Florence Scappini: “Não preciso mais me espremer para encaixar”

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Florence Scappini: “Não preciso mais me espremer para encaixar”

A VP de marketing da OLX tem uma carreira sólida e dois simples objetivos: trabalhar em projetos estimulantes e não ser especialista de segmento


9 de janeiro de 2024 - 15h04

Florence Scappini é vice-presidente de marketing da OLX (Crédito: Arthur Nobre)

Florence Scappini diz que sempre deixou a vida a levar, mas isso não fez dela uma profissional sem consistência. Muito pelo contrário. Na cadeira de VP de marketing da OLX desde setembro de 2023, a executiva do interior de Minas Gerais acumula experiências em diversos segmentos do mercado, e lembra que, embora nunca tenha tido metas para a carreira, dois objetivos claros a acompanharam desde o início: trabalhar em projetos estimulantes e não se tornar uma especialista de segmento.

“Eu não tinha nada muito planejado. Precisamos entender que a gente se constrói na carreira com muita dedicação, aprendizado e desenvolvimento. O que vem fácil, vai fácil. Tive a oportunidade de crescer degrau por degrau. Não dei grandes saltos, e isso nunca me trouxe ansiedade, mas, sim, muita segurança nas cadeiras em que sentei.”

Flor, como é conhecida, tem a rara combinação de firmeza e leveza nas palavras. Ela sabe que alguns segmentos e posições que assumiu foram muito desafiadores, mas parece entender como seu perfil adaptável a fez se desenvolver com solidez em cada nicho e cargo. Da Telemig Celular, considerada por ela sua primeira grande escola, à Gol Linhas Aéreas, onde teve uma jornada intensa de aprendizados, sobretudo no digital, suas experiências foram cruciais para suas escolhas profissionais.

“Tomei muitas decisões do que não queria para minha carreira. Passei 8 anos em uma telefonia celular, num processo de mercado interessante, quando as empresas do segmento no país estavam virando grandes grupos [Vivo, Claro, Oi, Tim]. Era um mundo perfeito, mas, quando saí dali, senti que as pessoas haviam se tornado especialistas do segmento, e minha primeira escolha profissional foi não me tornar uma. Não queria sair da Telemig e ir para a Vivo, apesar de ser apaixonada pelo setor. Queria buscar novos ares, e assim o fiz.”

A decisão de não ser especialista

A executiva ingressou, muito jovem, no banco Credireal, que no período passou por um processo de privatização ao ser comprado pelo Bradesco. Na jornada, Flor participou da mudança de cultura e de direcionamento estratégico da companhia, momento em que diz ter entendido sobre como atrair outros perfis de clientes. Mas foi ao sair da Gol e ter a possibilidade de migrar para outra empresa de aviação que compreendeu melhor o motivo de a especialidade não lhe cair bem.

“Não faria sentido do ponto de vista de desafio de negócio. Querendo ou não, são sempre modelos parecidos. Já havia aprendido e conhecido aquele, aportei todo meu conhecimento ali. Não sei o quanto traria inovação em uma empresa do mesmo segmento, e não gostaria de replicar modelos que usei na companhia anterior.”

Florence Scappini: “Não sei o quanto traria inovação em uma empresa do mesmo segmento, e não gostaria de replicar modelos que usei na companhia anterior” (Crédito: Arthur Nobre)

Para Flor, não é possível fazer a diferença aplicando as boas práticas de uma empresa em outra do mesmo setor, pois é preciso ser disruptivo. Por isso, ela reforçou a cada escolha profissional a decisão de não permanecer no mesmo segmento.

“É preciso ter uma visão de futuro inovadora, e eu, nos segmentos em que já atuei, sinto já ter entregado tudo. Fora que tenho vontade de aprender coisas novas. O aprendizado de um segmento ajuda na construção de aprendizados de outros, sem o menor conflito ético ou de interesses. Isso dá repertório ampliado na hora das discussões, de trazer os problemas para a mesa.”

Do marketing ao negócio

A ampliação de repertório de Florence a levou até o atual cargo de VP de marketing da OLX. Para ela, a posição requer uma mistura de tudo o que viveu até então, e, em certo sentido, é uma resposta à decisão de não ser uma especialista.

“Entrei no setor de aviação como uma profissional de marketing, mas saí de lá uma profissional de negócios. Tive de aprender a olhar o negócio, entendê-lo em detalhes e operar para alavancá-lo. Foi ali que me desenvolvi no skill digital.” Na gestão da executiva como diretora de marketing na Gol, o digital passou a ser um canal estratégico forte, tanto do ponto de vista de relacionamento com o consumidor como de comercialização e distribuição. Para isso, houve um caminho longo e desafiador.

“Tive que entender sobre oferta, demanda, custo. Enfim, sobre como operava nosso negócio na totalidade, perfis de clientes e como juntaríamos a visão de oferta com a de preço, além de e-commerce e CRM. Ali eu pensei que, ou mudava, ou não me adaptaria. Mas quis aprender, e a empresa me apoiou e me incentivou. Saí dali muito diferente”, lembra a executiva, que passou ainda por companhias de nichos diversos como Vivara, Grupo Netshoes e Magazine Luiza.

Para Flor, trabalhar em uma marca com propósito como a OLX, que representa o universo da economia circular, tem a ambição de mudar a maneira do brasileiro de consumir e que movimenta diversas categorias são algumas de suas principais motivações na nova empreitada.

“Nossa ideia é que o brasileiro considere o consumo de produtos usados de qualidade, numa plataforma de multiverticais, que traz com isso o desafio de ter demandas e stakeholders muito diferentes. Tem sido demais. Estava guardado para mim. E, do ponto de vista de desenvolvimento profissional, é minha primeira vez na vice-presidência, uma posição de muitos aprendizados. Preciso me equilibrar entre até onde coloco a mão na massa, direciono, inspiro e oriento.”

Liderança por inteiro

Flor vê seu estilo de liderança como diretiva, participativa e de escuta ativa. Para ela, combinar o melhor dos líderes com a fortaleza do time constrói algo poderoso. “Busco não ficar presa aos meus ‘pré-conceitos’, me abrir para escutar a perspectiva e entender o tempo do outro. Sempre fui a pessoa preocupada com a urgência, então exercito muito isso em mim, sobretudo quando são opiniões contrárias às minhas. Ouvir de maneira genuína, e não protocolar, muda nossa perspectiva.”

A executiva, que se sente cada vez mais à vontade na cadeira de liderança, diz não precisar mais se adequar para fazer parte do meio corporativo. “Durante algumas fases, me espremi para me encaixar. Quando isso acontece, nada é seu. Você não fica confortável, não está ali por inteira, porque algo está sempre te incomodando. Não preciso mais fazer isso. É preciso ter maturidade e pensar: ‘isso não é meu e está tudo bem’. Esse autoconhecimento está trazendo para mim um grau de segurança e serenidade em que me sinto cada vez mais confortável nas posições que assumo.”

Florence Scappini: “Durante algumas fases, me espremi para me encaixar. Quando isso acontece, nada é seu. Você não fica confortável, não está ali por inteira, porque algo está sempre te incomodando” (Crédito: Arthur Nobre)

A maturidade também tem trazido para Flor a consciência de não buscar mais protagonismo para si mesma, mas para a turma que está formando. “São eles que irão liderar o mercado de marketing daqui a pouco. Quero levá-los às competências que as cadeiras de liderança exigem desses profissionais, e isso não aprendemos no MBA ou na pós-graduação, mas nos inspirando nas pessoas.” As competências de um líder, para ela, são claras: comunicação assertiva, liderança efetiva, alianças estratégicas, domínio pessoal e visão sistêmica de negócio.

Se depender de Florence, que é mentora na SoulCode Academy, a inspiração é uma via de mão dupla, que, se bem dosada com a leveza e as boas competências da liderança, traz muitos benefícios e, finalmente, sucesso. “Na mentoria, você sai aprendendo mais do que ensinou. É tanto aprendizado e superação que pensa: ‘não sei nada do mundo’. Também tenho trabalhado arduamente pela leveza. Enquanto formos leves e tivermos o olhar mais simples das coisas, nos tornamos seres humanos melhores. Estou aqui para criar conexões reais.”

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