O mundo está quente, as periferias mais ainda. E o mercado publicitário nessa?

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Opinião

O mundo está quente, as periferias mais ainda. E o mercado publicitário nessa?

É fundamental enfatizar o papel da publicidade na conscientização das marcas sobre os impactos das mudanças climáticas nas favelas


14 de fevereiro de 2024 - 10h49

(Crédito: Unsplash)

Em 2023, a expressão “mudanças climáticas” foi eleita a palavra do ano por 37% dos participantes de uma pesquisa da Cause em parceria com o Ideia. É constatação mais que certeira para um cenário em que os eventos climáticos extremos acontecem com frequência quase diária – escrevo esse texto no exato momento em que o bairro de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro, registrou inacreditáveis 59,5ºC de sensação térmica.

E justamente um bairro carioca longe dos holofotes do eixo Barra, Leblon, Copacabana, com IDH na posição 118 no ranking de uma lista de 126 bairros (segundo o Data.Rio no último levantamento do gênero que encontrei), para ilustrar como o desastre climático que testemunhamos traz muito mais impactos para comunidades e periferias.

Um dia desses ouvi que, no Rio de Janeiro, quem não tem ar-condicionado não vive. Pensei: essa frase está longe de estar certa porque, não sejamos míopes, mais de 22% da população do RJ está justamente em favelas. Minha sugestão seria “vivem, mas sobrevivem”.

Afinal, o dia a dia é um teste de sobrevivência em um calor sufocante. A ida diária para o trabalho em um transporte público lotado já é desesperadora. Guaratiba está a 37 quilômetros do Leblon – tente pensar nas condições do trajeto em transporte público. E, ao chegar em casa, como dormir ou descansar? Será que todos têm acesso a aparelhos de ar-condicionado e ventiladores? 

Além dos fortes calores, temos excesso de chuvas – faz tempo. E todo ano alguma área desce envolta em lama, levando casas e vidas, em notícias repetidas no noticiário de janeiro a março. Mas, vejam, agora esse período se estendeu. Pode ocorrer em outubro ou novembro. As águas de março podem vir a qualquer momento, assim como os calores do verão.

Pesado falar sobre isso? Sim, mas não dá mais para tapar o sol (escaldante) com a peneira. E muito menos achar que o mercado publicitário fica fora dessa.

Diante do cenário em que vivemos, é fundamental enfatizar o papel do mercado publicitário e da mídia na conscientização de empresas e marcas sobre os impactos das mudanças climáticas nas favelas – e, mais ainda, na mobilização para todos agirem para minimizar a repercussão desses eventos na vida das pessoas. 

Que campanhas e iniciativas podemos criar para conscientizar ou mesmo transformar esses locais? Podemos gerar renda por meio da mídia? (Sim, podemos. Nós fazemos isso). Desenvolver ativações com poder de refrescar pessoas e lugares? Apoiar ou até mesmo viabilizar iniciativas verdes de empreendedores sociais locais que resultem em espaços mais limpos, saudáveis e com menos riscos em enchentes? Há anos acompanho iniciativas consistentes que não estão nos holofotes e deveriam (já pensou plantar tetos verdes, sanear uma comunidade ou até mesmo entregar obras de urbanismos, tudo isso com naming rights, gerando crédito de carbono?). Sim, podemos! 

Podemos porque a publicidade tem o poder da criatividade, de investimento e de influência comportamental. E, para além das mensagens, entregas concretas de responsabilidade ambiental se tornaram uma ferramenta eficaz diante do consumidor. Ok, assuntos como inclusão, diversidade e meio ambiente já estão na pauta das empresas. Mas precisamos pensar em ESG na real, sem brand, green ou social washing.

Então, como solucionar isso? Ora, ninguém melhor para resolver um problema do que quem vive ele queimando na pele. Dentro dessas comunidades temos mentes brilhantes, cheias de ideias e criatividade, prontas para fazer parte do time (eu ouvi inclusão?) que vai pensar soluções eficazes e de impacto – e, com essas vozes, soluções muitas vezes mais simples e intuitivas. 

Bora refrescar as ideias e o mundo?

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