Assinar

O que caruru tem a ver com cultura organizacional? 

Buscar
Publicidade

Opinião

O que caruru tem a ver com cultura organizacional? 

Não adianta ter os ingredientes -- é preciso combiná-los de maneira hábil para que todos contribuam para o resultado final


23 de setembro de 2024 - 9h58

(Crédito: Shutterstock)

Você já comeu caruru? Se você está lendo este texto e nunca teve essa experiência, recomendo fortemente que busque o mais rápido possível. É delicioso! O caruru é um prato típico da culinária baiana e afro-brasileira, que tem como principais ingredientes quiabo, azeite de dendê, camarão seco, castanha, amendoim, tomate, cebola e coentro. Não, esta coluna não virou uma coluna gastronômica, fiquem aqui que logo vocês verão onde eu quero chegar. 

O prato é degustado tradicionalmente às sextas-feiras em Salvador, mas durante o mês de setembro, quando também é celebrada a festa de São Cosme e São Damião, todo dia é dia de caruru. Segundo a tradição, quem cozinha o caruru deve oferecê-lo a sete crianças, já que a história aponta que os santos médicos gêmeos, que viveram na Ásia, cuidavam gratuitamente da saúde de crianças. Portanto, São Cosme e São Damião são conhecidos por serem protetores das crianças. 

Há poucos meses, por razões profissionais, me mudei para Minas Gerais e carrego comigo uma bagagem muito forte do meu estado de origem, a Bahia. Por aqui, pouco se conhece sobre o caruru. A expressão da culinária regional fica a cargo do feijão tropeiro, do fígado com jiló e, claro, do pão de queijo. Isso me fez pensar muito sobre a força da cultura regional e como as tradições têm o poder de ditar costumes. A forma como convivemos, como nos sentamos à mesa, como estabelecemos nossos rituais, como respeitamos e convivemos com as diferenças, tudo isso tem a ver com cultura. 

De acordo com dados da Unesco, 85% dos países consideram a cultura como parte de suas políticas públicas. Em abril de 2022, a organização publicou um boletim que monitora a presença da cultura nas políticas públicas em resposta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU. No documento, a Unesco traz como a cultura pode contribuir para alcançarmos cada um dos 17 ODS. Uma das contribuições mais marcantes está relacionada ao objetivo 10, de redução das desigualdades. O documento ressalta que o respeito à diversidade cultural gera diálogo positivo e inclusão social. 

Acredito fortemente que a valorização da cultura local tem o poder de promover o desenvolvimento regional. Na Fundação ArcelorMittal, estamos buscando aumentar o incentivo à cultura local nos territórios exatamente por este motivo. Para além de gerar renda, criar oportunidades de trabalho e elevar a autoestima da população, a valorização da cultura regional cria um senso de pertencimento e fortalece a identidade de um povo, o que tem reflexos importantes na redução das desigualdades, na promoção da diversidade e da inclusão. É por isso que é tão importante que você leia sobre caruru em um espaço como este, por exemplo. 

E, falando em cultura, diversidade e inclusão, um dia desses eu estava cozinhando meu caruru (olha ele aí de novo) e me vi refletindo sobre o papel que cada ingrediente desempenha no sabor final do prato. Sem quiabo, caruru não é caruru. O mesmo vale para o camarão seco, a castanha, o amendoim, o azeite de dendê e o coentro. A falta de qualquer um dos ingredientes muda completamente o resultado final. E não é assim também em relação às equipes e como cada membro contribui para o resultado do trabalho? 

Acredito muito no poder que equipes diversas têm de serem mais efetivas. De acordo com uma pesquisa de 2019 realizada pela consultoria Accenture, companhias inclusivas e diversas são 11 vezes mais inovadoras e têm funcionários seis vezes mais criativos. Em cinco anos desde que a pesquisa foi realizada, esta realidade vem se mostrando cada dia maior no mundo corporativo. Vivências diferentes impulsionam o trabalho em equipe, agregam pontos de vista e mudam perspectivas na tomada de decisões. É como no caruru: a mistura de ingredientes distintos é que faz o sabor ser o que é. 

Mas para que o trabalho em equipe seja efetivo, mais do que promover a diversidade e a inclusão, é preciso promover o respeito. Falei um pouco sobre isso na minha coluna “Não é Mimimi”. É papel do líder promover um ambiente seguro para o “blend” de sabores acontecer, a colaboração entre as pessoas se realizar. Na coluna, trouxe um estudo nacional sobre canais de denúncia realizado pela Aliant. Segundo a pesquisa, as lideranças promovem a segurança psicológica quando se responsabilizam por manter um ambiente de trabalho receptivo, funcional e integrado, em que colaboradores se sentem pertencentes a um coletivo que os aceita como são, os agrega e os potencializa.  

Ou seja, não adianta ter os ingredientes — é preciso combiná-los de maneira hábil para que todos contribuam para o resultado final. Como está o ambiente na sua empresa? Está receptivo para respeitar as individualidades dos colaboradores?  

Agora pense no prato mais tradicional da sua cidade. Ele fica igualmente saboroso se algum ingrediente for retirado? Convido vocês a sentarem à mesa comigo para refletirmos juntos e juntas sobre cultura e comermos um caruru completo, que acompanha vatapá, feijão fradinho, xinxim de galinha, acarajé… deu água na boca! 

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Gabriele Carlos: de executiva de RH a CEO 

    Gabriele Carlos: de executiva de RH a CEO 

    A primeira mulher no comando da Zeiss Vision Brasil representa uma tendência corporativa de altas lideranças que vêm da área de recursos humanos 

  • Mariana Becker: a voz feminina da Fórmula 1 na TV brasileira

    Mariana Becker: a voz feminina da Fórmula 1 na TV brasileira

    A jornalista, que viaja pelo mundo há mais de 15 anos para cobrir o automobilismo na televisão, fala sobre a ascensão feminina na categoria