Quantas mulheres lésbicas CEOs você conhece?
O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica foi criado há pouco menos de 30 anos e ainda é uma reivindicação atual
Quantas mulheres lésbicas CEOs você conhece?
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29 de agosto de 2024 - 6h41
O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de agosto) foi criado há pouco menos de 30 anos e ainda é uma reivindicação atual. Pelo menos é o que pude comprovar na minha própria vivência, enquanto uma mulher que se reconhece como lésbica há cerca de 20 anos, e vive abertamente como tal há mais de uma década.
A invisibilidade que senti e a quase absoluta falta de representatividade que presenciei foram determinantes para minha escolha de sair do Direito e me aproximar profissionalmente da Comunicação. Não vejo muitos profissionais falando sobre isso no mercado e acho importante abordarmos mais esse assunto.
De acordo com os dados do estudo “Representatividade, Diversidade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022”, lésbicas representam apenas 1% no quadro geral das empresas. Mulheres heterossexuais são 29,5% e homens heterossexuais, 64,8%. Nos cargos de liderança, esse número cai ainda mais. Eu sei bem, posso dizer que conheci pouquíssimas (e talvez esse plural seja um exagero) mulheres abertamente lésbicas em cargos similares ao meu.
Desde o início da minha carreira, todos ao meu redor eram heterossexuais, ou pelo menos assim se identificavam publicamente. E quem fugia a essa regra era alvo de comentários. Durante muitos anos, enquanto ainda não me sentia segura o suficiente na minha carreira, eu também performei heterossexualidade no meio profissional e respondia que tinha namorado, caso me perguntassem. Não existia ninguém como exemplo, nem na faculdade nem no escritório de advocacia em que eu trabalhava, e eu não me sentia segura o suficiente para ser o exemplo.
Foi por volta dos 25 anos que comecei a viver uma vida mais aberta nesse sentido, ou seja, não escondendo (e, aos poucos, expondo!) minha sexualidade no ambiente profissional. Os exemplos continuavam em falta, mas eu não me importava com isso mais. Comecei a entender que, talvez, eu precisasse ser, ou tentar ser, ao menos parte desse exemplo que eu não tive.
Tenho plena consciência de que falo isso de uma posição de privilégios, que não tenho dimensão dos níveis de opressão diária que tantas pessoas sofrem por serem negras, transexuais, por terem deficiências físicas ou intelectuais, e que, por esses e outros motivos, minha experiência não é referência e não dá conta de tantas outras vivências. Mas é um começo, é um pouco da parte que me cabe.
Larguei a vida de advogada, fui estudar Cinema, caí de paraquedas na Webedia e já cheguei totalmente sincera com relação à minha sexualidade. Em toda a minha carreira, nunca tive um diretor ou sênior que fosse abertamente LGBT, mas pelo menos encontrei outras pessoas diversas em volta, e senti que nos comunicávamos em nossas diversidades.
Embora a empresa fosse um ambiente seguro, em que não me sentia julgada, ainda tive por muitos anos que lidar com indagações do tipo “e o seu marido?” em reuniões externas. Essas situações sempre me desconcertavam, me faziam hesitar entre falar e “causar” ou ficar quieta. Hoje em dia não hesito mais; o desconforto deveria ser de quem pergunta, e não de quem responde. Quero contribuir com o que posso para que esse tipo de generalização, de pergunta a princípio ingênua – mas que acaba por invisibilizar diversas vivências -, seja extinta. É uma missão para mim, enquanto CEO, que ninguém passe por constrangimentos em relação à sua sexualidade, origem ou identidade de gênero.
Embora as estatísticas ainda sejam ruins, sinto que as coisas estão começando a melhorar, ao menos no nosso meio. Faço um convite para que empresas olhem para essa questão com mais responsabilidade. Que a gente promova mais espaços para que esse assunto seja debatido, essas vozes sejam ouvidas e, mais importante: respeitadas.
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