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Opinião

Viva e deixe morrer

Martin Sorrell pode ser dramático e ainda está ressentido pela forma como deixou o WPP. Mas não leva jeito para rasgar dinheiro


1 de outubro de 2018 - 11h05

Crédito: Vertigo3D/iStock

A relevância das reportagens publicadas na edição 1830 de Meio & Mensagem, caro leitor, reflete a temperatura do mercado exposta em negócios emblemáticos para a indústria da comunicação anunciados na semana passada — e cujos desdobramentos certamente influenciarão os rumos dos negócios no setor nos próximos anos, por aqui e pelo mundo.

Na segunda-feira 29, o Grupo Globo anunciou a mais ambiciosa transformação da companhia em termos de estrutura em sua história recente. “Uma Só Globo” tem como objetivo transformar a TV Globo, Globosat, Globo.com, DGCorp (Diretoria de Gestão Corporativa) e Som Livre em uma empresa unitária, em um prazo de três anos, a partir da integração de equipes e estruturas e do desenvolvimento de novas áreas de competência e novos negócios.

Se os planos da Globo não eram lá um grande segredo e já haviam sido aventados em conversas informais com altos executivos das divisões envolvidas, a confirmação de que a Accenture é a responsável pela arquitetura e execução do projeto fez barulho. O avanço da operação digital da consultoria sobre as verbas na área de marketing e mídia tira o sono de muitos players do mercado. “Os negócios de mídia estão se transformando aceleradamente no mundo todo. Queremos estar à frente dessas mudanças”, ponderou o presidente executivo do Grupo Globo, Jorge Nóbrega, sobre a motivação para a composição de novas bases.

Reportagem assinada por Bárbara Sacchitiello, publicada na edição impressa, mostra, no entanto, que não é a primeira vez que a parceria Globo-Accenture entra em campo. A maior empresa de mídia do Brasil já contratou a consultoria para mapear as novas tecnologias que impactarão o setor nos próximos anos. Também não é a única: a Record recentemente desenvolveu trabalho junto com a PwC na concepção de novos produtos e na reorganização de toda a sua divisão multiplataforma.

Na mesma segunda-feira, o The Wall Street Journal noticiava que o maior grupo de agências de publicidade, mídia e serviços de marketing anunciaria em breve mais um passo em seu processo de consolidação: a fusão entre as redes internacionais Y&R e VML, confirmada oficialmente pelo WPP dois dias depois. Foi provavelmente apenas a primeira das grandes transformações na holding que há um mês é regida pela batuta do CEO Mark Read. Se ao menos parte das conversas de bastidores e informações em off envolvendo a estrutura, lideranças e agências do WPP se confirmarem, os próximos dois trimestres serão bem movimentados para o grupo, inclusive no Brasil. A Wunderman, maior agência digital do grupo, já começou a reformular sua atuação, como relata a repórter Isabella Lessa – também na versão impressa.

Em rápida passagem por São Paulo, o ex-líder do WPP, Martin Sorrell, não se furtou a analisar as movimentações recentes do mercado cuja dinâmica ele basicamente estabeleceu, nas décadas de 1980 e 1990. Pelo contrário: parecia ávido em emitir suas opiniões e, como de costume, cravou frases de efeito para ressaltar seus pontos de vista.

“Há um provérbio que diz: espere nas margens do rio até que os corpos comecem a boiar”, afirmou Martin Sorrell, em conversa exclusiva com Meio & Mensagem, durante visita ao escritório da MediaMonks, produtora de origem holandesa adquirida por sua nova companhia, a S4 Capital, e a partir da qual pretende erguer seu novo império. Na entrevista, Sorrell explica por que não irá às compras com tanta voracidade nesse primeiro momento à frente do fundo de investimentos: ele espera uma grande disrupção no setor da comunicação e dificuldades para o mercado financeiro americano nos próximos dois anos. E parece se sentir bem com isso.

Sorrell pode ser dramático e ainda está ressentido pela maneira como sua gestão à frente do WPP foi encerrada, como ele próprio faz questão de ressaltar. Mas o Sir é sem dúvida o mais hábil multiplicador de divisas que a publicidade já conheceu. Se ele, aos 73 anos, está reinvestindo sua fortuna no próprio setor, as perspectivas para o nosso negócio não devem ser tão ruins assim. Vingança é um prato que se come frio, mas o Sir não leva jeito para rasgar dinheiro.

Por fim, a semana também marcou a divulgação da lista de indicados às 13 categorias do Prêmio Caboré. Após um longo processo de indicações das principais lideranças do mercado e criteriosa avaliação dos jornalistas e do conselho de Meio & Mensagem, agora é com você, caro leitor. A votação é exclusiva para assinantes e começa em 29 de outubro. O prazo máximo para escolher seus preferidos a conquistar o maior prêmio da indústria da comunicação nacional vai até 30 de novembro. Parabéns e boa sorte aos indicados!

 

*Crédito da imagem no topo: NataliaDeriabina/iStock

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