Notícias
O cenário brasileiro de desenvolvimento de jogos eletrônicos
Número de estúdios de desenvolvimento de games no Brasil vem crescendo, mas ainda enfrenta desafios regionais e de diversidade
O cenário brasileiro de desenvolvimento de jogos eletrônicos
BuscarNúmero de estúdios de desenvolvimento de games no Brasil vem crescendo, mas ainda enfrenta desafios regionais e de diversidade
Amanda Schnaider
26 de agosto de 2022 - 8h04
O cenário de games está em franca expansão. Segundo, o relatório mais recente da consultoria Newzoo, esse mercado deve girar em mais de US$ 200 bilhões no mundo este ano. Nesse contexto, o Brasil tem uma significativa representação. Atualmente, o País é o maior mercado de games da América Latina, com receita estimada de R$ 11 bilhões em 2021 e uma alta de 6% prevista para 2022, de acordo com a Newzoo.
O País ainda tem uma boa parcela de jogadores ativos. Segundo dados da nova edição da Pesquisa Game Brasil (PGB), principal levantamento do setor, 74,5% da população brasileira joga jogos eletrônicos, marca histórica desde o início do estudo. O índice teve aumento de 2,1 pontos percentuais quando comparado ao número de 2021.
Junto com essa alta no número de jogadores e na receita do setor no Brasil vem também o crescimento no número de estúdios de desenvolvimento de games no País. Nos últimos quatro anos, o Brasil passou de 375 estúdios para 1.009, uma alta de 169%. Esse dado pertence à 1ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games, realizada pela Abragames (Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais), em parceria com a ApexBrasil, divulgada em painel promovido pela Abragames no BIG Festival deste ano.
“Esse salto significa que as pessoas que enxergam o mercado dos games como uma oportunidade de empreender estão de fato mais confiantes em abrir um negócio na área e olham o setor como um lugar possível para o empreendimento”, revela o presidente da Abragames, Rodrigo Terra, reforçando que o Brasil está seguindo a tendência de consolidação e maturação do setor de games. “Esses fatores, como crescimento de mercado, consumo de jogos brasileiros e visibilidade da indústria, fazem com que o empreendedor tenha uma maior segurança”.
Na visão de Jhoniker Braulio, CEO da First Phoenix, empresa brasileira de desenvolvimento de jogos eletrônicos, esse crescimento no número dos estúdios brasileiros de jogos também tem crescido devido ao aumento da implementação do trabalho remoto. “Fazendo com que os estúdios tenham a oportunidade de oferecer trabalhos para empresas do exterior, recebendo os recursos financeiros em dólar, que é o sonho de muitos trabalhadores”, complementa.
Apesar do ambiente de produção cada vez mais digitalizado e da presença de estúdios em todas as regiões do país, o Sudeste ainda concentra mais da metade dos desenvolvedores (57%), seguido do Sul (21%), Nordeste (14%), Centro-Oeste (6%) e Norte (3%) do Brasil. Para Terra, isso acontece porque o mercado de jogos e desenvolvimento praticamente nasceu na região Sudeste, sendo os estados de São Paulo e Rio de Janeiro os primeiros, há 20 anos, a concentrarem as primeiras empresas da área.
Braulio ainda enfatiza que nessa região é onde se encontra os maiores eventos de jogos da América Latina, como a Brasil Game Show. Apesar disso, o CEO da First Phoenix, acredita que a diversidade já está em expansão, mas de uma forma mais discreta, com o trabalho remoto. André Freitas, CEO da DX Gameworks, publicadora e desenvolvedora de jogos brasileira, por sua vez, entende que essa concentração dos estúdios brasileiros na região Sudeste pode acontecer devido à boa parte dos cursos universitários se encontrarem nessa região. “A mudança vem com o tempo, e investimento. Investimento em educação e compartilhar conhecimento nas outras regiões”, fortalece.
A DX Gameworks, fundada em dezembro de 2020 pelos sócios André Freitas, Daniel Monastero, Lucas Farina e Rodrigo Souza, inclusive, investe em disseminação de conteúdo profissionalizante em Manaus, no Amazonas. “Estamos desenvolvendo a DX GAME ACADEMY para preparar profissionais presencialmente no norte do país, e iniciar profissionais online pelo resto do país. Temos um escritório grande na região, com mais de 50 profissionais incentivando muito os jovens e convencendo-os de que o mercado de games é uma alternativa viável de carreira”, complementa.
O setor ainda carece de diversidade. De acordo com o levantamento da Abragames, há cerca de 12.441 pessoas trabalhando com desenvolvimento de games no país, sendo que apenas 29,8% delas são mulheres. Esse número, porém, representava 20% em 2018 e 15% em 2014, o que revela uma alta discreta.
Além disso, mais da metade das empresas brasileiras de games, 57%, afirmam ter uma força de trabalho diversa, com transexuais, idosos, estrangeiros, refugiados, portadores de deficiência, pessoas pretas, pardas ou indígenas. “Aumentar essas porcentagens sobre diversidade é um caminho que toda a indústria, principalmente da economia criativa, está batalhando. Estamos batalhando para conseguir novos processos seletivos, melhores buscas de talentos e entendimentos”, comenta o CEO da Abragames, Rodrigo Terra, ressaltando que diversidade agrega valor para jogo porque você traz outros pontos de vista e perspectivas em relação às histórias, narrativas, formas de construção de jogo.
Apesar de o mercado interno estar crescendo, as desenvolvedoras brasileiras não sobrevivem apenas do mercado interno. De acordo com a pesquisa, só em 2021, 57% das desenvolvedoras venderam seus serviços e jogos a empresas de outros países. “O mercado de games é global. E com essa ótica, estamos com a economia a nosso favor. Custo em real, receita em dólar. Somos uma indústria exportadora”, salienta o CEO da DX Gameworks, André Freitas. Segundo ele, a dinâmica do mercado está mudando e abrindo uma plenitude de oportunidades para desenvolvedores menores e nichos de jogos específicos. “A demanda por jogos bons, divertidos, menores e mais segmentados deverá crescer muito no curto prazo, viabilizando vários estúdios menores a terem seus jogos jogados pelo mundo inteiro”.
Terra, da Abragames, entende que empresas brasileiras têm encontrado no mercado consumidor internacional um lugar muito ávido em relação às histórias e gameplays brasileiros. “Quando você é um consumidor de games, você vai muito pela empresa e pelo que ela já fez e não pela nacionalidade dela. Temos exemplos notórios. A CD Project Red, desenvolvedora de The Witcher, fica na Polônia e isso não significa nada para o jogador”, enfatiza o CEO, reforçando que o Brasil saiu do patamar de jogos super nichados para jogos de extrema qualidade, que não perdem em nada com o que existe lá fora.
Compartilhe
Veja também
O que falta para que a TV 3.0 seja implantada no Brasil?
Ecossistema encara desafios como custo e aquisição de novos receptores e sincronia entre redes das geradoras e retransmissoras
Jornalismo na era 4.0: desafios e saídas
Pyr Marcondes apresenta livro baseado em seus artigos para ajudar jornalistas a se adaptarem às transformações da produção de conteúdo