Manuela Bordasch: “Num mundo efêmero, é importante ter consistência”
A CEO do site de moda e beleza Steal The Look e Diretora de Conteúdo de Moda do Magazine Luiza fala sobre sua trajetória profissional
Manuela Bordasch: “Num mundo efêmero, é importante ter consistência”
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Lidia Capitani
1 de novembro de 2022 - 10h11
Manuela Bordasch tinha acabado de se formar na faculdade quando decidiu criar um blog de moda. Com um investimento inicial de trinta reais, ela comprou um domínio e nomeou o site como “Steal The Look”. Desde o início, o intuito era tornar a moda e a beleza mais acessíveis, e o objetivo segue até hoje: o site traz onde comprar as peças do momento e como aplicar as tendências das passarelas no dia a dia.
Dez anos depois, o projeto cresceu e virou uma das maiores plataformas de conteúdo de moda, beleza e comportamento feminino do Brasil. No Instagram, tem mais de 600 mil seguidores, e recebe 4 milhões de visitas mensais no site. O sucesso não para por aí: a empresa foi adquirida pelo Magazine Luiza, e a empreendedora assumiu a posição de Diretora de Conteúdo de Moda.
Formada em Relações Internacionais com ênfase em marketing e negócios pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Manuela é CEO e fundadora do Steal the Look e do Push, plataforma e evento de compartilhamento de experiências entre empreendedoras.
Em entrevista ao Women To Watch Brasil, a empreendedora conta os ingredientes do sucesso do negócio, fala sobre a aquisição do Magalu e sobre seu estilo de liderança.
O Steal The Look completou 10 anos e no ano passado foi comprado pela gigante do varejo Magazine Luiza. Qual é a sua avaliação dessa trajetória até aqui e os planos para o futuro do projeto?
O Steal The Look foi adquirido em março do ano passado e, conversando com algumas pessoas, influenciadoras e veículos do mercado, acredito que a magnitude dessa aquisição foi muito importante por representar um marco para a profissionalização da produção de conteúdo. Até então, não sabíamos para que lado iria esse mercado, se era formal ou informal. Acho que essa foi uma chancela muito relevante para o Steal The Look, para todo o trabalho que fizemos ao longo de dez anos. Dá protagonismo ao conteúdo e ao storytelling, que vêm ganhando mais importância para as marcas.
Ficamos muito felizes com a procura. Estávamos sendo abordados por outros grupos também, e o que mais fez sentido para nós, sem a menor dúvida, foi o Magalu. Tanto pela questão cultural quanto pelo propósito, considerando o que o Steal The Look busca e a missão do Magalu. Nosso negócio segue operando de maneira independente. Realmente temos muita liberdade, principalmente na parte editorial.
O propósito do Magalu de levar a muitos o privilégio de poucos se encontra muito com o propósito do Steal The Look, que é de democratizar a moda, que sempre foi o nosso objetivo.
O investimento inicial do Steal the Look foi mesmo de apenas 30 reais? A que você atribui o crescimento da plataforma e seu sucesso como empreendedora?
O valor do domínio de fato foi 30 reais e todo mundo entrou com o trabalho. Mas, se eu fosse atribuir o fator mais importante do sucesso do Steal The Look, seria à consistência do trabalho. Sempre falo nas palestras que consistência é diferente de frequência. No momento em que definimos a frequência com que vamos trabalhar em cada um dos canais, ter consistência é muito importante para conseguir criar uma presença de marca relevante. Então, sempre focamos nisso. As plataformas e os canais são alimentados diariamente. O site, em dez anos, nunca ficou um dia sem conteúdo. Hoje em dia, num mundo cada vez mais efêmero, é muito importante ter consistência em tudo o que fazemos.
O fator humano também é de extrema relevância. Sempre demos o protagonismo para o time, algo que vemos os veículos e as revistas fazendo mais hoje, mas, há dez anos, isso ainda estava muito no início. Mesmo assim, já tínhamos esse viés de humanizar. Acho que encontramos um caminho muito feliz, um híbrido entre uma revista e um blog. Nós conseguimos ter a seriedade de um veículo e de uma redação, mas também a informalidade e a maneira de chegar ao público como um blog.
Hoje, o público quer se relacionar, falar com as pessoas, saber quem está por trás dos projetos. O veículo apenas é uma coisa fria, mas eu acho que conseguimos humanizar nossa redação.
Com a aquisição do Magalu, você virou Diretora de Conteúdo de Moda do grupo. Como tem sido essa experiência?
Eu brinco que o mundo corporativo é outro universo. É como comparar maçã com banana, são desafios completamente diferentes. Ainda atuo no Steal The Look e entendo que é muito importante eu seguir à frente do negócio como fundadora. Acho que meu papel no Magalu depois da aquisição foi formar o time e construir uma operação de conteúdo que não existia.
O STL foi adquirido em março, e eu assumi a posição em julho. Agora, pouco mais de um ano desde que assumi a função, acho que o Magalu já tem um outro caminho em termos de conteúdo, com o time e a vertical estruturados. A chegada da Silvia Machado, diretora executiva, também foi essencial nesse processo. Ela olhou para toda a vertical e está fazendo um trabalho incrível. Partiu de uma empresa que não tinha nada em moda e beleza para o Magalu de hoje, com números extremamente relevantes. Tem sido um desafio muito especial. Brinco que é o meu MBA.
Você também criou a plataforma Push, com conteúdos, eventos e mentoria para o empoderamento feminino. De onde nasceu a motivação e a vontade de desenvolver esse projeto?
O Push nasceu de uma forma muito natural. Pelo Steal The Look ter sido criado de um investimento de 30 reais, nos tornamos referência no quesito empreendedorismo feminino. As pessoas queriam saber como fizemos isso, e sempre compartilhamos muito sobre o nosso crescimento. Acreditamos que isso volta de outras formas, e aprendemos muito compartilhando o que sabemos.
Pensamos que, se mais mulheres passam por esse desafio de empreender, por que não ter esse momento de troca? E a ideia não é nos colocar num tom professoral, pelo contrário, porque acho que todo mundo tem algo a aprender e algo para ensinar. Então, o Push é um evento que fomenta essa troca entre profissionais. Estamos indo para a quarta edição no ano que vem, e as pessoas saem sempre muito inspiradas. Isso porque, diferente de outros eventos que só o palestrante fala, naquele tom mais professoral, no Push todo mundo tem algo para trocar. Todos estão passando pelos mesmos desafios, ou já passaram, ou vão passar.
Quando vamos empreender, é importante ter a referência de outros empreendedores que já passaram pelo processo, porque cada um vive desafios diferentes e muito particulares, e o empreendedorismo é muito solitário. Às vezes, temos um problema que parece bobo, mas só quem já passou vai saber sobre a importância de cada um desses momentos. Assim, tentamos ajudar e mentorar essas empreendedoras no início de suas carreiras.
Quais características ou habilidades você considera essenciais numa liderança? Como você as desenvolve e as alimenta regularmente?
Acho que uma característica muito importante é a curiosidade. Ela move as pessoas, porque sempre queremos aprender sobre diversos assuntos. Foi-se o tempo em que bastava estudar na faculdade. Temos que nos tornar eternos aprendizes, eternos estudantes. Acredito muito que a própria liderança deve ter essa curiosidade em todos os sentidos, para não cair numa zona de conforto ou não entender o que está acontecendo com o time. Também acredito muito no desenvolvimento do lado humano, porque, querendo ou não, o time se torna uma espécie de família, ou seja, as pessoas com quem mais passamos tempo na nossa vida.
Acho que é cada vez mais relevante a inteligência emocional, porque a parte técnica se aprende. Quando entrevistamos as pessoas para o Steal The Look, obviamente queremos saber da técnica, de onde elas vêm, o que estudaram, mas realmente acreditamos que tudo isso se aprende. Até porque o STL é uma coisa muito particular, as pessoas entram e passam por um “onboarding”, em que vão aprender tudo o que fazemos e nosso universo. Ninguém vai chegar pronto. Portanto, acho que a inteligência emocional das pessoas é o principal.
Você já teve algum tipo de sentimento de autossabotagem? Como lida com essa situação e quais dicas dá para as mulheres que se sentem assim nos projetos, áreas e lugares em que atuam?
Acho que autossabotagem, não. Mas todo mundo tem um pouco de síndrome de impostora em alguns momentos. Acho que é preciso trabalhar o autoconhecimento, para entender como passar por esses momentos e compreender que eles não são reais.
Isso é bem curioso, porque fui modelo dos 14 aos 19 anos, e essa é uma das poucas profissões do mundo em que as mulheres são muito mais valorizadas do que os homens. Talvez por ter tido essa trajetória profissional num momento de formação, como a adolescência, acho que nunca tive esse momento de me achar menos por ser mulher, ou qualquer coisa nesse sentido. Levo isso como lição de que precisamos trabalhar a autoestima feminina na base da educação, e não limitar ninguém por questão de gênero ou por qualquer outro ponto.
Falamos muito disso no Push. É preciso não se prender por qualquer limitação que se acredita ter, e realmente “botar a cara e ir para a rua”. Sempre falo isso para o time, porque entendo que as pessoas vêm de realidades diferentes, e alguns são mais introspectivos ou têm uma dificuldade maior. Mas acho que isso tem mudado muito. Vejo pelo nosso time: as mulheres do STL não têm receios por uma questão de gênero. Nosso time é bem “girl power”.
Quais mulheres inspiradoras você segue, lê e observa? Como elas te inspiram?
Há tantas mulheres incríveis. Mas, hoje, as que mais me inspiram são aquelas que estão no meu dia a dia. Minha irmã é uma mulher que me inspira muito. Ela é empreendedora também e, principalmente no último ano, teve que conciliar maternidade, empreendedorismo, e o marido doente. São nesses momentos que vemos a força que as mulheres têm. Elas realmente conseguem lidar com situações inimagináveis.
Sempre que me fazem essa pergunta, fico pensando “nossa, quem me inspira? Tem tanta gente distante que, às vezes, nem conheço de fato a história”. E, para mim, o meu time é a equipe de mulheres que mais me inspiram, porque eu sei o quanto elas fazem no dia a dia. Não tem como não se inspirar com quem está do nosso lado. Acho que quando lemos as histórias das pessoas, estamos vendo uma pincelada da parte boa. Quando olhamos para quem está na nossa rotina, convivemos e sabemos quem e o quê realmente nos inspira. Então, acho que eu citaria todas as mulheres que trabalham comigo.
Por fim, tem alguma dica de séries, filmes, livros e/ou músicas que consumiu recentemente e te fizeram refletir sobre a condição e o papel das mulheres na sociedade?
Um podcast que eu sempre escuto e adoro é o “De Carona na Carreira”, da Thais Roque. Acho que é uma super indicação porque são entrevistas com empreendedoras brasileiras. Inclusive, ela fez uma confraria do podcast e criou um grupo muito especial de troca entre empreendedoras. O trabalho que ela está fazendo é muito legal.
Uma série que fala do papel da mulher e da importância de observar alguns assuntos delicados é o The Morning Show. É uma produção que nos faz pensar muito sobre o ambiente de trabalho.
Estou lendo o livro “Let My People Go Surfing” (Lições de Um Empresário Rebelde), do Yvon Chouinard, dono da marca de roupas Patagonia, e está sendo muito legal. Vi que ele doou 98% da empresa para filantropia e, no livro, ele fala muito sobre os aspectos culturais da empresa. Pensando até no Magalu, eles têm uma cultura muito forte, e o Steal The Look também. Então, sem dúvida, acho que o maior atributo de uma empresa é a cultura, porque é como você vai atrair os talentos e como você vai retê-los. Adoro ler sobre culturas, até mais do que empreendedorismo.
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