Pesquisa retrata perfil das mulheres em conselhos no Brasil
O estudo, que entrevistou 187 conselheiras brasileiras, concluiu que as empresas ainda falham em diversidade
Pesquisa retrata perfil das mulheres em conselhos no Brasil
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9 de setembro de 2022 - 14h40
Por Lídia Capitani
O Women Corporate Directors (WCD) publicou pela primeira vez a pesquisa “Retrato da Conselheira no Brasil”, um mapeamento do perfil das mulheres que atuam em conselhos de empresas no país. Apesar dos avanços em relação à equidade entre os gêneros no cargo, o estudo demonstra que ainda há muito chão para percorrer em termos de diversidade. De modo geral, as mulheres que alcançam a função são brancas (97%), entre 51 e 60 anos (45%), mães (82%), cisgêneros (88%), heterossexuais (98%) e residentes do Estado de São Paulo (74%).
A WCD, única organização global de mulheres diretoras corporativas, atua no Brasil desde 2009 e, no início, havia poucas mulheres conselheiras, e a maioria dos membros da iniciativa eram executivas. A alegação que mais ouviam para essa falta de representatividade era que “não havia mulheres preparadas para atuar em conselhos de administração no país”, de acordo com o estudo publicado. Com o avanço das pautas feministas e de diversidade, elas foram ganhando espaço e provaram que a afirmação era infundada.
Segundo o WCD, 93% das respondentes têm um ou mais diplomas além do ensino superior. Em geral, elas já realizaram MBA (57%), mestrado (27%), doutorado (7%) e pós-doutorado (2%), além de investirem em certificações para conselheiros (47%) e especializações na área de Governança Corporativa (46%). Elas não só comprovam com educação, como também dividem a função de conselheiras com outros cargos de alto nível: 28% são CEO/Presidentes, 26% estão em cargos de diretoria executiva ou head de área em multinacionais e 10% carregam o chapéu de CFO.
Dentre as formações mais citadas estão administração (28%), finanças (16%), engenharia (12%) e direito (12%). Já sobre as áreas de especialização, elas estudaram governança corporativa (48%), estratégia (40%) e financeiro e contabilidade (30%).
Conselhos faltam em diversidade
Ainda que as mulheres tenham ganhado espaço nos conselhos administrativos, o colegiado ainda falha em ser diverso. 79% das respondentes afirmaram que não existe, ou é muito rara, diversidade de raça, orientações sexuais, origens geográficas e faixas etárias. Quanto à raça, 2% das entrevistadas são amarelas, 1% pardas e nenhuma respondeu ser negra. Um perfil que destoa completamente da realidade brasileira, na qual 56% da população é negra e, 28%, mulheres negras. Apesar da pesquisa não ter registrado uma conselheira negra, Cristina Pinho, Rachel Maia e Solange Sobral são alguns dos nomes entre as que foram incorporadas em conselhos administrativos a partir de 2020.
Lisiane Lemos é a cofundadora do Conselheira 101, organismo que tem como objetivo incentivar a presença feminina negra nos conselhos e discutir a falta de diversidade nesse ecossistema. “Em 12 meses de existência, pudemos acompanhar a evolução de mais de 30 executivas em busca de posições de conselho. A intensa movimentação que esse grupo protagonizou em tão pouco tempo: 60% delas ascenderam na carreira executiva e 41% conquistaram posições em conselhos consultivos, fiscais e também de administração, além de comitês”, relata ao estudo.
Para além da falta de diversidade racial, a pesquisa também identificou uma baixa representatividade LGBTQIAP+ e de localização geográfica. Quanto à orientação sexual, 1% se declarou homossexual, 0,5% bissexual e 0,5% assexual; 88% é cisgênero, 9% preferiu não declarar e 2% se identificaram como não-binários.
A problemática se estende à baixa representatividade de pessoas de outras regiões do Brasil e confirma um perfil predominantemente sudestino. O Estado de São Paulo concentra a maioria das atividades dos conselhos e é também o local de origem de grande parte das conselheiras. 77% das empresas onde as respondentes atuam têm sede no sudeste, e 55% das colegiadas nasceram em São Paulo.
Elas estão ganhando espaço
Os dados deste estudo, e de outros recentes, demonstram que há um movimento de trazer mais mulheres para os conselhos. Quanto à representação, 63% das entrevistadas disseram corresponder a 30% dos conselhos, 8% entre 30% e 50%, 1% a mais da metade do colegiado e 20% responderam que não existem mulheres ou são raras.
Estes números corroboram com pesquisa de 2021, realizada pelo ACI Institute em parceria com o Board Leadership Center Brasil, ambas iniciativas da KPMG no Brasil, que apontou, pela primeira vez, mais da metade (63%) das empresas brasileiras listadas na bolsa com pelo menos uma mulher no conselho de administração. Apesar do aumento da representatividade feminina, esse movimento ainda é recente e se concretizou nos últimos tempos. O estudo da WCD demonstra que 55% das entrevistadas estão no cargo há menos de dois anos.
Devido a essa representatividade tardia, as conselheiras entendem a importância de trazer mais mulheres e mais diversidade para dentro do colegiado. Ainda mais porque 40% responderam que a maior dificuldade enfrentada por elas para chegar aos conselhos é o networking. Afinal, o cargo depende muito de indicações dos próprios integrantes.
Ao serem questionadas se já indicaram outras mulheres para o conselho onde atuam, 61% responderam que sim, mas apenas 40% das indicações se concretizaram. O dado demonstra como a sororidade é importante para elas, mas, também, como os homens podem ajudar neste processo. “Mulheres podem apoiar outras mulheres, mas homens podem fazer isso de modo ainda mais eficaz, sugerindo a inclusão delas nos conselhos em que atuam”, disse uma das entrevistadas.
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