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Opinião

Precisamos falar sobre Daniel Kahneman!

Estudar o pensamento de Kahneman deveria ser matéria obrigatória em todo e qualquer curso universitário, pois nos ensina a apreciar a beleza da incerteza ao nosso redor


12 de abril de 2024 - 6h00

Num lapso quase irreparável, deixei minha rotina corrida eclipsar a notícia da morte do pai da economia comportamental, Daniel Kahneman, ocorrida no final de março deste ano.

E por que você deveria se importar com isso? Tirando de lado o feito de um psicólogo ter ganhado o prêmio Nobel de Economia, Daniel, ao longo de mais de meio século de estudos sobre a mente humana, fez o grande favor de calçar na humanidade as sandálias da humildade, dissecando nossa superestimada racionalidade, enaltecendo a importância da intuição, e concluindo que nós somos não muito mais do que um amontoado de pensamentos viciados, superconfiantes e soberbos em acreditar, por exemplo, que o sucesso profissional decorre apenas de esforço e talento.

Meu primeiro contato com sua obra foi em 2008, durante meu MBA no INSEAD. Logo de cara, Kahneman me ensinou a explorar a imensidão de minha própria ignorância, sugerindo que nós enxergamos as coisas não como elas são, mas como nós somos. Enquanto tomamos decisões, nossas mentes nos cegam com uma nuvem de vieses, tentando traçar caminhos mais curtos para justificar nossas convicções preexistentes. “Podemos estar cegos para o óbvio e cegos também para a nossa cegueira”.

Com seu humor afiado, o Israelense destilava provocações maravilhosas para quase todo tipo de assunto, desde felicidade, religião, intuição e finanças. Diferente de filósofos e de economistas, ele derivava suas teses de uma mistura original, trazendo estatística aplicada a estudos clínicos. Sua genialidade o fazia atuar como uma espécie de cientista de comportamentos.

Em suas várias palestras em eventos renomados, Daniel não tinha pudor algum em responder a questões com um simples e curto “eu não sei”. Isso é reconfortante quando vindo de um dos maiores pensadores da mente humana. Da escola de Kahneman, vieram dezenas de pesquisadores e escritores como Nassim Taleb (A Lógica do Cisne Negro), Malcom Gladwell (Outliers), Charles Duhigg (O Poder do Hábito), Richard Thaler (Nudge) e Adam Grant (Pense de Novo). “Há uma limitação desconcertante de nossa mente: nossa confiança excessiva no que acreditamos saber, e nossa aparente incapacidade de admitir a verdadeira extensão da nossa ignorância e a incerteza do mundo em que vivemos.”

Estudar o pensamento de Kahneman deveria ser matéria obrigatória em todo e qualquer curso universitário, pois nos ensina a apreciar a beleza da incerteza ao nosso redor. Em um mundo cada vez mais cheio de convicções de botequim, sugar a essência de sua obra é entrar num prazeroso estado de paz com a nossa própria ignorância. E ao fazer isso, nos tornamos automaticamente mais inteligentes.

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