Vida longa ao “ao vivo”
Ainda que plataformas digitais sejam relevantes para amplificar comunicação das marcas, nada substitui emoção dos eventos in loco
Ainda que plataformas digitais sejam relevantes para amplificar comunicação das marcas, nada substitui emoção dos eventos in loco
12 de setembro de 2022 - 14h00
Lendo algumas publicações da nossa indústria, é muito comum encontrar previsões de um futuro 100% digital. Tentam nos vender que sem os TikToks, sem os Facebooks, sem os Instagrams, sem os Snaps etc., nosso marketing (e as nossas vidas) não são nada.
Permita-me discordar dessa premissa.
Plataformas digitais, assim como as mídias que as antecederam, são muito importantes; não me entenda mal. Elas sempre terão um papel importante para amplificar a comunicação das marcas, mas são cheias de limitações e nunca serão suficientes. Há emoções que só sentimos quando vivemos algo em todos os nossos sentidos. Não há metaverso no mundo que substitua a emoção de um evento ao vivo.
Apesar do limitado alcance e do alto custo, o marketing de experiência – uma forma mais chique de se referir aos eventos ao vivo – oferece para as marcas oportunidades únicas de engajamento e recrutamento de fãs e consumidores. Por isso mesmo vemos tantas iniciativas nesta área aparecendo mundo afora.
Uma das minhas favoritas nem é tão nova assim. O Secret Cinema foi criado em 2007 em Londres para exibir filmes populares em prédios abandonados. Com o tempo, passou a fazer grandes produções de eventos em alguns dos espaços mais espetaculares do mundo. Recriando produções cinematográficas como 007 Cassino Royale, Stranger Things, Romeo e Julieta, Blade Runner a Moulin Rouge, o Secret Cinema conquistou uma multidão de fãs no Reino Unido. Nos seus eventos, o público é encorajado a interagir com os atores e com a história em si.
Outra iniciativa semelhante ao Secret Cinema, mas com o foco em esportes, é a dos também ingleses da Rematch (empresa onde tenho uma minúscula participação acionária).
A Rematch, que se autodefine como a “Máquina do Tempo do Esporte”, promete transportar os fãs para o passado para “reviver momentos esportivos icônicos através de eventos teatrais.” Através de um elenco de atores, música e moda da época, comida e bebida temática e uma série de atividades imersivas, promete dar vida ao dia como se os participantes estivessem lá.
Seu primeiro evento foi a famosa final de Wimbledon de 1980 entre Björn Borg e John McEnroe. Em 2023, recriarão a mais famosa luta de boxe de todos os tempos: a decisão do título mundial de pesos pesados de 1974, quando George Foreman e Muhammad Ali lutaram no Zaire (hoje, a República do Congo).
Outra prova de como os eventos ao vivo continuam atraindo multidões é a demanda insana para a Copa do Mundo do Catar. No final de abril, a Fifa informou que já havia recebido pedidos de compra de mais de 23 milhões de ingressos na sua última etapa de vendas.
Apesar da distância, dificuldade para encontrar ingressos e quartos de hotéis e – principalmente – dos elevadíssimos preços, o Brasil é um dos países com a maior procura nos sites da FIFA e da MATCH, o agente oficial responsável pelos pacotes de hospitalidade para o evento. Outros países com grande interesse são a Argentina, Inglaterra, França, México, Catar, Arábia Saudita e Estados Unidos.
Nem mesmo os e-Sports, os mais digitais de todos os esportes, estão imunes ao poder dos eventos ao vivo. No final de outubro e início de novembro deste ano, as quartas de final, semifinais e final do League of Legends Worlds acontecerão em Nova Iorque, Atlanta e São Francisco, respectivamente. As arenas que receberão os eventos têm capacidade entre seis e vinte e uma mil pessoas. Boa sorte aos que tentarem conseguir um dos disputadíssimos ingressos para assistir aos eventos.
Se você ainda dúvida do interesse crescente pelo marketing de experiência, pergunte para alguma das setecentas mil pessoas (estimadas) que foram ao Rock in Rio este ano. O maior evento de música do Brasil e um dos maiores do mundo, continua atraindo todas as gerações a cada edição no Brasil, Portugal e Espanha.
Não há como ignorar as formas digitais de comunicação, mas tampouco devemos pensar que elas substituirão completamente os tradicionais eventos.
As experiências do Secret Cinema, da Rematch, da Copa do Mundo, do Rock in Rio ou de um dos muitos eventos esportivos e culturais que acontecem todos os dias, são únicas, os vídeos da sua plataforma de mídias sociais preferida não. Assim que seus dedos fizerem a tela correr, você já terá esquecido tudo o que assistiu. As emoções que você viveu em um evento ficarão para sempre presentes na sua memória.
Vida longa ao “ao vivo”!
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