Das cem maiores startups do Brasil, apenas 5% são lideradas por mulheres

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Das cem maiores startups do Brasil, apenas 5% são lideradas por mulheres

Novo estudo da Distrito revela disparidade de gênero no nível executivo e conta como CEOs mulheres chegaram aos cargos atuais


8 de julho de 2022 - 16h46

iFood, Quinto Andar, Pagseguro, Next, C6 Bank, Creditas, Dafiti, 99, Liv Up e Sallve. Estas são algumas das cem startups mais relevantes do mercado nacional, de acordo com o relatório da Distrito. Essas e 95% das empresas destacadas pelo estudo têm algo em comum: são comandadas por homens. Os outros 5%, ou seja, cinco de cem, são lideradas por mulheres. A lista é tão curta que podemos citar os nomes das CEOs em poucas linhas: Anna Saicali (Ame Digital), Mariana Ramos Dias (Gupy), Mônica Hauck (Sólides), Talita Lacerda (Petlove) e Priscila Siqueira (Gympass).

A pesquisa realizada pela Distrito, plataforma de soluções de inovação para startups, mapeia e analisa os cem maiores CEOs do Brasil. Em suma, o perfil dos executivos é masculino, com idade média de 39,5 anos, formação no setor financeiro ou tecnológico e com sede em São Paulo. Um retrato longe de representar a totalidade da população brasileira, composta por 51% de mulheres.

RAIO-X DAS CEOS MULHERES

“O dado representa um sério problema de diversidade que as lideranças no Brasil e no mundo enfrentam”, destaca o estudo. O número não demonstra um caso isolado. No país, apenas 38% das empresas têm uma líder feminina, de acordo com a pesquisa Women In Business 2022, da Grant Thornton. Apesar de ainda não corresponder a um número igualitário entre gêneros, o dado apresenta um aumento em relação a 2019, quando as mulheres representavam 25% das CEOs.

O relatório da Distrito ressalta que ter mais mulheres na liderança ou no corpo de funcionários garante melhores resultados para as organizações. Entretanto, chegar a este patamar de equidade segue sendo um grande desafio no Brasil.

“Eu acredito que para transformar a bandeira do empreendedorismo feminino, nós precisamos também transformar a vida das meninas e das mulheres brasileiras. Para terem um bom lar (que seja uma rede de apoio), uma educação de qualidade na juventude e cada vez mais empregabilidade, com oportunidades profissionais e de desenvolvimento de maneira igualitária. Isso está relacionado com a missão da Gupy: melhorar a empregabilidade no Brasil”, reflete Mariana Dias, CEO da plataforma de recrutamento e seleção.

 

Mariana Dias é CEO da Gupy (Crédito: Divulgação)

Além da disparidade de representação, as mulheres em cargos executivos ganham 24% menos que homens na mesma função, segundo o estudo da Catho de 2021. A diferença salarial é encontrada em diferentes níveis: como coordenadora, que ganha menos 15%; especialista graduada, com menos 35%; analista, com salário inferior em 34%, entre outros. A exceção é a posição de assistente, na qual as mulheres costumam receber 2% a mais.

A pandemia impactou diretamente o desemprego e a carga de trabalho de grupos vulneráveis. De acordo com uma pesquisa do Ipea, mulheres, negros e jovens foram os mais afetados pelo período.

“Os indicadores mostraram que as mulheres seguem em desvantagem em relação aos homens. No segundo trimestre de 2019, a taxa de ocupação delas (46,2%) era inferior à do sexo masculino (64,8%). No mesmo período de 2020, houve redução para 39,7% no caso das mulheres e 58,1% para os homens”.

A Distrito também perguntou a estas figuras o que elas aprenderam sobre o período pandêmico, e as respostas entre as líderes femininas gira em torno do valor humano que virou prioridade. “Aprendemos a ser mais empáticos e atentos às situações cotidianas, que não éramos anteriormente. Entender o indivíduo de forma integral, corpo, mente e espírito. Além disso, o entorno, como a família, também passou a fazer parte, uma vez que entramos na casa das pessoas. Em resumo, a pandemia nos evidenciou a importância de cuidar do bem-estar das pessoas”, revela Priscila Siqueira, CEO da Gympass, na pesquisa.

 

Priscila Siqueira é CEO da Gympass (Crédito: Divulgação)

A HISTÓRIA DE QUEM CHEGOU LÁ

“Tenho uma origem humilde e tive que desenvolver resiliência para lidar com muitas situações de restrição. A primeira grande vitória foi conseguir fazer uma boa faculdade, o que abriu muitas portas no início da minha carreira”, conta Talita Lacerda, CEO da Petlove, no estudo.

A pesquisa mostra que o investimento numa boa educação foi essencial para a trajetória destes CEOs, assim como informa Talita. Quase metade dos executivos (47,7%) frequentaram uma graduação numa instituição de ensino público, e 55% fizeram uma pós-graduação. Em relação à trajetória profissional, a média dos CEOs acumula 18 anos de experiência no mercado de trabalho, 35% atuavam no setor financeiro e metade tinha vivência prévia em startup.

 

Talita Lacerda é CEO da Petlove (Crédito: Flávia Valsani)

Entretanto, não é apenas uma boa formação ou experiência que garantem o sucesso de um líder. Mariana Dias ressalta a importância de montar equipes diversas. “Outra característica de uma boa liderança que atua com inovação é montar um time diverso, e se cercar de pessoas diferentes dela: não é possível inovar constantemente se você vive cercado de pessoas que pensam igual a você”.

Talita Lacerda também entende que uma boa liderança depende da capacidade de desenvolver a potência de cada indivíduo. “Inovação é o resultado de uma preocupação genuína com o ‘cliente’ e do foco em resolver um problema de uma forma efetiva. Estruturar processos que viabilizem isso é um primeiro passo, mas o que faz a diferença é a cultura e a autonomia que os times têm para aprender, errar e encontrar soluções. O papel do líder é destravar os “nós” para que isso aconteça de forma fluida e escalável”.

DESAFIOS DO FUTURO

“Um dos maiores desafios da Gupy hoje é continuar crescendo em ritmo acelerado sem descuidar da nossa cultura (inclusive, estamos evoluindo a cultura à medida que o time cresce), principalmente porque ela abarca dois pilares muito importantes na vida da empresa: diversidade e saúde mental. Isso reflete muito uma das minhas maiores dificuldades como gestora: garantir que a empresa continue dobrando de tamanho todos os anos sem nos descuidarmos das pessoas que fazem parte do time”, reflete Mariana Dias.

Talita também revela que o seu maior desafio no momento atual da empresa é identificar onde as pessoas podem se desenvolver melhor. “Do ponto de vista de gestão, o principal desafio é alocar as pessoas certas nos desafios certos, especialmente num contexto de rápido crescimento e mudança de contexto.”

Uma constante entre os relatos das CEOs é o discurso em torno das pessoas que fazem parte da empresa. Além de terem capacidades técnicas, visão de futuro e experiência profissional, estas mulheres destacam como as soft skills de inteligência emocional, a valorização da empatia e o cuidado com cada funcionário são fundamentais para uma liderança e gestão de sucesso.

*Crédito da imagem de destaque da matéria: alphaspirit.it/ShutterStock

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