SXSW
Para muito além de um Convention Center
Não existe navegação correta, e SX apresenta mais realidades do que apenas em seu pulsante prédio central
Não existe navegação correta, e SX apresenta mais realidades do que apenas em seu pulsante prédio central
13 de março de 2024 - 13h34
Passar alguns dias na cidade de Austin, TX, durante os dias de SxSW, é como se sentir numa pequena distopia futurista. Da hiperconectividade à moda, o evento atrai um caldeirão de distintas idades e identidades, em seus aproximados 300.000 visitantes em 9 dias. Mais do que o caça às hypes frequente da publicidade, fica evidente que temos de fato correspondentes do Zeitgeist circulando pelas ruas, como uma ponta do futuro tangível à ponta dos dedos. É preciso, contudo, estar atento para além das paredes dos auditórios para se capturar o presente.
Uma navegação que me pegou de surpresa foi passar pelo Startup Crawl pela primeira vez, um dos maiores do mundo, com mais de 80 expositores. Uma energia caótica de feira acadêmica de ciências, com jovens de 20 anos à frente de monitores e banners, vendendo ideias com potencial – mas que ainda se ancoram em mockups questionáveis. Não estaria o futuro ali?
Se o que você busca é um “sacode criativo”, vale refletir se não cabe navegar por ideias menos bem acabadas, conectadas a talentos emergentes e mais jovens, que pulsam a inquietude pela transformação. De material sustentável tecnológico que fundamenta tijolos para casas de refugiados de guerra, a tecnologias de IA para curadoria de conteúdo em comunidades digitais, passando por gadgets que em breve ganharão o mercado. Psicodélicos, mindfulness, animação e esporte. Muito a se ver.
Em meio a essa visita, um grito interrompe o evento e um homem joga notas do décimo andar, que passam a cair pelo centro abundante do hall do prédio com vista para a East Sixth Street. As notas caem lentamente e pareciam parte da agenda, porém ao pegar os papéis, trata-se de um protesto à ligação do SxSW com a indústria armamentista norte-americana, um dos apoiadores deste ano. Quer “painel” mais relevante para se refletir o presente?
As tensões com as diretrizes políticas do Texas não são de hoje. Em minha última presença, em 2022, os direitos da comunidade LGBTQIAPN+ recuavam aceleradamente no Estado, especialmente para pedsoas trans, promovendo relevantes discussões sociais por Austin.
“SXSW não concorda com o governador Abbott”, diz o morno comunicado recente do evento. “Somos uma organização que acolhe diversos pontos de vista. (…) Em todo o mundo, assistimos a tragédias indescritíveis, à ascensão de regimes repressivos e à crescente propagação de conflitos violentos. É mais crucial do que nunca que nos unamos para resolver estas questões humanitárias maiores”.
Você se recorda que a distopia ainda é neoliberal, quando entre patinetes verde-lima que permitem aos turistas flutuar por avenidas em harmonia com carros, e pesados Apple Vision Pros de early-adopters, pessoas em situação de rua ocupam diversas vias, entre cobertores e papelões, nos escancarando a despeito das disparidades sociais pungentes nos Estados Unidos da América (e que tanto nos recordam do Brasil).
South by Southwest entrega densos fragmentos da realidade. Vale a pena a viagem justamente pelo papel didático das contradições, para a manutenção do olhar crítico, perante inovação, tecnologia e sociedade. Que o exercício que o evento propõe de olhar o mundo com nitidez, desembace as vistas C-Levels para a responsabilização perante urgentes medidas, rumo à constante transformação social.
Compartilhe
Veja também
SXSW 2025 terá Douglas Rushkoff, Amy Webb, John Maeda, entre outros
39ª edição do South by Southwest apresenta uma mescla entre veteranos e estreantes em sua grade de programação, composta por 23 trilhas
Pela segunda vez no SXSW, São Paulo House amplia espaço
Governo do Estado de São Paulo anuncia Espaço Business e feira de negócios para a edição de 2025 da São Paulo House