O que Taylor Swift pode nos ensinar sobre negócios
A artista vai muito além de hits e fofocas em torno da sua vida pessoal: é uma empresária que construiu um império, faz parcerias estratégicas e tornou-se uma marca forte
O que Taylor Swift pode nos ensinar sobre negócios
BuscarA artista vai muito além de hits e fofocas em torno da sua vida pessoal: é uma empresária que construiu um império, faz parcerias estratégicas e tornou-se uma marca forte
Michelle Borborema
16 de novembro de 2023 - 11h41
A “The Eras Tour”, turnê mundial de Taylor Swift, chega no Brasil no dia 17 de novembro, no Rio de Janeiro. Lá, os fãs querem iluminar o Cristo Redentor para mostrar para a artista como ela é bem-vinda na cidade. O plano de homenagem chegou ao prefeito da capital carioca, Eduardo Paes, que causou alvoroço nas redes sociais ao se propor a ajudar o público. Na semana seguinte, os shows serão em São Paulo.
É a primeira vez que Taylor traz uma turnê mundial para o Brasil. Mais de 300 mil ingressos foram vendidos, e todas as entradas para as apresentações estão esgotadas.
Mas o burburinho do show não é exclusividade do Brasil. Milhões de fãs, os chamados “swifties”, tentam comprar ingressos para a turnê em todo o mundo. Com público recorde e estampado nas manchetes de veículos da imprensa de inúmeros países desde que foi lançado, em março, no Arizona, o espetáculo tem tickets difíceis de serem adquiridos. Para não dizer inalcançáveis. Compra quem tiver paciência para esperar chegar a vez na fila, dinheiro e muito apreço pela artista.
Enquanto isso, Swift está nas telas de cinema com o mesmo show, em uma estratégia multicanal. Durante a passagem da artista por Los Angeles, em 2022, as apresentações foram gravadas e transformadas em um longa-metragem. O filme-concerto já estreou nos cinemas do Brasil, para quem não puder ir à turnê da cantora e quiser ter um gostinho do seu show.
Mas todo esse sucesso de Taylor Swift vai muito além dos seus hits e das fofocas em torno da sua vida pessoal, como seu atual namoro com o craque Travis Kelce, do time Kansas City Chiefs, da NFL (liga de futebol americano, que inclusive tem sido impactada positivamente com a presença da cantora nos jogos). Assim como Anitta, para usar uma referência brasileira, a artista é uma empresária que construiu um império. O segredo? Parcerias estratégicas, um marketing consistente e a construção constante de uma marca forte.
Conheça o que Taylor Swift, que se tornou uma das artistas de maior sucesso dos nossos tempos, pode nos ensinar sobre negócios.
O sucesso da Taylor Swift não se deve apenas ao seu talento musical: sua imagem e reputação são cuidadosamente elaboradas e desenvolvidas. Desde seus primeiros dias como cantora country até o seu atual status de estrela pop, ela sempre foi estratégica com sua marca. Com uma personalidade autêntica e muito bem definida entre as demais artistas pop, ela manteve, ao mesmo tempo, sua privacidade sob controle. Isso a ajudou a construir uma base de fãs leais, os “swifties”, e a se estabelecer como uma personalidade respeitada e influente na indústria. Ajudou, também, a mantê-la como uma marca consistente e coerente ao longo do tempo, mesmo mudando de “posicionamento”.
Exemplo disso foi seu álbum “Reputation”, lançado em 2017, após uma série de episódios de cancelamento da artista envolvendo Kanye West, Kim Kardashian, seu ex-namorado Calvin Harris e Katy Perry, além de acusações de antifeminismo, neutralidade política, gordofobia, entre outros. Todas essas polêmicas fizeram com que o Instagram de Taylor fosse invadido por haters, chamando-a de cobra e publicando emojis de serpente nos comentários. O videoclipe “Look What You Made Me Do”, do álbum de 2017, apresenta Taylor sentada em um trono rodeada de cobras, para fazer alusão ao momento da artista. A música é a mais popular da produção. Gestão de crise por meio da arte.
Ela construiu um império para além da música, explorando produtos de sucesso como roupas, capas de smartphones e joias. Ao diversificar suas fontes de receita, Taylor capitalizou sua marca e atingiu um público mais amplo. Ela também tem sido estratégica nas parcerias fechadas, colaborando com marcas que se alinham aos seus valores. Coca-Cola, New Balance, Toyota, Sony e Capital One são algumas delas. Isso a ajudou a manter sua autenticidade e credibilidade, ao mesmo tempo em que expande seus empreendimentos comerciais. Tudo isso além de, claro, equilibrar bem sua visão da própria arte com um olhar de produto de si mesma.
Taylor aproveita as redes sociais e o engajamento dos fãs para promover sua marca e se conectar com o público. Ela interage frequentemente com eles em plataformas como TikTok, Twitter e Instagram. Não é difícil vê-la favoritando fotos de fãs e repostando selfies de algum “swiftie” ao lado da capa de um álbum da cantora. Ela também usa as mídias sociais para anunciar novos produtos e experiências exclusivas para os fãs, geralmente com uma estratégia de easter eggs no meio do caminho. Com isso, cria um senso de urgência e entusiasmo entre o público, mas com uma linguagem orgânica e conectada às tendências do momento, típica da nativa digital que é. Ao priorizar o envolvimento e a autenticidade dos fãs, a cantora construiu uma base de seguidores leais que continuam a apoiar seus projetos artísticos e comerciais.
Mas a comunidade de Taylor Swift não funciona apenas nas redes sociais: ela transborda em diferentes canais antes, durante e após os shows, lançamentos e outras ações. Prova disso é a troca de pulseirinhas da amizade entre os “swifties”, febre nostálgica resgatada para os shows da artista que está alavancando vendas de miçangas e bijuterias em todo o país.
Swift vai muito além do meio digital como ferramenta para gerar valor para seus fãs. Nas semanas que antecederam o lançamento do álbum “1989”, a cantora fez pessoalmente uma varredura em redes sociais populares, como Instagram e Twitter, para ler comentários dos ouvintes da obra. Como recompensa aos apoiadores, ela fez convites pessoais para uma oportunidade especial: a participação em suas diversas secret sessions de pré-lançamento do álbum, realizadas nas casas de Swift em Beverly Hills, Nova York, Rhode Island e Nashville. Em todas elas, a artista esteve presente, transformando o que poderia ser uma ação de marketing qualquer em um encontro especial, onde falou com seus fãs sobre suas inspirações em um bate-papo informal. As ações tiveram grande repercussão nas redes sociais e ajudaram a alavancar as vendas do seu álbum já no lançamento. As secret sessions foram uma estratégia também em outros de seus álbuns.
A artista construiu uma plataforma pública poderosa e influente, com capacidade de promover movimentos massivos e gerar mudanças rapidamente. Um dos motivos: todas as declarações de comunicação da cantora são consistentes e transparentes, sejam elas nas redes sociais, mais casuais, ou comunicados de imprensa.
O exemplo mais forte disso foi quando ela deletou todo o seu catálogo do streaming do Spotify depois de emitir uma declaração pública, claramente escrita por ela, ao invés de ser redigida por uma agência de relações públicas. “Música é arte, e arte é importante e rara. Coisas importantes e raras são valiosas. Coisas valiosas devem ser pagas. É minha opinião que a música não dever ser gratuita”, dizia a nota.
O movimento naturalmente virou notícia internacional, alimentando debates em todo o mundo sobre o pagamento de royalties a artistas. Segundo a revista Time, os artistas ganham, no streaming do Spotify, uma média de menos de um centavo de dólares pela execução de cada faixa, o equivalente a 2 centavos de real.
Depois, em 2015, Swift divulgou uma declaração desafiando a política de lançamento do Apple Music de reter o pagamento aos artistas em troca do valor promocional para o consumidor: “Tenho certeza de que você sabe que o Apple Music oferecerá um teste gratuito de 3 meses para qualquer pessoa que se inscrever no serviço. Não tenho certeza, porém, se você sabe que o Apple Music não pagará compositores, produtores e artistas nesses três meses. Isso é chocante, decepcionante e completamente diferente da história progressista e generosa da empresa.” Em poucas tempo, a Apple pós-Jobs, sob liderança de Tim Cook, cedeu, mudou de direção e concordou em pagar royalties de streaming.
Ao pensar e agir além do interesse próprio, com o propósito de melhorar a experiência dos outros — e, claro, de si mesma, porque estamos falando de um bom ganha-ganha aqui –, Swift deu ao público uma razão para acreditar. E, a lógica é simples: ao fazê-los acreditar nela, eles seguirão consumindo dela.
Hoje, muitos dizem que Taylor Swift não está na indústria, pois é a própria [indústria]. Pode ser exagero, mas é uma boa referência sobre como ser uma marca disruptiva e de alta performance, que inova, inverte a lógica de toda a categoria e a puxa, assim, para cima.
O fato é: cantora não desacelera os negócios. Além da carreira musical, ela também foi para o mundo da moda. Ela ainda está envolvida em projetos filantrópicos, incluindo doações para causas de educação e de ajuda humanitária.
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