Nada muda até que alguém mude
Que nossas decisões na criação, no uso ou no descarte deixem de ser automáticas para se tornarem conscientes

Lefteris Arapakis, filho de pescadores na Grécia e fundador da Enaleia (Crédito: Divulgação)
Tudo começa com um gesto aparentemente simples: a recusa em ignorar o que incomoda e seguir como se nada estivesse acontecendo. Foi assim com Lefteris Arapakis, filho de pescadores na Grécia, que cresceu acreditando na generosidade do mar. Um dia, ao puxar suas redes, percebeu que havia mais plástico do que peixe. Poderia ter se acostumado àquela realidade, mas decidiu agir. Fundou a Enaleia, organização que mobiliza milhares de pescadores para retirar toneladas de resíduos do oceano e transformá-los em matéria-prima e esperança.
A força desse gesto não está na escala inicial, mas na clareza da escolha. Porque toda transformação coletiva começa assim: quando alguém escolhe mudar, mesmo que pareça pouco. Quando se afronta o conformismo e se planta a semente de um outro caminho possível.
Na indústria, com destaque para os fabricantes de tecnologia, decisões guiadas por tal clareza também estão sendo tomadas longe dos holofotes. Lançamos no último mês um dispositivo que reúne múltiplas funcionalidades em um só corpo dobrável, projetado para durar mais e substituir o que antes exigia vários aparelhos. Isso, por si só, já representa um novo olhar sobre consumo. Mas o compromisso vai além de forma e funções: passa por escolhas técnicas que integram a sustentabilidade desde o início do processo.
Nos nossos mais recentes smartphones dobráveis, o uso de materiais reciclados não apenas aumentou, representando 18,2% do peso total de um dos modelos, como se diversificou. Um avanço importante na jornada por uma eletrônica mais consciente. Esses materiais incluem plásticos reciclados (como poliamida, policarbonato, PET e TPU), alumínio, vidro, cobalto, lítio, elementos de terras raras, aço, ouro e cobre em versões pré e pós-consumo.
E o que isso quer dizer? Significa que toda a quantidade usada nesses dispositivos foi recuperada: parte vem de sobras industriais que nunca chegaram ao consumidor final, como resíduos do próprio processo de fabricação, e parte é oriunda da reciclagem de produtos já usados, como baterias descartadas. Trata-se de uma mudança estrutural na forma como esses recursos são reintroduzidos no ciclo produtivo, evitando a necessidade de novas extrações, por exemplo, e reduzindo significativamente o impacto ambiental. As embalagens também seguem essa lógica: são feitas com 100% de papel reciclado.
Avançamos ainda na frente energética. A inteligência artificial embarcada nesses dispositivos foi projetada com atenção especial à eficiência: ao lado de parceiros comprometidos com a redução de emissões, conseguimos diminuir a pegada de carbono associada ao seu uso. Ao minimizar o consumo de energia, tornamos a experiência com IA mais sustentável sem abrir mão da performance.
Ainda há um longo caminho. Nenhuma solução é suficiente isoladamente. Mas cada escolha — de materiais, de processos, de parceiros — indica a direção. É assim que se constrói um futuro mais ético, mais cuidadoso, mais atento às consequências do que criamos e consumimos.
Às vezes, essa mudança começa com algo ainda corriqueiro. Como a decisão de não comprar uma garrafa plástica. Parece irrelevante, mas pense: uma por dia, ao longo de cinquenta anos, soma 18.250 unidades, o equivalente a aproximadamente 438 quilos de plástico. O que parecia inofensivo ganha forma, volume, massa. Pequenos gestos ganham outra dimensão quando atravessam o tempo.
Nada muda até que alguém mude. Pode ser um pescador, uma empresa, um consumidor que decide olhar para a tecnologia não só como um instrumento de avanço, mas como escolha diária de impacto. Que nossas decisões na criação, no uso ou no descarte deixem de ser automáticas para se tornarem conscientes. Porque é nesse movimento atento e intencional que moldamos o futuro a nosso favor.