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Opinião

Quem é o profissional de comunicação do futuro?

Todo profissional que trabalha com produção de conteúdo, seja na imprensa, na publicidade ou em relações públicas inevitavelmente irá utilizar informações obtidas através de alguma técnica de análise de dados


14 de agosto de 2020 - 14h00

(Crédito: Reprodução)

Da fundação do primeiro jornal impresso ao surgimento da internet em escala comercial se passaram quase 400 anos. Nesse período, quatro grandes marcos tecnológicos transformaram as comunicações: a fotografia, o rádio, a televisão e a comunicação via-satélite. Nos últimos 30 anos, porém, o processo de revolução tem sido praticamente ininterrupto e já se tornou quase tão natural quanto acender uma lâmpada. 

Em 1965, um artigo publicado pelo físico norte-americano Gordon Moore, que se tornou um dos cofundadores da Intel, explicava um padrão para a indústria de tecnologia de que o volume de transistores em um microchip dobraria a cada 18 meses, aumentando, portanto, a capacidade de processamento na mesma proporção. Esse artigo, que ficou conhecido como Lei de Moore, foi um balizador para o mercado por pelo menos 50 anos.

Hoje, no entanto, o campo da inteligência artificial se torna a nova realidade do mercado e exige capacidade de processamento de máquina infinitamente maior. Esse aspecto tem levado o investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para áreas como a computação quântica em vez dos sistemas convencionais baseados em estruturas separadas de processamento e armazenamento de dados, como são – grosso modo – os nossos computadores e smartphones. Não que a Lei de Moore tenha deixado de fazer sentido. O que mudou foi a realidade do mercado.

Indiscutivelmente, comunicação é o processo social fundamental para a evolução da humanidade. Das pinturas rupestres em cavernas à Academia de Atenas, o homem deixou sua marca e mudou sua maneira de se relacionar ao longo dos anos. A Grécia é o principal exemplo de transmissão de conhecimento da sociedade ocidental. Foi o berço da Filosofia, do Direito e de todas as grandes ciências humanas, mas também da lógica matemática.

Tão antiga quanto a filosofia pela qual Sócrates se notabilizou, temos a física e a mecânica já estudadas por Arquimedes. Da dialética de Platão e Aristóteles à geometria de Pitágoras, o pensamento crítico é a junção do olhar humano e os aspectos do mundo físico e da natureza.

Mas, o que isso tem a ver com o profissional de comunicação? Tem muito.

O olhar humano e a visão crítica têm sido os principais atributos do profissional de comunicação ao longo dos séculos, o que o tornou notável formador de opinião. No entanto, o mundo passa por um intenso processo de transformação. Numa sociedade em que todos têm voz e são capazes de influenciar, como características tão subjetivas podem representar um diferencial? O pensamento crítico sempre será essencial, assim como a criatividade, a habilidade de expressar uma ideia e a capacidade de se comunicar em outros idiomas. Mas são características extremamente básicas.

Nós, enquanto profissionais de comunicação, hoje discutimos modelos de negócio data-driven como se fosse uma grande tendência. Infelizmente, não é uma tendência, mas uma realidade há anos. Aliás, a sociedade se findou exatamente por sua capacidade de analisar dados ou padrões.

Os Maias, por exemplo, desenvolveram um dos sistemas agrícolas mais eficientes da história a partir da observação de fenômenos como eclipses solares e lunares e deixaram como influência o calendário de 360 dias, até hoje usado como padrão em para cálculos no sistema financeiro e contábil. Os europeus da Idade Média aperfeiçoaram as técnicas de observação de estrelas para criar os mapas celestes e utilizá-los como pontos de referência para os sistemas de navegação, o que proporcionou, séculos mais tarde, a conquista do espaço.

Para usar uma situação contemporânea, a pandemia de covid-19 está ressignificando o jornalismo, mostrando o quanto continua sendo necessário para a transformação social. O pensamento crítico tem dividido cada vez mais espaço com o raciocínio lógico, o que permitiu que profissionais da imprensa comunicassem de forma clara à população o que é uma curva de crescimento em progressão geométrica, ao explicar o avanço do contágio do novo coronavírus.

Hoje, todo profissional que trabalha com produção de conteúdo, seja na imprensa, na publicidade ou em relações públicas inevitavelmente irá utilizar informações obtidas através de alguma técnica de análise de dados. Assim como o uso de computadores e de internet revolucionou o mercado de comunicação há 25 anos, a capacidade para extrair informações a partir de um volume de informações aparentemente desconectadas se torna um pré-requisito para o profissional.

Mais do que aliar visão crítica e raciocínio lógico, o pensamento estratégico é baseado na premissa de que é possível estabelecer indicadores ou métricas para absolutamente tudo, até mesmo para o que é subjetivo, seja em uma empresa, um governo ou entidade. Um exemplo: um hospital determina a prioridade de atendimento em um grupo de pacientes de acordo com o nível de tolerância à dor de cada um deles. Essa informação, geralmente, é obtida durante o atendimento na triagem no qual o paciente classifica seu nível de dor em uma escala que vai de zero a dez. É uma tomada de decisão estratégica para o hospital.

Feeling? Não mais. Seja uma calculadora financeira ou uma plataforma de análise de Business Intelligence, como o Tableau ou Power BI, o profissional de comunicação que não domina técnicas de extração de insights já está em desvantagem no mercado.

Mas, a inteligência artificial irá tomar o lugar do profissional de comunicação? De muitos, provavelmente, mas não como fez HAL 9000, o sistema criado por Arthur Clarke e Stanley Kubrick em 2001. Faz parte de transformação do mercado e não é a primeira vez que irá acontecer. Ao longo desses últimos 25 anos, vimos modelos de negócio consolidados ruírem, como locadoras de filmes, operadoras de serviços de pager, fabricantes de filmes fotográficos e máquinas de escrever. Hoje é inconcebível pensar em um sistema de entretenimento que não seja por streaming, serviço de mensagem que não seja por um aplicativo, ou de fotografia e vídeo não ofereça a possibilidade de visualizar e compartilhar instantaneamente.

O mercado se reinventa sistematicamente. Mais do que a capacidade de analisar informações, o profissional de comunicação de um futuro muito próximo precisará dominar técnicas de programação. Afinal, alguém irá ensinar comunicação para os algoritmos.

*Crédito da foto no topo: Eugenesergeev/iStock

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