Opinião

O futuro das compras via IA

O que o ACP da OpenAI revela sobre o novo e-commerce

Tiago Dada

SEO e CRO manager na Cadastra 7 de novembro de 2025 - 6h00

A integração entre inteligência artificial generativa e plataformas de e-commerce inaugura um ciclo em que o clique deixa de ser o centro da jornada de compra. Parcerias como a firmada entre Walmart e OpenAI mostram que a experiência mediada por IA conversacional — capaz de compreender intenções, recomendar produtos e concluir transações em poucos comandos — está deixando de ser tendência para se tornar potencialmente estruturante.

Segundo a Future Market Insights, o mercado global de commerce conversacional deve movimentar cerca de US$ 8,8 bilhões em 2025, alcançando US$ 32,7 bilhões até 2035, com crescimento anual médio de 14,8%. Já a Mordor Intelligence projeta expansão para US$ 20,3 bilhões em 2030, consolidando esse formato como um novo eixo do varejo digital.

O Agentic Commerce Protocol (ACP), desenvolvido pela OpenAI, é um dos principais motores dessa mudança. Testado com o e-commerce da Etsy, o protocolo substitui o funil tradicional — busca, clique, carrinho e checkout — por uma jornada autônoma conduzida pela IA. O consumidor expressa sua necessidade e o sistema realiza todo o processo de compra, eliminando etapas intermediárias e reduzindo atritos.

Essa transformação redefine as bases do CRO (Conversion Rate Optimization). As otimizações visuais e microinterações perdem protagonismo. O foco migra para o backend: estrutura de dados legível por IA, precificação dinâmica, eficiência logística e políticas de devolução. Num e-commerce mediado por agentes inteligentes, a performance passa a depender de decisões estruturais, não mais de ajustes estéticos.

O ChatGPT deixa de ser apenas uma interface de informação e passa a atuar como canal de vendas e relacionamento. A IA assume o papel de curadora e agente de compra, conectando consumidores e marcas por meio de interações conversacionais. Parcerias com sistemas de pagamento como Stripe preservam a propriedade dos dados e o relacionamento direto com o cliente — ativos essenciais para personalização e fidelização.

Essa evolução impulsiona também o GEO (Generative Engine Optimization), nova etapa do SEO voltada a tornar marcas legíveis e relevantes para algoritmos generativos como ChatGPT, Perplexity e Gemini. O desafio agora não é apenas ser encontrado, mas ser compreendido e priorizado pela IA.

O commerce conversacional reposiciona big techs e varejistas no ecossistema digital. As inteligências artificiais tornam-se novos portais de comércio, capazes de rivalizar com marketplaces e buscadores tradicionais. Ao controlar descoberta, checkout e retenção, a IA passa a disputar o ativo mais valioso do varejo: o relacionamento com o consumidor.

De acordo com a Perficient, empresas que adotaram tecnologias de commerce conversacional registraram aumento de até 35% na taxa de conversão. Outro levantamento da SEO.AI mostra que o uso de chatbots baseados em IA gera crescimento entre 15% e 30% nas vendas online — sinal de que a eficiência conversacional já tem reflexos diretos nos resultados.

Do ponto de vista técnico, integrar catálogos, estoques e sistemas de pagamento a plataformas de IA em larga escala exige sincronização em tempo real, escalabilidade, padronização de APIs e conformidade com normas como PCI DSS e LGPD. É uma operação que precisa equilibrar desempenho, segurança e fluidez para garantir uma experiência sem fricção mesmo sob alta demanda.

O ACP, aliado a modelos generativos, amplia a automação comercial ao permitir que a IA compreenda intenções, recomende produtos e execute pedidos de forma autônoma. Essa automação reduz o tempo de decisão, minimiza o abandono e eleva as taxas de conversão. Em grandes operações, a inteligência em tempo real potencializa preços, ofertas e recomendações, gerando ganhos de eficiência e crescimento sustentável.

À medida que o funil de conversão se transforma, as métricas de desempenho também evoluem. O foco sai de cliques e formulários e passa para indicadores conversacionais, como taxa de intenção de compra, precisão das recomendações, tempo até o checkout e reengajamento pós-transação. A otimização acontece diretamente nos modelos de linguagem e fluxos de interação, não mais em páginas.

O comportamento do consumidor acompanha esse avanço. Ele espera respostas instantâneas e recomendações assertivas, o que exige domínio de dados contextuais e personalização em tempo real. As experiências precisam ser relevantes, simples e seguras — atributos que definirão as marcas vencedoras nessa nova era.

O CRO assume um papel ainda mais estratégico: de disciplina tática a pilar de desenho de jornadas conversacionais orientadas à decisão e regras de negócio eficientes. O profissional da área passa a definir como a IA – via estímulos e subsídios em regras de negócio – interpreta intenções, apresenta soluções e conduz à conversão, influenciando diretamente precificação, produto e retenção.

As marcas, por sua vez, deixam de “vender produtos” para oferecer experiências guiadas por contexto e intenção. Com IAs conversacionais, o catálogo cede espaço à entrega de soluções personalizadas. A marca se torna uma consultora inteligente, capaz de conduzir decisões de compra rápidas, contextualizadas e confiáveis.

O comércio mediado por IA inaugura um paradigma em que o funil de conversão é dissolvido, perdendo o seu viés verticalizado. As fronteiras entre marketing, tecnologia e operação desaparecem, e o sucesso passa a depender da capacidade das empresas de estruturar dados, compreender intenções e responder em tempo real.

Quem dominar essa nova gramática — fluida, segura e personalizada — definirá o futuro do e-commerce.