O que buscam profissionais de publicidade no SXSW hoje?
Festival tem potencial de entregar respiro e repertório que extrapola agenda convencional do marketing, opinam lideranças de agência
Festival tem potencial de entregar respiro e repertório que extrapola agenda convencional do marketing, opinam lideranças de agência
Isabella Lessa
7 de março de 2024 - 11h30
Eventos diversos que acometeram o mundo em anos recentes, da pandemia ao avanço da inteligência artificial generativa (GenAI), fizeram com que eventos como o South by Southwest, reconhecido por antecipar tendências do futuro, se tornasse um epicentro de debates sobre o imediato e sobre um futuro que está logo na esquina.
Ainda que o vislumbre do que ainda não está perto de virar realidade ainda seja parte importante da programação – afinal, há uma track denominada 2050 –, existe um pendor do festival de Austin para uma maior aplicabilidade no dia a dia dos negócios.
Ao menos é o que observa Léo Xavier, fundador e CEO da Môre. Participando do evento pela quinta vez, ele percebe, também, uma maior presença de profissionais de marketing, o que evidencia o potencial do SXSW para aqueles que tomam decisões a respeito da proposta de valor de produtos e serviços.
E isso se dá, justamente, pela amplitude dos assuntos tratados ao longo de mais de oito dias de evento, que vão muito além das discussões sobre comunicação e marketing. “Aconselho todos a irem além dos keynotes, porque isso trará um repertório rico para provocar as diversas áreas do negócio, da logística à tecnologia”, diz Xavier que, neste ano, focará em palestras sobre design e trabalho.
Também frequentador do SXSW há cinco anos, Edu Simon, sócio e CEO da Galeria, percebe que o evento deixou de acontecer somente em Austin. O que acaba atraindo públicos diversos e obrigando o festival a ajustar a pauta para um tom mais generalista. Com isso, existe um papel das agências em ajudar os clientes a acompanhar os assuntos do momento, como o impacto da IA nos negócios, mas, ao mesmo tempo, a adquirir um repertório mais aleatório.
“Política, uso de cogumelos no tratamento de doenças são coisas que sempre estiveram no evento, mas o olhar para outras questões da sociedade trazem um aspecto mais inspiracional e pessoal para quem participa. É um momento que transcende o olhar para categorias de atuação. Muita gente está indo ao evento para se inspirar neste ano ou para o ano que vem, no máximo”, diz.
Para ele, as marcas e agências precisam desse imediatismo, porém, é mais inspirador o exercício de buscar o que virá. Em uma sociedade complexa e polarizada, tentar entender o ponto de vista comportamental e político da sociedade é um olhar interessante para quem trabalha com marcas, opina o CEO da Galeria.
Dependendo do foco que se estabelece durante o festival, é possível encontrar o equilíbrio entre o que acontece no mundo e o que interessa os negócios. Estreante no SXSW, André Kassu, sócio e CCO da CPB Brasil, enxergava um gap entre o que o festival abordava e o que acontecia na vida real.
Mas, quando GenAI se impôs como tema central no mundo todo – obrigando a organização do festival a incluir conteúdo sobre o assunto de última hora, inclusive –, esse hiato entre o que é discutido e o que é posto em prática encurtou. “Isso nunca foi tão rápido. Havia previsões em relação ao mercado de vídeo, por exemplo, mas muita coisa foi além do que se projetava. Neste ano, teremos mais discussões sobre regras, copyrights, jornalismo, deepfakes, sobre se IA deixa o mundo melhor”, comenta Kassu.
A visão de estreante do profissional é a de que, na comparação com outros eventos frequentados pelo mercado, o SXSW é um mar mais aberto. Porque, apesar de colocar ênfase em discussões sobre tecnologia, ao mesmo tempo é uma cidade que respira música e cultura, o que dá um respiro benéfico para quem trabalha na indústria da publicidade. A oxigenação começa, porém, na organização da agenda.
“Há um mix de discussões presentes que à primeira vista, talvez, não tenham a ver com o negócio. Vou tentar não confundir informação com consumo. É melhor absorver melhor o menor número de palestras do que dizer que vi dez palestras, mas não assimilei nada”, comenta.
Simon, da Galeria, percebe que o evento deixou de acontecer somente em Austin. O que acaba atraindo públicos diversos e obrigando o festival a ajustar a pauta para um tom mais generalista. Com isso, existe um papel das agências em ajudar os clientes a acompanhar os assuntos do momento, como o impacto da IA nos negócios, mas, ao mesmo tempo, a adquirir um repertório mais aleatório.
“Política, uso de cogumelos no tratamento de doenças são coisas que sempre estiveram no evento, mas o olhar para outras questões da sociedade trazem um aspecto mais inspiracional e pessoal para quem participa. É um momento que transcende o olhar para categorias de atuação”, diz.
Para Kassu, o futuro é sempre uma ansiedade das pessoas, que vem da dificuldade de viver do presente. Diante disso, o CCO da CPB acredita que daqui três anos pautas humanas retornarão. “Temos tanta discussão sobre esse mundo não tangível e sinto que as pessoas ficam com saudade de alguém, do outro. É muito curioso o fato de que estamos muito conectados e nos sentindo mais solitários. Tem um painel que fala sobre isso – e este é o lugar de conversa mais encantador para mim”, opina.
Na visão de Simon, o SXSW acabou achatando mais o horizonte, porque, ainda que haja apresentações de tendências, as conversas pairam muito mais sobre o futuro deste ano do que o de dez anos à frente. “Nas palestras menos concorridas, dá para ver assuntos que depois vão se conectar daqui três anos. Mas, para isso, é preciso saber navegar nessa programação”, aconselha.
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