Primeira vez de novo: Nike e a nova geração
Tão potente quanto reapresentar e reencantar é lembrar que tudo bem ser vulnerável

Rayssa Leal em nova campanha global da Nike (Crédito: Divulgação)
“Modernizar o passado”, como dizia Chico Science… é evolução.
Às vezes, as “notas” antigas nem precisam estar todas lá; basta soar verdadeiro. Arte e esporte não resolvem tudo, mas ajudam a enfrentar, boto fé demais nisso. Enquanto escrevia, voltei a Chico: fez todo sentido.
A nova campanha da Nike me levou para além do filme e do esporte.
Quase 40 anos depois, a marca reintroduz o “Just Do It” a partir de uma pergunta: “Why Do It?”. No vídeo, atletas como Vini Jr., Rayssa Leal e LeBron James encaram o lado cru do jogo, medo de falhar, pressão, vontade de desistir, e a escolha íntima de seguir.
Na voz de Tyler, the Creator, a narração cutuca os pensamentos que travam a gente: “Por que fazer isso? Você pode dar tudo e ainda assim perder.
Mas… e se não perder?”
Eu achei um golaço, e dá para ir além da campanha.
Por que isso importa agora
Talvez a gente precise ensinar (e reaprender) a fazer perguntas. Estimular pensamento crítico, reapresentar experiências boas que funcionaram no passado e que muita gente jovem nem conheceu.
Reencantar não é nostalgia: é curadoria com linguagem de hoje.
A Nike faz exatamente isso: pega um ícone de quatro décadas, conecta com histórias e corpos de agora e convida a nova geração a sentir — não só assistir — o esporte. Com maturidade, dá para resgatar o que foi bom, atualizar e apresentar de novo.
Isso vale para o esporte. Isso vale para a vida.
Gerações: bola no chão
Conflitos geracionais estão por toda parte. Não é sobre uma geração “antiga” desmerecer o novo, nem o novo ignorar aprendizados (bons e ruins) de quem veio antes.
Empatia é a palavra, sem esvaziá-la. Acredito nisso.
Há experiências que os mais jovens não viveram; vale reapresentar para que criem novas memórias.
No fundo, é o que a Nike faz: pergunta o “porquê” para legitimar o “faça”.
Brand love, memória e conexão
Tenho 40 e conheço o “Just Do It” de cor, antes do meu primeiro Nike. Por muito tempo, era um sonho caro. Quando chegou, foi pura felicidade. Aposto que essa é a história de muita gente também. E quem tem 15, 18, 20? Que memória afetiva o slogan ativa hoje?
Como esse brand love segue fazendo sentido daqui pra frente? O que essa geração quer, espera e como deseja se conectar? Dentro dela, quantas camadas cabem, recortes sociais? (Assunto para outro artigo)
O filme acerta quando re-humaniza o atleta. Em tempos de desumanização de figuras públicas, ver vulnerabilidade, dúvida e propósito aproxima.
“Quando entro em campo, não é só futebol. É mostrar para crianças que não precisam esperar o momento perfeito: você simplesmente vai e faz”, diz Vini Jr.
No fim das contas
Tão potente quanto reapresentar e reencantar é lembrar que tudo bem ser vulnerável, e que atleta, artista, marcas e nós não somos avatares; somos gente. Não é só sobre comprar um tênis incrível: é sobre estilo de vida e os sonhos que nos movem. Sobre perguntar melhor para fazer melhor, e ser quem viemos ser.
Como profissional da indústria criativa, publicitária, jornalista, produtora e mais, me pergunto sempre como nosso trabalho pode impactar positivamente a vida das pessoas. Num tempo de velocidade e consumo raso, nosso papel é reencantar pelo humano: mostrar o lado vulnerável, imperfeito e verdadeiro; resgatar o que há de bom; fortalecer o coletivo; promover encontros; convidar a viver mais e com mais permissão. Com medo, se for o caso, mas sem deixar o medo paralisar.
Que a nossa profissão siga ajudando a construir uma cultura que some, que una e que escreva uma história nova, melhor para todos.