O tatame na sala de reunião
Jiu-jítsu me ensina a encontrar conforto no desconforto e enxergar possibilidades onde parece não haver saída
De segunda a sexta, coloco o quimono e vou para o tatame. Para alguns, pode ser apenas mais um esporte de combate, mas, para mim, é um exercício diário de vida. O jiu-jítsu, a chamada “arte suave”, é também uma filosofia, e não deixa de ser um espelho da minha trajetória como CEO, empreendedor e empresário.
O tatame ensina, antes de tudo, a encontrar conforto no desconforto. Muitas vezes você está embaixo, pressionado, sem ar, sufocado pelo peso do adversário. É justamente aí que precisa respirar fundo, acalmar a mente e enxergar possibilidades onde parece não haver saída. Nos negócios acontece o mesmo: quando a pressão é maior, quando parece que não há alternativas, é nesse momento que a criatividade e a estratégia surgem para virar o jogo.
Outra lição essencial: no jiu-jítsu não existe derrota. Ou você vence, ou você aprende. Cada finalização é um convite à evolução. Cada erro é matéria-prima para o próximo acerto. É assim também no mundo empresarial: um “não” de cliente, uma campanha que não performa, um projeto que não sai como planejado. Nada disso significa fracasso. São capítulos de aprendizado que fortalecem a jornada.
O tatame também mostra que não é sobre força bruta; é sobre técnica. Sobre respiração. Sobre velocidade de pensamento, criatividade. Quem vence não é necessariamente o mais forte, mas o mais estratégico, o mais paciente, o mais criativo. A publicidade, do mesmo modo, não premia o maior orçamento, mas a ideia mais inteligente, a execução mais precisa, a capacidade de surpreender.
Existe ainda um pacto silencioso entre parceiros de treino: confiança e lealdade. Seu colega pode, literalmente, machucar você. Mas ele vai parar o movimento no instante em que você bater a mão no tatame. Esse exercício diário de confiança é a mesma base que sustenta grandes parcerias no mundo dos negócios. Nenhuma agência cresce sem sócios confiáveis, clientes leais e colaboradores em quem se pode apostar de olhos fechados.
Indo além, talvez a lição mais profunda do jiu-jítsu seja a humildade. No tatame, todos são iguais. Não importa sua conta bancária, seu cargo, seu CEP. O zelador que treina como bolsista pode dominar o alto executivo. Muitas vezes é isso o que acontece — porque ele quer mais. O quimono nivela a todos. Essa realidade é um lembrete poderoso para qualquer líder: por mais conquistas e títulos que você acumule, sempre haverá alguém mais preparado, mais técnico, mais ágil. Reconhecer isso é libertador. A humildade abre espaço para ouvir, aprender e evoluir.
Existe também o valor da disciplina. Muitas vezes eu acordo cansado. A cabeça ainda cheia de reuniões, viagens, metas e cobranças. Em várias manhãs, já pensei em não ir, em aproveitar alguns minutos a mais na cama, em arrumar uma desculpa. Mas escolho deixar isso de lado e vou. Se estou no Rio, estou no tatame. Essa constância é, talvez, o maior treino de todos: o de não desistir. Porque na vida — como no jiu-jítsu e nos negócios — quem persiste, evolui.
Por fim, fica a lição do eterno aprendizado. Meu mestre uma vez me disse algo que nunca esqueci: “Muita gente chega na faixa preta e para. Você tem tudo para pegar a faixa preta no final do ano. Mas é aí que o jiu-jítsu realmente começa.”
Essa frase me fez refletir muito. É assim na luta, mas também na carreira e na vida. Ninguém se forma de verdade. Conquistar a faixa preta não é o fim, mas o começo. Da mesma forma, quando me formei em publicidade, não entrei imediatamente nas melhores agências, nem ganhei os prêmios mais sonhados. Foi preciso continuar estudando, treinando, errando, tentando, evoluindo. Cada conquista é apenas mais um degrau. O aprendizado nunca acaba.
O jiu-jítsu me ensina todos os dias que liderança é como lutar no tatame: exige disciplina, humildade, técnica e confiança no outro. Tanto no esporte quanto nos negócios, a verdadeira vitória não está em nunca cair, mas em levantar-se sempre, melhor, mais forte, mais consciente.