Em tempo de hiperconectividade, por que nos sentimos tão sós?
Não deixa de ser curioso, no entanto, perceber que a popularização do debate sobre bem-estar e saúde mental nesses espaços vem a reboque do avanço das novas tecnologias
Não deixa de ser curioso, no entanto, perceber que a popularização do debate sobre bem-estar e saúde mental nesses espaços vem a reboque do avanço das novas tecnologias
12 de março de 2024 - 14h19
Diante de todas as implicações sociais e econômicas que a transformação tecnológica traz, é bastante sintomático que grandes eventos de inovação e criatividade estejam incluindo em sua programação painéis e palestras sobre bem-estar e saúde mental. Neste ano, o SXSW, o maior evento do gênero, apostou alto no tema: em seu principal palco, levou a estrela pop Selena Gomez para debater o assunto com especialistas da área; referências no debate sobre comportamento e cultura, como Laurie Santos e Amy Gallo, também tiveram espaços nobres no festival, atraindo centenas de pessoas ao vivo em palestras que abordaram estratégias para garantir o bem-estar no ambiente do trabalho.
Não deixa de ser curioso, no entanto, perceber que a popularização do debate sobre bem-estar e saúde mental nesses espaços vem a reboque do avanço das novas tecnologias. Afinal, cada nova tendência tecnológica anunciada com entusiasmo em conferências pelo mundo é também um gatilho em potencial: quem nunca pensou que as tecnologias apresentadas como solução para melhorar experiências das pessoas estão, na verdade, nos deixando cada vez mais dependentes delas e nos distanciando uns dos outros?
Veja a ironia: a crise de bem-estar e saúde mental que o mundo vive hoje pode ser também consequência das transformações sociais, culturais e econômicas provocadas por tecnologias pensadas, em tese, para melhorar a vida das pessoas. Mas, como em tudo na vida, há os impactos positivos e negativos. O mesmo smartphone que permite que você trabalhe de qualquer lugar do mundo é o que desperta a FOMO (fear of missing out), a prima digital da ansiedade. E, assim, nos resta desenvolver e aprender estratégias para lidar com essas tecnologias de forma saudável, crítica e consciente. Spoiler alert: o fato de o SXSW trazer uma série de palestras que tratam sobre o assunto indica que não é tão simples assim.
Recentemente, a Apple lançou seu gadget de realidade aumentada, o Apple Vision Pro. Acessórios de realidade aumentada são vedetes em feiras de tecnologia no mundo. Demonstrações de uso e seus recursos impressionam em si, mas também nos fazem refletir sobre o abismo entre a proposta de valor e o que, de fato, elas entregam: a promessa é de uma sociedade mais conectada, onde as barreiras geográficas e temporais se tornam obsoletas, permitindo interações mais ricas e significativas. No entanto, o que podemos ver nas imagens que viralizaram nas redes na ocasião é que a realidade que se desdobra é bem mais complexa. À medida que as pessoas mergulham mais profundamente nessa tecnologia, elas parecem se desvincular do mundo físico e das conexões humanas reais. Em vez de aproximar as pessoas, a realidade mista pode estar fomentando uma nova forma de isolamento. E a saúde mental fica como? Quais são os limites? Qual é a linha tênue que separa uma coisa da outra?
Arrisco dizer que o limite é o que nos desconecta uns dos outros. Espero que, no futuro próximo, possamos ver no SXSW mais tecnologias que acertam nesse equilíbrio.
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