Maternidade e suas múltiplas narrativas
O desafio do mito do equilíbrio de uma mãe-trabalhadora
O desafio do mito do equilíbrio de uma mãe-trabalhadora
9 de maio de 2024 - 16h22
Enquanto escrevo o artigo desse mês, estou a caminho de outra viagem a trabalho. Ser mãe-trabalhadora, independentemente da natureza do seu trabalho, é como tecer um mosaico com fios de amor e jornada. Foi aos poucos que tornei minha vida multifacetada, uma forma de geração de orgulho para mim e para meus filhos.
São nesses momentos que encontro uma verdade profunda, mas que levou anos para que eu realmente sentisse: minha ausência não é uma traição à maternidade, mas sim uma expressão de amor, com laços invisíveis que nos unem, mesmo à distância.
Digo e sinto – e adoraria ouvir as vozes de outras mulheres como elas se sentem em momentos como esse. Eu acredito que embora meus filhos não estejam presentes na sala de reuniões ou ouçam minha voz em negociações cruciais, a cada passo que dou, a cada novo desafio, estou construindo silenciosamente um legado que eles levarão sempre junto.
Nós, mulheres, deixamos esse rastro a todos aqueles que cuidamos. Pense só sobre a ética incansável e a capacidade de perseverar diante dos desafios? Como esses fatores podem servir como modelo para a tenacidade que esperamos que floresça neles? Também representa nossa ambição: nossas trajetórias profissionais lhes ensinam que vale a pena perseguir sonhos e que as mulheres podem ser mães amorosas e exercer também outras forças formidáveis no mundo. E defende a visão de um mundo melhor: nosso trabalho, não importa qual, é uma forma de instilar neles a convicção de que suas contribuições podem fazer a diferença, criando mudanças positivas.
Ao mesmo tempo, quando não estou fisicamente com eles, mesmo à distância, me aproximo da mãe que aspiro ser. Durante a jornada do nosso propósito, a culpa não pode encontrar espaço.
Incluo aqui também o trabalho invisível que muitas mulheres têm em casa e que não é considerado. Atividades que além de necessitarem de tempo e esgotarem fisicamente, ocupam um tempo precioso que poderia ser vivido de outra forma, seja com os filhos ou com uma dose de autocuidado.
Precisamos realmente redefinir a narrativa em torno das mães trabalhadoras. A culpa que muitas vezes carregamos é um peso injustamente imposto. Nossa busca por realização pessoal e profissional não é um roubo aos amores que cuidamos, mas sim um presente inestimável. Somos exemplos da beleza de viver vidas multifacetadas – a própria essência do que desejamos para nossos filhos.
Para as mães com cadernos ao lado de fraldas, que entrelaçam emails entre contos de ninar, que guardam tanto ternura quanto determinação inabalável em seus corações: vocês são extraordinárias. Seus esforços, visíveis ou invisíveis, moldam não apenas seu próprio caminho, mas também as vidas daqueles que mais amam.
Recentemente fui impactada por uma entrevista com a Arianna Huffington, fundadora do site de notícias The Huffington Post, e sua mensagem ressoou para mim também. Estamos no meio de uma transformação cultural em que o autocuidado precisa ser culturalmente aceito. Precisamos adotar a regra dos “80% é bom o suficiente”, priorizar o progresso em vez da perfeição e desafiar o mito do equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Não é sobre a mãe altruísta, mas sim sobre a celebração da multiplicidade de papéis que desempenhamos.
Lara Bazelon, autora do livro “Ambiciosa como a mamãe“, enfatiza que ambição e maternidade não são mutuamente exclusivas. Ambas podem coexistir e se enriquecer mutuamente, inspirando a próxima geração com exemplos de dedicação, paixão e superação.
E, ao navegarmos por essa jornada, vem a inspiração e a sabedoria de Conceição Evaristo, linguista e escritora afro-brasileira, reconhecendo a força e a resiliência inerentes à maternidade em todas as suas interseccionalidades. Sei o peso do meu privilégio, das oportunidades que tive e da minha rede de apoio – sem a qual eu dificilmente poderia exercer todas essas funções -, mas não podemos nos esquecer das pressões da sociedade e das desigualdades sistêmicas. Conceição traz uma mensagem quase como um movimento para nos mantermos firmes, unidas na busca por um mundo mais equitativo para nós e para as gerações futuras. Libertando-nos dos estereótipos, abraçando a maternidade não como uma limitação, mas como um espaço de resistência e empoderamento.
E apesar da constante voz em nossas cabeças nos dizendo que estamos falhando e não fazendo o suficiente, tentando alcançar as expectativas do mundo que nos rodeia, é importante lembrar que o que realmente importa não é a quantidade de tempo, mas a soma dos momentos que passamos juntos e da qualidade dos rastros que deixamos.
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