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Spoiler, House of Cards e o big data

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Opinião

Spoiler, House of Cards e o big data

O mapeamento, análise e gestão inteligente de dados veio para ficar nos negócios, na publicidade, na política — e não há mais criatividade ou insight que possa caminhar sozinho


14 de abril de 2016 - 8h00

Nem todo o charme de Claire Underwood esconderá o fato de que há um inesperado protagonista na quarta temporada de House of Cards. O big data — sim, ele mesmo — é a mais nova estrela da série, sendo responsável por incríveis guinadas e alta tensão na disputa de poder entre republicanos e democratas nos Estados Unidos.

O big data entra na trama com um jovem republicano que sabe tirar proveito da dobradinha mídias sociais/dados. Ele obtém vantagem na corrida presidencial porque sua performance é baseada em análise preditiva. Com um celular nas mãos e muita informação na cabeça, o candidato publica vídeos endereçados
ao desejo do seu eleitorado. Ele aprende que tipo de vídeo mais gostam, que tipo de reação gera cada vídeo e, de tweet em tweet, estabelece um diálogo caloroso e efetivo com a sua audiência. Assim que os Underwood entendem o poder dos dados, porém, o jogo começa a virar.

Se Barack Obama venceu com as mídias sociais, os candidatos de House of Cards cantam a bola da vez: big data. O mapeamento, análise e gestão inteligente de dados veio para ficar nos negócios, na publicidade, na política — e não há mais criatividade ou insight que possa caminhar sozinho a partir de agora. A mensagem comovente, o vídeo impactante ou o produto perfeito apenas fará sucesso se entender (e atender) as reais expectativas da audiência.

Autenticidade vale ouro — e está localizada não no que pessoas dizem gostar e fazer, e sim no que de fato gostam e fazem. O abismo entre discurso e ação — que as pesquisas qualitativa e quantitativa não conseguem suplantar por completo — a tecnologia de dados elimina. O big data mostra a vida como ela é: que lugares a pessoa frequenta (com check-in e geolocalização), a que vídeos assiste (no YouTube, Facebook, Instagram etc), o que compra (em que sites, com que meios de pagamento, se por mobile ou desktop), que assuntos gosta e desgosta.

Tudo em tempo real, proporcionando velocidade e veracidade ao processo de análise e gestão do conhecimento obtido. House of Cards, em um movimento metalinguístico, é ele próprio um case de inteligência estatística. A série já existia no Reino Unido e foi escolhida para ser recriada e lançada mundialmente com o diretor David Fincher e os atores Kevin Spacey e Robin Wright. Não por uma
aposta em seus talentos individuais, mas por uma sólida predição de dados.

A identificação e análise das preferências da audiência apontou os nomes desses profissionais para compor o time que se provou vencedor. A publicidade da série trilha o mesmo caminho. Assinantes do Netflix que consomem mais programas com personagens femininos fortes foram impactados com uma propaganda estrelada por Robin Wright; já Kevin Spacey apareceu no teaser para os usuários que assistem a mais programas com protagonistas masculinos.

O comportamento dos assinantes direcionou, ainda, o modo de apresentação das temporadas: os episódios passaram a ser disponibilizados todos de uma vez só, não mais de forma fracionada. Precisão cirúrgica para resultados de blockbuster: House of Cards se tornou o maior exemplo de produção original do Netflix, conquistou milhões de fãs e rendeu um Globo de Ouro de melhor ator em série de drama para Spacey em 2015. A quinta temporada já está no forno.

Para além da indústria do entretenimento, o big data também rouba a cena. Imagine que o lançamento de um carro seja centrado na sua aparência exterior, para valorizar o novo design, meticulosamente criado para traduzir potência e conforto. No entanto, o mapeamento das conversas nas redes sociais e de pesquisas em sites de busca indica que muito mais relevante seria mostrar o interior do carro, já que a parte externa todo mundo vê nas ruas. A partir desse diagnóstico é possível aprimorar a jornada do consumidor, entregando a informação que ele realmente deseja para tomar sua decisão. Viradas como
essa são factíveis e já acontecem no mercado.

Os dados não são, obviamente, a panaceia para todos os desafios da comunicação. Em estado bruto, sem inteligência, morrem na praia. Se mal utilizados, violam a privacidade e perdem a credibilidade. Sem eles, porém, perdemos uma série de comodidades e segurança incorporadas à nossa rotina digital. Como lembra um personagem de House of Cards: uma colher pode servir para comer, cozinhar ou preparar drogas. Não dá mais para viver sem ela, mas tem que saber usar.

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