Luciana Villas Boas, a executiva por trás do Camarote Salvador 

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Luciana Villas Boas, a executiva por trás do Camarote Salvador 

Diretora executiva da Premium Entretenimento fala de sua trajetória e da expectativa de movimentar mais de R$ 150 milhões na economia da capital baiana em 2024


7 de fevereiro de 2024 - 15h22

Luciana Villas Boas é diretora executiva da Premium Entretenimento, produtora responsável pelo Camarote Salvador (Crédito: Divulgação)

Baiana, de Salvador e à frente de um negócio com a expectativa de movimentar mais de R$ 150 milhões na economia da capital do carnaval de rua em 2024. Essa é Luciana Villas Boas, a executiva por trás da gestão do Camarote Salvador, o mais requisitado da cidade baiana, que ao longo de seis dias recebe cerca de 90% de turistas e tem uma cadeia produtiva de 5 mil pessoas, entre mão-de-obra e fornecedores. No total, serão 70 atrações no evento, que terá entre as marcas parceiras Red Bull, Grupo Petrópolis, Nespresso, Shutz, Sephora e Chevrolet.

Luciana teve uma longa trajetória profissional na Rede Bahia de TV, afiliada da Globo, onde pôde treinar sua habilidade de planejamento e gestão ao longo de 19 anos. “Era uma empresa grande para a época, e comecei como estagiária na área financeira. Depois, passei pelos departamentos de marketing, inteligência de mercado e RH. Transitei por quase todas as áreas, e foi uma grande escola”, diz. 

Em 2013, em busca de novas experiências na carreira, ela topou o convite de um dos sócios da Rede Bahia de TV e da Premium Entretenimento, responsável pelo Camarote Salvador, e se tornou a CEO da empresa, posição em que está até hoje. “Havia chegado a hora de fazer uma mudança. Nunca tive ambição de ser CEO, mas sempre quis novos desafios. Estabelecia metas de ficar no máximo alguns anos em determinada posição, de vivenciar várias empresas em uma, de formar novos líderes para que eu também pudesse crescer. Então acho que intuitivamente buscava esse movimento.” 

Independência, carnaval e masculinidades 

Mãe de duas jovens adultas, Luciana perdeu seu pai muito cedo, de maneira abrupta. Quando ela tinha sete anos, ele sofreu um acidente de carro. A executiva, que era de uma família de classe média, viu a vida da mãe e dos irmãos mudar completamente.  

“Minha mãe, que era dona de casa e tinha quatro filhos, teve de se jogar no mercado de trabalho. Acho que já neste momento passei a me inspirar muito em ser independente e acreditar que, como mulheres, precisamos trabalhar para estarmos prontas para tudo o que puder acontecer. Não podia dar trabalho para a minha mãe”, lembra.   

Luciana começou a trabalhar cedo em lojas, com menos de 18 anos, para pagar seus estudos, aos quais se dedicava muito. Sempre procurou ser bolsista, até no balé, que gostava de fazer. Ela recorda que não teve uma infância e adolescência tristes, mas foi um período difícil. Também lembra da força de sua família, que se tornou, por necessidade, um grupo de mulheres muito aguerridas.

Depois, veio a escolha da faculdade de Administração, que precisaria ser pública. Na Universidade Federal da Bahia, ela começou a estagiar e entendeu que a escolha havia sido acertada. Passou a fazer grandes planejamentos para o curso e se apaixonou pelo tema logo no início. 

Essa fonte de força e independência da história de vida de Luciana foram elementos importantes para a posição em que a executiva está agora. A indústria do carnaval é muito masculina, embora as mulheres sejam uma de suas principais marcas.  

“Procuro não fazer disso uma questão. Me concentro em foco, trabalho e resultado. Acho que trabalhar e exigir respeito é fundamental. Ainda é um ambiente muito masculino, mas sigo meu caminho com ética e respeito”, diz. 

DNA baiano 

Apesar de 90% do público do Camarote Salvador vir de fora, a grande aposta do evento é a valorização da cultural local. Após algumas pesquisas, o desafio é mostrar que Salvador é uma capital de muita cultura e tem um serviço premium de qualidade.

“Nosso conceito para a edição deste ano é ‘Antes que o verão acabe’. Queremos trazer o jeito de ser do baiano, que é uma energia difícil de explicar. Ao mesmo tempo, não queremos mostrar que somos apenas muito simpáticos e felizes, mas que nosso serviço também é bom. Trazer nossa cena, nossos artistas, nossa cor, nossa diversidade”, diz. 

O resultado é uma edição com expectativa de ser muito regional na cenografia, no serviço e na gastronomia, com nomes locais para comporem todo o evento, e atrações musicais diversas, de Alok e Leo Santanna a J Balvin. “Salvador está num momento de visibilidade. Vai ser um carnaval incrível, que irá valorizar a cultura da cidade e trazer pluralidade musical.” 

Para ela, outra meta do evento é estar na vanguarda, mesmo como um produto de entretenimento há mais de 20 anos no mercado, algo raro para o setor. Para isso, Luciana aponta que é preciso estar por dentro das tendências de consumo e entender bem sobre seu público, necessidade que requer certo nível de investimento em pesquisa. 

“Nosso padrão de serviço já tem um nível de excelência, então precisamos melhorar o que já é bom. Devemos entender muito sobre o consumo de entretenimento, sobretudo entre o público jovem, que muda de comportamento a todo instante. O mundo está mais rápido, e precisamos acompanhá-lo. Queremos pensar constantemente na evolução do nosso produto, para que tenhamos longevidade no negócio.” 

De olho na sustentabilidade 

Para manter um evento do porte do Camarote Salvador em alta, outro investimento que se faz necessário é em ESG. Há cerca de três anos, Luciana contratou uma consultoria para desenvolver um projeto de sustentabilidade baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Alguns passos já foram dados, mas ainda há muito a ser feito. Para este ano, a executiva diz que as metas são mais arrojadas. 

“Queremos chegar a 100% de lixo zero em 2025. Este ano, nossa meta é 80%. Também iremos neutralizar todo o carbono do evento, além da reciclagem de vidro, plástico e óleo. Além disso, toda a água do ar-condicionado será usada para fazer a lavagem do camarote. São coisas simples, mas muito importantes.” 

A organização do evento também fará um trabalho de capacitação de mulheres negras para o mercado de trabalho nas regiões do entorno do evento. A meta é alcançar 10% das pessoas que trabalham dessas comunidades. Eles ainda estão com um olhar especial a ocorrências de assédio de qualquer tipo, a começar pelos fornecedores do próprio evento: terão um SAC de acolhimento e um canal de denúncia à abuso no ambiente de trabalho.

Entretenimento, um negócio de adrenalina 

O setor de entretenimento é historicamente considerado um dos mais desafiadores da comunicação. Ao refletir sobre a fórmula para liderar com eficiência e qualidade um evento do porte do Camarote Salvador, Luciana logo menciona a importância de ter e promover responsabilidade, independência, e um bom nível de empatia e delegação.  

“Tenho excelentes líderes de confiança abaixo de mim. É fundamental para delegar sem receio. Outro ponto importante é desenvolver a independência nas pessoas e, ao mesmo tempo, ter boa escuta. Não precisamos ter a resposta para tudo, e aprendemos isso na pandemia. O setor de entretenimento foi o primeiro a parar e o último a voltar. Não sabíamos o que aconteceria na semana seguinte, o que iríamos comunicar ou vender. Aprendemos a dizer ‘não sei de tudo’, e isso foi ótimo.” 

Outra habilidade crucial no segmento é fazer tudo com segurança, dentro do prazo e com respeito, diz. “Não dá para atrasar, e isso é muito sério para nós, porque qualquer deslize pode afetar todo o evento. Por isso, manter o clima bom internamente é muito importante. Aqui, é proibido histeria. Vamos em frente, com a vibe boa.”

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