A maior lição da minha pior palestra do SXSW

21 de março de 2023 - 12h28

Era o segundo dia. Não saí do Ballroom D, o maior. Amy Webb já tinha dado o seu costumeiro showzinho, com direito a pastinha no Dropbox cheia de papers bacanas para fazer download.

Eis que surge a apresentação mais clichê possível e imaginável. Ironicamente, vinda de uma dupla de uma empresa chamada Non Obvious (piada pronta). Sabe aquele tipo de apresentação cheia de analogias para ilustrar como a inovação é importante para o seu negócio? Sabe aquele keynote 2010 tecno motivacional FOMO instigante? Tem quem adore, e tudo bem. Eu ando farto disso.

Mas enfim, cá estou eu para confessar que no meio de GIFs com piadinhas manjadas e toneladas de merchandising para vender o livro da dupla, uma frase me marcou bastante. Não parei de pensar nela desde então. A frase é bastante simples, mas me atraiu pelo seu antagonismo com o momento que estamos, onde todos só pensam em compreender máquinas. A frase era “People Who Understand People Always Win”.

Desse dia em diante, eu resolvi vasculhar palestras de People Who Understand People, e fui muito feliz. Vi gente discutindo como mobilizar pessoas para o reflorestamento de zonas devastadas. Vi cientistas de universidades grandes estudando com profundidade a relação de humanos com marcas. Pude finalmente entender que produtividade é coisa de máquina e que todo humano que se preze precisa de tempo. Tempo para ter ideias, para pensar em coisas que ainda não estão na internet. Pessoas precisam de tempo para ver o mundo. Precisam de tempo para não ter burnout. Seres humanos precisam recuperar o tempo livre urgentemente para poder reimaginar nosso mundo, sem parar, o tempo todo. Pra mim, isso tudo ressonou de forma confortante.

Concluí que para ficarmos em paz com a Inteligência Artificial, precisamos antes ficar de bem com nossa auto percepção. As pessoas não estão apenas com medo de perder seus empregos. As peripécias do ChatGPT estão nos pondo pra pensar na nossa própria relevância enquanto seres humanos. Para que raios eu sirvo mesmo? O que a máquina não pode fazer que só quem está vivo pode? Me parece que fomos pegos de supetão sem clareza sobre nossa própria razão de ser. Por conta disso, entendo que nunca foi tão importante entender pessoas como agora. É imprescindível o resgate da consciência do valor do que é ser humano pra poder então entender o que faremos com a tecnologia. Só entenderemos o lugar do AI quando entendermos qual o nosso lugar.

Enfim, se eu pudesse também criar uma apresentação tecno motivacional para o SXSW, faria o seguinte. A inteligência artificial está aqui para impulsionar nossa humanidade e não para substituí-la! Como em uma relação Luke Skywalker e R2D2. (entra a bela imagem dos dois no X-Wing). Quem nunca sonhou em ter um R2D2? Agora, praticamente temos. Se o R2D2 roubar seu emprego, é porque não era mesmo para você. (R2D2 destravando uma porta). Não era pra ser humano. Precisamos ser os Jedis e não os droids, nossos assistentes incondicionais. (Luke, R2 e 3PO no deserto). Encontre a força, amigos. Também chamada de humanidade. (fecha com um belo GIF do Yoda meditando).