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Opinião

Seja um profissional bom de balão

Em 2021, rolou a primeira edição da Copa do Mundo de Balão. Isso mesmo. Copa-do-Mundo! E com 600 mil espectadores assistindo ao vivo


28 de setembro de 2023 - 6h00

Imagina que você está no aniversário do seu sobrinho. Minutos antes da criançada estourar os balões, você pega um da parede e decide brincar com o aniversariante. A regra é simples: quem deixar o balão cair, perde. Você começa sacando, o sobrinho devolve. Você rebate, dessa vez dificultando o lance, talvez com alguma finta. O sobrinho não cai nessa. Você pensa: “Não tem mais bobo no Balão”. Mas aí, em determinado momento, você faz a jogada definitiva, cortando o balão por cima da mesa em que estão o bolo e o que restou dos docinhos (que foram furtados ao longo da festa). O sobrinho corre, desvia da decoração, e ainda com esperança, tenta salvar o lance. 1×0 para você.

Não há dúvidas que jogar balão é um dos grandes esportes das festas infantis. Mas será que ele é grande o suficiente para ter alguma marca como patrocinadora?

Em 2021, rolou a primeira edição da Copa do Mundo de Balão. Isso mesmo. Copa-do-Mundo! Um evento criado pelo espanhol Ibai Llanos, um dos maiores streamers do mundo, em que atletas (dá pra chamar assim?) de diversos países se enfrentaram para decidir quem seria o campeão mundial. As regras eram as mesmas da festa infantil, mas no lugar da família, estavam 600 mil espectadores assistindo ao vivo a vitória do Peru. E em vez da mesa do bolo, uma super arena com vários obstáculos como sofás, fliperamas e um carro modelo da montadora patrocinadora do evento.

E você acha que o Ibai parou por aí? Nananinanão. Depois dessa primeira, teve uma segunda edição e diversos outros eventos, incluindo uma luta de boxe que bateu todos os recordes da Twitch e contou com vários patrocinadores.

Influenciadores viraram canais de TV. Mais do que falar da própria vida ou ensinar hacks, essas pessoas estão produzindo entretenimento a partir de qualquer coisa. Conteúdo que não vive só on demand, mas que você pode consumir ao vivo. Faz sentido. Ouvir uma música é legal, mas ir ao show é outra experiência.

É o que um ex-chefe batizou de TV 3.0. Um conceito paralelo ao de web3. Basicamente, a TV 1.0 é aquela em que a programação tem horário definido. A novela começa às 8h e é você que precisa estar lá naquele horário para assistir. A TV 2.0 é a dos serviços de streaming. O conteúdo está disponível e você assiste a hora que quiser. Já a TV 3.0 é aquela em que você pode fazer parte do entretenimento que consome.

Nascida em uma época já influenciada pelos games, é uma TV que usa a interatividade para trazer o público para dentro do conteúdo. No caso da Copa do Mundo de Balão, a galera que estava assistindo podia comentar no Chat do Ibai e influenciar o conteúdo, mesmo que apenas superficialmente. Em casos mais complexos, streamers utilizam extensões para deixar o público controlar objetos de suas transmissões.

A TV 3.0 não tem as mesmas amarras das “outras TVs”. As produções podem ser mais flexíveis, os talentos são os próprios influenciadores e os órgãos reguladores não são os mesmos. Por outro lado, o público costuma ser fiel, parte de uma comunidade que abraça esses influenciadores e suas histórias. Um prato cheio para qualquer marca.

Basta olhar um exemplo aqui “de casa”. Um influenciador que montou sua própria TV, por onde você provavelmente assistiu às últimas Copas. Nem preciso falar o nome, você sabe quem é e já deve ter procurado anunciar no canal dele.

Moral da história: a TV 3.0 não é o sobrinho, nem o adulto. Ela é o balão que você não deve deixar cair.

E como falamos lá atrás: “Não tem mais bobo no Balão”.

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