareciam impossíveis, nenhuma surpresa que tenhamos conseguido passar por mais esse desafio.

A coisa mais óbvia que aprendemos sobre o home office é que ele funciona e que, inclusive, como aponta pesquisa da Harvard Business School, 81% das pessoas que estão em home office em razão da pandemia de covid-19 preferem continuar trabalhando remotamente ou em um sistema híbrido após o fim da crise.

Futuro do trabalho será dividido entre casa e escritório (Crédito: nensuria/Istock)

Pensando sobre benefícios do home office, nos vem à mente o tempo que deixa de ser gasto com transporte e a possibilidade de gastar esse tempo (e essa energia), com outras atividades no cotidiano, seja fazer um treinamento para aprimoramento de skills, estudar um outro idioma, ter um hobby ou simplesmente passar mais tempo com quem amamos, mas existe muito mais em jogo.

Todos estamos passando pelo processo de contratar colaboradores de forma remota, sejam freelas, sejam realmente CLTs. Muitos de nós, já estão com mais de 40% das equipes renovadas ou mesmo squads inteiros formados já no modelo remoto, e nisso começamos a refletir sobre as possibilidades que teríamos para próximos passos, como, por exemplo, a contratação massiva de colaboradores que não estão necessariamente na mesma cidade ou até no mesmo estado que nós.

Tendo em mente a possibilidade de contratações remotas em grandes distâncias, automaticamente uma série de benefícios podem ser percebidos diretamente para o negócio. Afinal, deixamos de ser limitados aos perfis que estão em uma região específica e que muitas vezes estão escassos; nossos colaboradores conseguem ter uma qualidade de vida superior tendo a liberdade de sair de grandes centros urbanos para regiões com custo de vida mais baixos e qualidade de vida superior (aliás, todos nós em algum momento flertamos com essa ideia). Mesmo os que pretendam seguir vivendo em grandes metrópoles são beneficiados com um esvaziamento urbano que, naturalmente, reduz custos de vida. Outro ponto se pensarmos mais longe, extrapolando nosso mercado, o impacto para nosso país, que, historicamente, sempre consolidou a produção de riqueza em pequenas regiões, agora, pela primeira vez em sua história, tem a possibilidade de uma pulverização que levará a um desenvolvimento mais equilibrado.

Voltando ao nosso mercado, a partir do momento que falamos de comunicação, trabalhar com profissionais de um eixo específico tendo em mente tamanha pluralidade e diversidade em nosso país, é simplesmente uma loucura. Claro, hoje nós temos nas nossas agências bastante diversidade, e continuamos lutando para aumentá-la através de programas de inclusão e diversidade adicionando aos nossos times profissionais dos quatro cantos do Brasil, de diversas origens sociais e etnias, mas isso poderia ser infinitamente mais amplo através de um processo mais pleno de trabalho remoto que permitirá não apenas a experiência de origem, mas também a vivência do dia a dia, que certamente ajudará a manter o frescor tão necessário para que nosso trabalho se mantenha relevante.

Claro, por enquanto, acaba sendo difícil colocar isso em prática, pois há procedimentos que todo nosso mercado precisará se preparar para se adaptar. Parte tem exclusivamente nossa responsabilidade e parte depende de uma evolução legislativa que facilite esse tipo de prática.

No que depende de nós, o ponto é atualizar nossas áreas internas como facilities, tendo contratos mais eficientes com transportadoras e empresas locadoras de equipamentos, de modo que consigamos disponibilizar recursos em longas distâncias. Do ponto de vista de governança, compliance e TI, negociações com as nossas holdings, parceiros e veículos, simplificando processos para conseguirmos conceder recursos como acessos a redes, VPNs e ferramentas de mídia, sem deixar de lado, é claro, a segurança.

O RH por sua vez tem um desafio relacionado principalmente à Medicina do Trabalho e a questão de exames ocupacionais. A Medida Provisória 927, de 22 de março de 2020, que suspendeu a obrigatoriedade dos exames ocupacionais até o final de julho do ano passado, até trouxe certa expectativa de mudanças no panorama. Mesmo com resoluções, que disciplinem a telemedicina no Brasil (CFM Nº 2227/2018), surgiram inúmeros debates sobre o tema. Entretanto, conforme divulgado pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), o Conselho Federal de Medicina esclareceu no Processo-consulta CFM nº 8/2020 – Parecer CFM nº 4/2020, que, infelizmente, é vedada a realização de exames médicos ocupacionais com recursos de telemedicina sem proceder o exame clínico direto no trabalhador. Nessas condições, existe o desafio de encontrar parcerias eficazes, que possibilitem a aplicação dos exames em colaboradores em alcance nacional para que possamos, de fato, exercer o trabalho remoto de maneira mais plena e ampla.

Temos, então, algumas coisas para refletir. Questões precisam ser resolvidas para conseguirmos atualizar nossas estruturas para dar o próximo passo no trabalho remoto. Passo esse que será crucial para o desenvolvimento e manutenção do nosso mercado. No meu entendimento, aqueles que saírem na frente e anteciparem essa nova realidade se comprometendo na viabilidade dessa transformação, colherão frutos e terão vantagens competitivas realmente expressivas, que podem se refletir em grandes mudanças em nosso mercado.

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