Mulheres, trabalho e saúde mental: por que esse equilíbrio é tão difícil?
Peso das microagressões e falta de flexibilidade associado à carga das tarefas não-remuneradas levam profissionais ao esgotamento
Mulheres, trabalho e saúde mental: por que esse equilíbrio é tão difícil?
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Taís Farias
8 de março de 2023 - 11h01
Em 2022, a Deloitte conduziu uma pesquisa com cinco mil mulheres, em dez países, incluindo o Brasil, sobre sua satisfação no ambiente de trabalho. Os números trazidos na pesquisa materializam uma situação que muitas vivenciam na prática: 53% delas afirmaram que seus níveis de estresse estão mais altos que no ano anterior e 46% declaram-se esgotadas ou com sintomas de burnout.
Os principais motivos apontados pelas brasileiras que estão, ativamente, procurando outro trabalho são: burnout ou esgotamento (49%), remuneração inadequada (27%), e a falta de oportunidades de crescimento nas organizações em que estão (16%).
Apesar de, durante a pandemia da Covid-19, a discussão sobre o trabalho híbrido ter crescido, na realidade, a flexibilidade ainda é um privilégio para poucas. Apenas um terço das brasileiras (34%) dizem que seus empregadores oferecem políticas de trabalho flexíveis.
Na comparação com 2021, os relatos de assédio e microagressões (em forma de comentários, perguntas e ações dolorosas que questionam ou invalidam uma pessoa ou grupo) também cresceram, chegando a 60%. Na edição anterior, a marca era de 44%.
Os motivos que levam à essa exaustão e tornam o ambiente corporativo nocivo para saúde mental das mulheres são muitos e repletos de complexidade. Um dos primeiros fatores a ser levado em conta é de que o mercado de trabalho foi criado por homens e para homens, como explica Maíra Liguori, cofundadora e diretora de impacto na Think Olga e Think Eva. “É um universo masculino ao qual as mulheres se acoplaram, se adaptaram. E, para caber, elas são submetidas a grandes violências e inúmeros processos de desigualdade”, aponta a executiva.
Aliado a essas questões corporativas, pesa sobre os ombros das mulheres um trabalho que não é formal e, muitas vezes, pode parecer invisível. A esse fenômeno foi dado o nome de Economia do Cuidado. Por trás desse termo reside uma série de regras tácitas que organizam a forma como a sociedade vive e, principalmente, o cuidado com pessoas, ambientes, saúde, alimentação e outros – tarefas que, historicamente, sempre recaíram sobre as mulheres.
Dilma Campos, CEO e sócia-fundadora da agência Outra Praia e head de ESG B&Partners.co, explica que essas funções, embora gerem grande volume de dinheiro do ponto de vista econômico, não são remuneradas. “Quando você chega em casa, o trabalho continua”, explica a CEO, acrescentando: “Isso vai te levando a uma estafa que não é só física, mas também mental”.
Engana-se que as tarefas que compõem a chamada Economia do Cuidado se resumem a obrigações práticas. Elas também envolvem uma carga logística, de planejamento e, claro, de insegurança. “Tudo o que a mulher precisa fazer tem de ser de uma forma planejada”, aponta Erika Moraes, gerente da Robert Half, a respeito da jornada cotidiana média das mulheres. “O homem executivo não tem esse tipo de preocupação”, compara.
Nesse sistema de sobrecarga, o burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional se torna cada vez mais presente. “O burnout é um mecanismo de preservação da espécie”, explica Dilma Campos. Ao manter um ritmo de trabalho – formal e de cuidado – insustentável, o corpo, inevitavelmente, dá sinais.
Para a diretora de impacto da Think Olga e Think Eva, as empresas também precisam reconhecer seu papel na distribuição do cuidado. “São questões que, hoje, só estão no campo feminino e que precisam ser distribuídas. As empresas têm todo o poder e a capacidade de fomentar essa distribuição de maneira prática, com políticas, processos e na transformação de comportamento. Com letramento, conversas, conscientização e exemplos, sobretudo, da liderança”, sugere.
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