Cria Raiz: quando conversar vira forma de cuidar e ocupar
Chegar até aqui, com um programa próprio, falando de clima com afeto, é ocupar um espaço que muitas vezes tentaram dizer que não era nosso.

(Crédito: Shutterstock)
A PodPesquisa, realizada pela ABPod, mostra que a maioria das pessoas que ouvem podcasts no Brasil são homens, brancos, heterossexuais e entre 35 e 44 anos. A pesquisa mostra que 70,21% dos podcasts são realizados por homens. Os dados sobre raça, identidade de gênero e orientação sexual de quem cria os conteúdos nem sequer são coletados, o que também diz muito. Nós precisamos falar cada vez mais.
As plataformas de podcast também precisam ser disputadas, no âmbito das narrativas e de presenças como a minha, de mulher e negra. De acordo com o Listen Notes, o Brasil é hoje o segundo país com mais podcasts ativos no mundo. São mais de 206 mil programas. O formato videocast já representa 41% da produção total, contudo os podcasts mais ouvidos no Brasil têm um olhar religioso e meritocrático, com baixíssima pluralidade de discurso.
O Cria Raiz nasce como uma resposta a essas ausências e peço licença para contar um pouco desse projeto.
Por muito tempo, eu me perguntei como sair do medo para o afeto. Como transformar o desespero em coragem. Especialmente quando falamos sobre clima e natureza, o que mais tenho escutado são pessoas com medo de não existir. Medo de não ter onde viver.
Esse podcast é um convite ao acolhimento e presença, porque a natureza não é só aquele lugar para onde a gente vai descansar e recarregar as energias. Ela é parte da nossa vida, está nas decisões que tomamos, nas memórias que guardamos, na forma como educamos nossos filhos ou pensamos nos nossos trabalhos.
O Cria Raiz quer mostrar que é possível conversar sobre o mundo a partir da vida cotidiana, a partir do que sentimos e vivemos. Nem toda conversa precisa ser pesada, mas algumas precisam ser profundas. Tem raiz que cresce nas pedras. Tem planta que floresce no deserto. Tem histórias que curam. E tem encontros que viram sementes.
Chegar até aqui, com um programa próprio, falando de clima com afeto, política com poesia e espiritualidade com coragem, é ocupar um espaço que muitas vezes tentaram dizer que não era nosso.
Nossa estreia foi com a atriz Tainá Müller, falando sobre reconstrução em meio às enchentes no Rio Grande do Sul. No segundo episódio, recebo Jessi Alves, professora, ex-BBB e ainda vêm por aí Nathalia Arcuri, Ana Paula Xongani, Mariana Ximenes, Rafa Brites, Rodrigo Mocotó, Sara Zara, Ernesto Paglia, Eliziane Berberian, e até um convidado internacional: Rainn Wilson, da série The Office.
A ideia é simples, mas profunda: mudar o mundo uma conversa por vez.
Mais do que comunicar, o Cria Raiz quer fazer sentir. E fazer pertencer.
Porque só cuidamos do que conhecemos — e só protegemos aquilo com que nos conectamos de verdade.
Estamos no YouTube e no Spotify, com novos episódios quinzenais.
Espero que essas conversas encontrem bem as pessoas . E que, de alguma forma, também criem raízes.