Uma seleção que faz história sem grandes recursos: o fiel retrato do futebol feminino

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Opinião

Uma seleção que faz história sem grandes recursos: o fiel retrato do futebol feminino

A modalidade vem atraindo cada vez mais investimentos e público ao redor do mundo. Melhorar o nível dos jogos no Brasil é urgente e inadiável


8 de setembro de 2022 - 8h34

(Crédito: Lucas Figueiredo/CBF)

A seleção brasileira feminina acabou de conquistar o seu oitavo título da Copa América. Em 30 de julho, ganhou da Colômbia na casa da adversária e garantiu mais um título para sua coleção. O oitavo nesse torneio.

A equipe, que já está classificada para a Copa do Mundo feminina que acontece no ano que vem e para as Olimpíadas de Paris, em 2024, recebe pouco crédito por seus feitos.

E também pouco reconhecimento e consideração da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Recentemente, a seleção teve uma janela da FIFA para amistosos de 29 de agosto a 6 de setembro e a CBF não havia marcado nenhum jogo até 4 dias antes dessa janela. Como resultado, o time ficou sem agenda para amistosos e acabou viajando com 2 dias de antecedência para África do Sul, para dois jogos com a seleção do país, que está na posição 54 do ranking, sem a oportunidade de enfrentar outras grandes equipes.

Pode até parecer algo sem grande valor, mas esses amistosos são fundamentais para conhecer adversários, ajustar o time e testar possibilidades. Aproveitar essas janelas para enfrentar seleções que jogam em alto nível, além de melhorar o desempenho do time, traz segurança para as jogadoras encararem os torneios conhecendo melhor as adversárias e suas capacidades físicas. Só assim é possível evoluir na modalidade.

O futebol feminino vem atraindo cada vez mais investimentos e público ao redor do mundo. Melhorar o nível dos jogos e da modalidade no Brasil é urgente e inadiável. Um bom exemplo é a seleção inglesa, campeã da Euro 2022. Logo na sequência da campanha vitoriosa no torneio, marcou um amistoso com a seleção americana, atual campeã do mundo, no dia 7 de outubro, em Wembley. O que promete ser um jogo sensacional teve os ingressos esgotados em 3 dias. A federação inglesa de futebol, seguindo os passos da americana, tem trabalhado fortemente para fortalecer a seleção feminina e igualar cada vez mais o esporte. Mas as ações precisam acontecer também na prática, e não só no discurso, como vêm fazendo a CBF. Assim como o time feminino brasileiro, que sofre com agendas e prioridades, os clubes e os torneios nacionais não recebem a atenção e os incentivos que merecem, o que prejudica o desenvolvimento e a carreira das atletas. A falta de atratividade nas competições afasta o público e consequentemente os patrocínios, o que torna o caminho das jogadoras ainda mais complexo. Incentivar um calendário nacional que faça sentido e seja relevante é fundamental para a trajetória das atletas, dentro e fora de campo.

Com um calendário bem ajustado e relevante, a mídia esportiva tem mais assunto e argumentos para exercer o seu papel de cobrir e trazer a informação para a audiência, um fator vital para a disseminação do esporte. Eu sempre digo e repito: é muito difícil consumir e ter interesse por algo que não temos dados sobre, ou que não está claro. A repetição e a oferta de informações são fundamentais para despertar e manter cada vez mais o interesse do público pelo esporte feminino.

E, nesse ponto, as marcas têm sido brilhantes e estritamente necessárias. Com o aumento do interesse delas pelo assunto, e com disponibilidade de investimento, os veículos de comunicação criam espaços e investem na cobertura de conteúdos que fomentem o esporte feminino. E os ganhos são imensos: imprensa cada vez mais especializada, profissionais em melhores níveis, informação de relevância e qualidade, visibilidade e divulgação. E tudo isso culmina em bons números de audiência, o que retroalimenta o assunto e abre definitivamente o espaço para a mulher no esporte.

E para mostrar como não é uma questão tão complexa de se resolver, trago um exemplo ainda de Copa América. Essa edição foi um sucesso em termos de rentabilidade e audiência. A competição feminina teve os jogos transmitidos por uma TV aberta (SBT), que fez um trabalho excelente e pela primeira vez teve 5 cotas de patrocínios exclusivas da modalidade vendidas. Com uma audiência média de 5 pontos no Ibope e com picos de 8 pontos. Uma grande vitória para a visibilidade do esporte feminino. O que prova que, com um calendário coerente e a visibilidade da imprensa, o esporte feminino só tende a crescer. Porque espaço realmente existe.

O papel de inclusão da mulher no esporte também passa por nós, mulheres, incentivarmos as atletas, seja consumindo conteúdo, assistindo aos jogos ou frequentando estádios. Então, deixo aqui o convite: que tal experimentar assistir a uma partida de futebol feminino? Tenho certeza de que será uma experiência positiva e divertida. Vale a pena.

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