Carla Madeira: “As histórias nos constroem como seres humanos”
Autora que mais vendeu livros no Brasil em 2021, escritora e fundadora da agência Lápis Raro falou sobre a importância da narrativa para um mundo em transformação
Carla Madeira: “As histórias nos constroem como seres humanos”
BuscarAutora que mais vendeu livros no Brasil em 2021, escritora e fundadora da agência Lápis Raro falou sobre a importância da narrativa para um mundo em transformação
Bárbara Sacchitiello
14 de abril de 2022 - 17h20
“O que mais existe no mundo são pessoas que nunca vão se conhecer. Nasceram em um lugar distante, e o acaso não fará com que se cruzem. Um desperdício. Muitos desses encontros destinados a não acontecer poderiam ter sido arrebatadores”. Esse trecho de Tudo é Rio, a primeira obra que escreveu, em 2014, mas que só faria sucesso – e entraria na lista dos livros mais vendidos do Brasil – em 2020, sinaliza a interpretação de Carla Madeira acerca das conexões humanas e, sobretudo, das histórias de cada um.
Para falar das narrativas e de seu poder para a sociedade e também para o ambiente dos negócios, a escritora participou do painel de encerramento da primeira edição do Women to Watch Summit, realizada nessa quarta-feira, 13, no Hotel Unique, em São Paulo.
Em conversa com a jornalista Cris Bartis, âncora do podcast Mamilos, Carla relatou como as narrativas e histórias humanas permeiam a sua vida em duas vertentes: como escritora e como líder da Lápis Raro, agência de publicidade fundada por ela, há 30 anos, em Belo Horizonte.
Carla não se define como autora de composição, ou seja, não constrói uma personalidade para cada um de seus personagens, atribuindo-lhes características físicas, psicológicas e sociais para, a partir daí, criar as narrativas. “Construo histórias com a ideia de praticidade. Aquilo que o sujeito faz, o faz como ser humanos. Contar histórias é se fazer humanos. E quanto mais histórias podemos viver e mais contar, mais chance temos de sermos humanos mais ricos”, declarou.
Essa visão que a escritora tem acerca das histórias também é compartilhado em sua atividade como publicitária. Ao longo dessas três décadas à frente da Lápis Raro, agência cujo board é composto essencialmente por mulheres, Carla Madeira conta que vem exercitando a perspectiva de que contar a história de uma marca não significa falar daquela empresa, e sim do mundo que ela deseja construir para viver junto com as pessoas, seus consumidores. Ela alerta que marcas fazem parte da vida e que por isso precisam estar atentas aos movimentos e vivências das pessoas ao redor para não pisarem na bola nos discursos e nas atitudes.
Tudo é Rio, a primeira e mais conhecida de suas obras – ela também escreveu, posteriormente, os romances A Natureza da Mordida e Véspera – aborda essencialmente o posicionamento das pessoas acerca do perdão. Cris Bartis destacou o assunto ao questionar Carla a respeito de como lidar com as pessoas que, em um ambiente tão necessitado por mudanças urgentes, ainda não foram tocadas acerca da gravidade de determinadas ações e comportamentos. A escritora destacou que é preciso equilibrar a equação entre o trabalho da evolução pessoal de cada um e o investimento que fazemos na transformação social.
“Se a gente não incluir o erro e a imperfeição não entenderemos nunca a condição humana. Se colocamos as pessoas apenas naquele lugar de monstros, o que faremos com aquele indivíduo? Meus livros falam sobre atitudes imperdoáveis e questionam se e possível, de alguma maneira, perdoar coisas imperdoáveis. Eu acredito que as atitudes são imperdoáveis, mas as pessoas não são. Só o perdão tira o agredido das mãos do agressor e o coloca em um caminho de transformação”, acredita.
Conseguir provocar as movimentações que a sociedade tanto precisa para evoluir exige tempo, investimento e dedicação, como lembrou Cris. “Para quem está sofrendo, apanhando e sendo excluído, a mudança está acontecendo muito devagar. Não se trata de uma corrida de 100 metros e sim de uma maratona”, colocou a apresentadora do Mamilos.
Carla concordou e disse que as empresas têm papel fundamental nessa transformação, já que o dinheiro, com seu poder de impulsão, acaba fazendo as coisas acontecerem.
E para que essa jornada aconteça, segundo ela, não é possível dar vazão ao cansaço. “Temos que nos livrar da ideia de estar exaustos. Estamos sim, exaustos, mas não podemos parar porque a luta será longa. Queria, claro, transformação mais rápidas e mais consistentes, mas já vejo as coisas avançando de forma irreversível”, disse.
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