Bruna Vasconi e a inspiração do Peça Rara

Marina Vergueiro e Carol Scorce
1 de junho de 2023 - 8h13

Bruna Vasconi, CEO e fundadora do Brechó Peça Rara, e a atriz Débora Secco (Crédito: Acervo Peça Rara)

É no universo cheio de pequenas e grandes descobertas da infância e da adolescência que encontramos as referências para a vida. Às vezes é uma mãe professora, ou um tio engenheiro. Bruna Vasconi, CEO e fundadora do Brechó Peça Rara – um exemplo de sucesso na replicação de modelo de negócio na moda circular, se viu no espelho de uma amiga da família. “Ela vendia Natura, Avon, roupas, acessórios. Tudo. Eu achava aquilo o máximo e comecei a passar as tardes ajudando a arrumar o estoque e a fazer compras”, conta a empresária. 

O tino para o comércio estava dado. E sabemos que quem tem, tem. Ainda na adolescência ela ajudou a organizar desfiles com essa amiga e a fazer de tudo. A ainda menina Bruna fazia tudo isso “como uma forma de ter o meu dinheiro”.

Aos 19 anos, Bruna casou e entrou na faculdade de psicologia, uma paixão tão persistente quanto o próprio comércio, ela conta. Logo no primeiro ano engravidou do primeiro filho, e pouco tempo depois do segundo. “Meu marido não tinha condição financeira ruim, mas era uma vida apertada, e eu precisava dar conta das minhas escolhas.”

Com muita batalha ela fez a faculdade, mas a psicologia, no entanto, exige um tipo de dedicação que envolve estar só, concentrado nas leituras e estudo, coisa que como mãe e esposa, Bruna já não conseguia alcançar. A fundadora do Peça Rara tem ainda aquele típico temperamento da mulher empreendedora, batalhadora, que instintivamente dá vazão às suas paixões, se agrupa em rede com facilidade, faz com capricho e cresce. 

Foi no último semestre da faculdade, quando ela se deu conta que iria perder a rede onde ela vendia seus produtos, que a capa de uma revista virou o jogo. “Meu marido me deu de presente uma edição da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios onde a capa era uma mãe com os filhos, como eu, e que tinha aberto um brechó infantil. Eu fiquei com aquilo na cabeça. Logo na sequência, viajei de Brasília para São Paulo para um seminário da faculdade, e me convidaram, coincidentemente, para ir nesse brechó, porque ele tinha virado uma pequena febre.”

A monografia da faculdade foi feita, sim, mas na volta para casa, dentro do avião, o caderninho de Bruna foi rascunhado por ideias que a mobilizaram muito mais: as impressões que ela teve do brechó da capa de revista. Em poucos meses ela abriu em parceria com uma amiga – mais uma vez a tão poderosa rede entre mulheres atuando –  um brechó com coisas dos próprios filhos e dos filhos das amigas. 

“A inauguração foi ótima, a loja ficou linda, mas a minha sócia na época queria mudar o modelo do negócio, e a essa altura eu já tinha entendido que aquele era o projeto da minha vida. Saí, e em três meses abri uma loja nova”, conta. 

Grande, arejada, organizada. Bruna inaugurou a nova loja, e agora oficialmente a grande semente do Peça Rara, com a premissa que define o negócio até hoje: que o consumidor encontre peças de qualidade, limpas, em excelente estado, e que ele consiga fazer isso sem ter de se lançar num ambiente mal-arranjado e poluído. 

Da primeira loja para a segunda foi um pulo. E depois outra e outra e mais outra. Em uma década o modelo de negócio, claramente de sucesso, foi estruturado como franquia, oferecendo o “saber fazer” brechó. Hoje o Peça Rara é reconhecido como um exemplar de moda circular replicável e estruturado com negócio confiável, gerado pela incansável mulher e mãe Bruna Vasconi.