10 motivos positivos para se adotar a IA e o “Deepfake” para a educação – no mínimo

Buscar
Publicidade

Opinião

10 motivos positivos para se adotar a IA e o “Deepfake” para a educação – no mínimo

Como seria assistir ao próprio Albert Einstein, em salas de aula espalhadas pelo mundo, explicando o conceito da sua Teoria da Relatividade


24 de agosto de 2023 - 9h52

(Crédito: Phonlamai-Photo-shutterstock)

O grande assunto do mundo da propaganda dos últimos meses foi a campanha da Volkswagen, em que a cantora Elis Regina e sua filha Maria Rita cantam juntas a música nostálgica, “Como nossos pais”, escrita nos anos 70 por Belchior. Certamente, você deve ter lido diversos artigos discutindo questões morais e legais que a campanha provocou. E toda a discussão, na minha opinião, deve trazer à tona, pensamentos diversos que só nos enriquecem, mesmo quando não concordamos. Uma perspectiva que não havíamos pensado, uma maneira diferente de enxergar da nossa.   

Algumas perguntas me ocorreram: o conteúdo causou comoção? Tocou o coração de quem a assistiu e gostou? Ou despertou um olhar crítico de quem achou esquisito e de mau gosto? Não seria ótimo se tivéssemos mais conteúdos assim para gerar debates que nos tirassem mais vezes do lugar comum? Questões que nos tirassem daquele mesmo ângulo e dessem espaço para novos olhares?  

A campanha me causou emoção. Um encontro inusitado desses, com permissão da sua própria filha, onde se entreolham, me deixou arrepiada. Ao mesmo tempo, me fez pensar mais e fazer uma reflexão sobre o que está por trás da produção deste tipo de conteúdo.  

O que viabilizou esta campanha foi a tecnologia, ou o conjunto de tecnologias, chamada popularmente de “deepfake”. Esta tecnologia não é exatamente nova, muito embora esteja em ampla evolução com o uso de Inteligência Artificial (IA), mas na maior parte das vezes, o “deepfake” é visto como negativo. O nome não ajuda muito, e se você fizer uma rápida busca no Google, as matérias apresentadas, estão muito mais voltadas aos riscos que esta tecnologia oferece à sociedade do que seus benefícios. 

Através da Inteligência artificial, especificamente do “deepfake” que usa uma gigantesca base de dados, o rosto da Elis Regina foi mapeado e reproduzido em um outro rosto, para resultar no que vimos. Segundo o Canal TechTudo, “o processo é relativamente simples: primeiro, são fornecidas várias amostras de fotos e vídeos da cantora. A ideia, com isso, é treinar a IA para identificar os principais aspectos do rosto da Elis, como a forma de sua boca se move ao cantar e os seus traços, por exemplo, para que, depois, a ferramenta consiga recriá-lo”.  

O “deepfake” já vem sendo usado em inúmeros setores. O Museu Dalí, localizado na Flórida, EUA, recriou o pintor para que a experiencia de seus visitantes fosse imersiva. O mesmo tem sido feito com várias bandas de música pelo mundo como ABBA ou na reprodução da voz de John Lennon. 

Fiquei pensando em como replicar os benefícios desta tecnologia para a Educação, uma área com tantos desafios no Brasil e no mundo todo.  Muitos de nós, tivemos professores que nos fizeram aprender mais por sua retórica, por serem grandes oradores e contadores de histórias. Imaginem se junto a um professor de história, que contava o passo a passo da Revolução Francesa, como se estivesse sobre um cavalo na batalha de Waterloo, aparecesse um Napoleão em tamanho real, baixinho portanto, e interagisse com a sala de aula. Ele poderia falar sobre suas principais batalhas, de suas conquistas e de seus resultados desastrosos, e como até hoje exércitos usam estratégias desenvolvidas por ele.  

Como seria assistir ao próprio Albert Einstein, em salas de aula espalhadas pelo mundo, explicando o conceito da sua Teoria da Relatividade. Não me refiro àquele Einstein mais velho, mostrando a língua, que virou figura pop, mas um Einstein jovem, provavelmente mais tímido, que com apenas 26 anos publicou sua teoria. Será que estudantes não se sentiriam muito mais próximos da chance de revolucionar o mundo com uma invenção? Imaginem, se ainda, pudermos recuperar tudo o que aprendemos? 

Há também um mundo de possibilidades quando juntamos técnicas de “deepfake” à geração recente de ferramentas de Inteligência Artificial generativa. Podemos trazer de volta figuras históricas para inspirar os alunos nas salas de aula, e com ferramentas como ChatGPT, buscar informações que ajudem a moldar esses personagens em cada uma de suas fases da vida, trazendo experiencias ainda mais inesquecíveis aos alunos.  

E para além da imagem, há também outros formatos de conteúdo, como a linguagem. Um dos trunfos da premiada série Vikings, criada para o “History Channel”, foi o de reconstituir parte dos diálogos entre os personagens em idiomas já esquecidos. Apesar do inglês ser a língua principal da trama, uma vez ou outra era possível ouvir formas mais primitivas do idioma islandês. No cerco a Paris, que ocorreu por volta de 845 D.C., os personagens misturam francês com um idioma antigo francófono, juntamente com palavras coletadas de documentos religiosos e poemas da época com influência do Latim. Eventualmente pode-se ouvir palavras que soam o português do Brasil. Esse trabalho só foi possível com muito trabalho humano, de pesquisadores e professores.  

Muitas discussões sobre IA e suas derivações tecnológicas têm sido geradas com relação às vantagens competitivas que podem trazer aos diversos setores, ao volume de dados analisados em um décimo do tempo e decisões real time, sobre redução de erros, entre outros. Participei de algumas conversas ricas nos últimos meses discutindo como as empresas devem se preparar para incorporar estas novas tecnologias em seus processos diários nos mais diferentes segmentos: na preparação de seus colaboradores com novas competências e reciclagens, na aceleração dos processos de inovação, eficiência e nas experiencias imersivas dos consumidores. 

Tinha terminado de escrever este texto ontem tarde da noite e hoje, a convite do WCD (Women Corporate Directors) e do CI&T (Empresa de Tecnologia e Transformação Digital), assisti excelentes apresentações e debates sobre IA. Cesar Gon, CEO, Fundador do CI&T reforçou que a IA impactara fortemente setores como o da Educação e Saúde e trará imediatamente oportunidades de hiper produtividade, máximo desempenho, aumento de qualidade e níveis de personalização e humanização impressionantes. Na educação, trará benefícios reais para um dos desafios mais crônicos do mudo, e a beneficiará via escala e, portanto, redução dos custos, melhora no processo de aprendizagem e aumento do engajamento. 

Acredito que a tecnologia irá impulsionar a educação e torná-la mais divertida e engajadora. A IA e o “deepfake”, não substituem a figura do educador. Muito pelo contrário, por detrás desta tecnologia, há um ser humano, criatividade, emoção e a necessidade de uma curadoria intensa e verídica. Por detrás destas tecnologias, não escapamos de discussões de regulação e outros mecanismos que garantam implementações seguras, contemplando direitos autorais, controlando e reconhecendo o compartilhamento de conteúdo falso. Como exemplo, hoje, na Coreia do Sul, todo conteúdo produzido a partir de IA, leva um selo de identificação.  

Prefiro viver e sonhar com uma dose de otimismo aonde novas tecnologias, se bem utilizadas pelo mercado, por educadores, podem se transformar em uma poderosa ferramenta de ensino, de engajamento, redução das evasões e fortalecer nossa sociedade com mais conhecimento, civilidade e educação. 

 

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Algoritmos novos, vieses antigos: como a IA reforça estereótipos

    Algoritmos novos, vieses antigos: como a IA reforça estereótipos

    Especialistas refletem sobre a urgência de uma abordagem crítica e transparente na implementação de tecnologias de inteligência artificial

  • De estagiária a VP global: os 20 anos de Thais Hagge na Unilever

    De estagiária a VP global: os 20 anos de Thais Hagge na Unilever

    A nova VP global de marketing para Seda fala sobre sua trajetória na multinacional e como concilia a carreira com outras áreas da vida